Episódio de hoje da série  “A Rádio Nacional e os 50 anos com Brasília (19)”:

                      A Rádio Nacional de Brasília só faz 50 anos em 17 de junho de 2010.

                      Bem sei que esta prosa é muito da provocativa mas, mesmo assim, eu te transporto aos fatos que colocam em dúvida as já realizadas festas pelos 50 e 51 anos  da Rádio Nacional de Brasília porque ela só deveria comemorar o meio século de vida no dia 17 de junho de 2010 e nunca em 31 de maio de 2008.

                     As datas existentes nos arquivos são diversas, a começar pelo histórico cartaz, guardado no Arquivo Nacional (alguém tem que salvaguardar a memória radiofônica) e se refere, embora não pareça, ao então enorme terreno baldio no começo da W3 Sul, não o pequeno espaço ora tombado, em todos os sentidos:

                       Neste sábado de manhã, dei um pulo nos 50 anos da Escola Parque, onde os então desconhecidos Cássia Eller, Renato Russo e Ney Matogrosso eram arroz de festa, e tirei algumas fotos do espaço ao lado,  que   abrigou a primeira sede da Rádio Nacional de Brasília, sendo usado depois pelo  sumido Cine Cultura:

                       Pois aqui começo este meu arrazoado sobre os 50 anos incompletos  da  Rádio Nacional  de Brasília que começou, de fato, num barraco na 507 Sul, com um reles show, num palco improvisado, aí sim, no dia 31 de maio de 1958, porque  não tinha ainda sua orquestra que, depois da inauguração,  tocava nos bailes do Brasília Palace Hotel, para as autoridades e, nas horas de folga, nas quatro boates da Cidade Livre: Night and Day, Tirolesa, Bossa Nova e Chez Willy.

                           Para reforçar este meu arrazoado,  conclamo o testemunho do maestro Isaac Koolman, do Pedroca no piston, do Xandoca na bateria, todos moradores na quadra 39 da 712 Sul, mais o  Fernando Lopes,  Jesiel Mota e o cego João Tomé, este vindo de Uberaba, Minas Gerais, para fundar a Escola de Música de Brasília, todos, por sinal, nas asas da Real Aerovias  que o JK tentou mudar para Real Brasília Airways, mas acabou sendo tragado pela vassoura do Jânio Quadros, justo em 1960: ” Varre, varre, vassourinha … que o povo já está cansado … de aguentar … tanta roubalheira”.

                     Acabo de me lembrar do seu Joaquim, que também tinha sido da Orquestra da Rádio Nacional de Brasília e que eu conheci quando  comia capim, como contínuo na portaria da 701 Sul, como acontece com uma porção de velhos, desde os tempos do Palmeiras, na EBN, até o seu Severino, atualmente na EBC, que são testemunhas do tanto que, bom, deixa para lá, amanhã  você pode ser a próxima  pessoa velha a ser colocada no sexto cesto codinominado  “resquícios” ou  “restos a pagar”,  este usado no balanço da EBC com relação à Radiobrás.

                      Mas eu estava falando mesmo do quê? Ah… este danado do Alze alemão  Haimer está me deixando cada noite mais livre, leve e solto. Ah, acabo de me lembrar. Do que mesmo? Espere só mais um pouco que  agora eu tenho  a certeza quase que inabsoluta que … o quê mesmo?  A provocação deste episódio diz respeito aos 50 anos que a Rádio Nacional  de Brasília já comemorou mas ainda não completou, estou certo? Depois, o velho sou eu…

                            Já estou de saco cheio desta conversa, por isso vou pegar  meu Karman Guia, que uso desde o dia em que ele foi desprezado pelo JK, que preferiu   os chiques Simca Chambord na exposição no gramado da 701 Sul, na inauguração da Rádio e da TV Nacional. Ah … acabo de me lembrar, a inauguração foi no dia 17 de junho de 1960, é só ler o discurso do Juscelino, que está no arquivo da Presidência da República, qual o link mesmo, está aqui, do meu lado, fugiu, deixa que daqui a pouco eu mesmo acho, tá?

                      A festa de inauguração aconteceu no gramado  onde foram colocados os primeiros cinco automóveis JK e mais um Simca-Chambord trazidos direto da fábrica. O presidente JK, o Bossa Nova,  compareceu junto com autoridades, mulheres,  ministros, e até o populacho de sempre, atraído pelos globetes da época (astros da Rádio Nacional do Rio): Nelson Gonçalves, Emilinha, Pixinguinha, Dóris Monteiro, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Marlene com o sucesso “Isto é Lá com Santo Antônio”, de Lamartine Babo,  e muito mais, eu diria até o escambau.

                      Tem até uma placa que pode ser vista presa na parede de entrada da TV Nacional (NBR), no prédio da ex-Rádio Nacional, na 701 Sul, na W3, ainda que ela não esteja mais na entrada original, que ficava para o lado do Palácio do Rádio e não do Pátio Brasil. Aí tem mais confusão porque a placa diz que a inauguração foi no dia 4 de junho de 1960 (da Rádio e Televisão Nacional). Aliás, o terreno dado para o complexo de rádio e televisão estatal (Rádio e TV Nacional), ia da W3 Sul até o futuro Parque da Cidade. Aos poucos, cada diretor-presidente se desfez de um bocado, em troca de nada e hoje, só sobrou isso e assim mesmo porque está tombado:

                      Mas voltando à confusão de datas. A concessão do serviço estatal (hoje, diz-se público) para a criação das Rádio e TV Nacional foi assinado pelo JK no dia 23 de dezembro de 1959:

                 “O presidente da República outorga, outrossim, à Superintendência das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União concessão para estabelecer, a titulo precário,  estação de radio e televisão em Brasília, para operação com a Rádio Nacional.”

                      Lembro também que o primeiro programa levado ao ar na Rádio Nacional   de Brasília, direto da ex-poderosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, foi o do então famosérrimo César de Alencar que, na contra-revolução de primeiro de abril de 1964, dedurou, a la Simonal, uma porção de colegas, tanto no Rio quanto aqui, em Brasília, todos  despedidos, presos e/ou torturados, mas em compensação ele acabou não levando nada em troca dos militares. Bem feito!

                       Aliás, no próximo episódio desta série Os 50 anos da Rádio Nacional com Brasília, tem uns trecos interessantes para contar como, por exemplo, das vezes em que a Rádio Nacional  de Brasília foi invadida:  na rebelião dos sargentos, em 63,   na truculência dos coronéis, em 64,  ou  na famosa noite do  badernaço, no governo Sarney, em 83,  promovida pelos … deixa para lá, mano, afinal, hoje eles são todos aliados neste governo e a Rádio Nacional não é tão pública assim como aparenta dizer ser.

                      Mas só para terminar a prosa deste episódio, espero que com este meu arrazoado sobre o incompleto meio centenário da Rádio Nacional de Brasília eu não tenha  estragado a festa do ano passado, que aconteceu em sessão solene  na Câmara Distrital, que ainda não tinha decaído tanto que nem hoje, e por isso mesmo,   atente bem, ó servo do aquém, para não embarcar em canoa furada porque o Lago do Paranoá é fundo e turvo, apesar de sua aparente placidez, e isto está escrito nos anais daquela casa:

                     “A sessão terminou com muita música, enquanto eram lidas moções de vários deputados, entre eles o presidente da Câmara, Leonardo Prudente, homenageando 45 funcionários da rádio, sete deles in memorian.” 

                       Na verdade, a história acaba mal porque,  no ano passado,  ninguém sabia (ou não) do dinheiro escondido nas meias do dito presidente-vereador,  então homenageando a nossa Rádio Nacional  de Brasília, numa iniciativa  da distrital Eliana Pedrosa, em sessão presidida pelo deputado Geraldo Naves, ora preso na Papuda em meio ao grupo do qual não fazem parte, inexplicavelmente, os outros mensaleiros e aloprados  mil, tanto do vale esporte quanto do bolsa lote, todos irmanados na família camorrenta.

                       Para confirmar que não estou nem pensando em mentir, muito menos omitir, ou denegrir, quiçá distrair a atenção com uma leve fumaça assoprada para o alcance de tuas narinas ditas puras, leia então o relato original no clique abaixo:

http://www.cl.df.gov.br/cldf/noticias/musica-historia-e-emocao-marcam-homenagem-aos-51-anos-da-radio-nacional

                       Então, tá.

                       Em nome do Pai, do Filho e da Mãe.

                      Inté e Axé!