Tia Heleninha estragou a festa … 

Um ano sem Heleninha

Leia e escute aqui:

( Bg Bachianas de  Vila Lobos ) 

Tia Heleninha estragou a festa…

 ( Bg Bachianas de  Vila Lobos )

Noutro dia, estava eu no banheiro masculino, no porão da Rádio Nacional de Brasília e, por acaso, escutei a conversa de algumas almas, no banheiro feminino ao lado, unidos pela janela que nos leva os pensamentos para além dos comezinhos do nosso trabalhoso dia a dia. A partir desse corriqueiro fato tornei-me sócio de um segredo. Agora, Tia Heleninha, porque estragaste a festa, eu conto:

( Bg Bachianas de  Vila Lobos )

Mostravas, então, a duas ou três amigas, e isto soube pelas palavras que ouço, áudio memorizado sem imagem, que estás achando muito bonita a peruca que  havias comprado para acompanhar os radioterápicos procedimentos, com o que o espelho concordou tão emudecido quanto a minha surpresa ao saber do teu desconsolado segredo. 

( Bg Bachianas de  Vila Lobos )

Não ouvi qualquer comentário da minha parte e nem das almas que se faziam cúmplices deste manhoso drible da vida. Calado continuei, inclusive ao nos cruzarmos, como acontecia ao meio dia, tu sentada na calçada em frente ao prédio, de chegada, e eu, de saída. Agora, invertemos o processo.

( Bg Bachianas de  Vila Lobos )

Apenas te olhei, nada comentei, afinal, pediste segredo. Inclusive, tão segredo que não sabias do porque daquele meu olhar. Heleninha, a minha parte eu cumpri. Mas  tinhas que estragar a festa? De qualquer forma, ainda te olho, tá? Mamcasz.

( In memoria da Heleninha Bortoni. A notícia da passagem dela chegou naquela mesma manhã da festa junina, no porão da Rádio Nacional, Brasília e Amazônia. Inclusive, já estavam dispostos os doces e salgados no mesão à espera dos que, ora, deixemos tudo para lá. Daí a razão do titulo: Tia Heleninha estragou a festa!)

 

Outra oferta às mulheres da Rádio Nacional

Se você tem ouvidos para ouvir então dê um clique a seguir:

  

  

 Mulher Fantasma Photo by Mamcasz

                           Ao mano Tim Lopes

 

                          Esta Assembléia é dedicada a um velho amigo com quem iniciei as lides jornalísticas, no Rio de Janeiro, ambos escriturantes em O Globo e dividintes de uma casa num zigue-zague de Santa Teresa que descia direto para a piscina da ACM, ao lado da Sala Cecília Meireles, na boca da Cinelândia, perto da Rua do Riachuelo, onde foi nosso primeiro contato, num consultório urológico, no desenrolar do tratamento de uma precoce gonorréia. 

                            `A noite, descíamos juntos até à Gafieira Elite, na Praça da República. Sol claro, ele repórter se fingia operário na construção do metrô, Estação Largo da Carioca. Sua pele escura ajudava. Então, eu repórter passava por ele, minha pele clara realçando o jornalista. Ele me olhava, segurando a marreta, no lugar da caneta, esta manobrava muito melhor. Fingíamos um não conhecer o outro. Neste item, de propósito, eu caprichava no falso desdém. Em casa, no dividir as frutas da feira, ele chiava:  

                         – Pô, polaco – era assim que me chamava . 

                        – Que foi? 

                        – Não precisava me esnobar  de verdade. 

                   No dia 2 de  junho de 2002 , Tim Lopes  desapareceu durante uma reportagem sobre tráfico de drogas, sexo explícito e aliciamento de menores em  bailes funk na Vila Cruzeiro,  Penha. Dias depois,  o veredito :  Tim havia sido condenado pelo “juiz” Elias Maluco a morrer esquartejado a golpes de espada. Durante a sentença, meu amigo e fantasma-mor  levou tiros nos pés que tão bem usava na gafieira Elite, a nossa preferida. 

                Amarrado e espancado pela quadrilha, os pedaços do corpo foram queimados dentro de um pneu sem câmara e enterrados no alto da Favela da Grota, em Ramos, dele restando de lembrança apenas alguns resistentes pedaços de ossos e poucos dentes, agora sem a alvez  caraterística que endossava o sorriso que  encantava  minhas meninas concubinas. 

                Não à toa o antigo conselho: 

                – Polaco, antes de tudo, a gentileza. É disto que elas precisam. 

               Ao chegar de viagem pelo sul da África, onde me lembrara dele, por sintonia colorística, a primeira notícia que li, ao abrir, ainda no avião, a notícia tupiniquim, foi a dele, a última, sem direito aos textos que  tanto burilava até encher o saco de tanto pedir opinião para que  fala combinasse com cala e rimasse com vala sem perder o conteúdo da reportagem fina, concisa e elegante. 

              Em sua memória, amigo Tim Lopes, vou dar linha à pipa e, porque o vento agora sopra a nosso favor,  faço uma greve nesta minha polaquiana imagem. 

                         –  Um beijo no seu coração ! 

                         – Larga o microfone, Polaco ! 

                         – É todo seu, Tim Lopes ! 

Boas Férias,  Raimundo.

Nonato se vai. 

Voa. 

Sobrevoa Gurguéia. 

Respinga a alma no Parnaíba. 

Ri de nosotros. 

Tô de saco cheio de ditar memórias 

Dos outros. 

Dói. 

Êta porão que não acaba nunca. 

Êta vida besta. 

Êta lista longa. 

Fantasmas da Rádio Nacional! 

 Velai por nós. 

Livrai-nos desse estresse infindável. 

Amém. 

  

( + In memoria de Raimundo Nonato ) 

Ao Adriano que se foi adiante de  nós

  

Na madrugada…
O amigo morrendo…
Sem saber…
Pesadélo…
Flor abafa meu grito
E dá um basta às reticências.
No Pré-Campo de Dona Esperança, a Boa,
Ei-lo,
Enfim libertado da Lista dos Idos-
Demitidos…
Revolvo-me no antigo projeto –
que insiste no atual começo
deste ponto, nunca final,
deste meu ex- livro :
Fantasmas da Rádio Nacional.
Não é choro
pelos que vão;
Nem vela
Pelos que ficam.
Lista longa:
-De Amigos ?
-Certo !!!
-De Inimigos ?
-Incertos …
E diante da fleuma dos Novos Cristãos.
São … seu ímã …
Ou, quiçá,
Sua Mãe ? 

  

( In Memoria de Adriano Gaierski ) 

  

  

Amigo Jardim!

Viver é assim mesmo. 

A gente olha para um canteiro e fica com dó  daquela flor que  está tão bela  e hoje  murcha. 

Este é o maior  engano que a gente sempre comete. 

Acontece que a flor,  agora murcha de vida,  acaba de frutificar novas sementes. 

E agora, estas sementes continuam a viagem daquela flor que, ontem, também uma das sementes, neste nosso Jardim da vida. 

A flor  continuas sendo tu, meu amigo Jardim. 

Por isso, eu não estou triste com a tua passagem e te convido para escutarmos juntos, em tua homenagem, a música: 

“Let’it be”… 

Jardim,  dê um abraço, por mim, no John Lennon. 

Continues na tua livre viagem na paz dos Beatles. 

Diz para ele que sou o teu amigo 

( In memoria do Jardim ) 

Ao mano Jonas

 A última do Jonas - photo by Chiquinho 

A última foto do Jonas em Belém do Pará. Como dizia o mano Tim Lopes: “uma cadeira vazia no bar, um vazio na gente.” 

Com o Jonas, jeitão difícil, tipo fechado, eu converso muito e sei da revolta toda que vai por dentro dele. Mas, sobre esta “imensa” viagem a Belém, eu  só vendo a festa dos que fazem o Forum Social Mundial. E voltam felizes. Procuro não me manifestar para não estragar o coro dos contentes. Mas sei das dificuldades operacionais, dos barcos usados sem colete salva-vidas e da sobrecarga de trabalho. Será que as diárias de viagem saem a tempo? Mas diante da alegria geral, prefiro me resguardar. Agora, com esta do Jonas, porra: 

– POR QUE SÓ JORNALISTA E CHEFE VIAJAM DE AVIÃO? 

Aqui me completa um triângulo que conto só para você. Naquele acidente do avião da Gol e o Legacy,  em que dois da Radiobrás morrem, antes da viagem um deles chega para o velho subalterno e diz assim: 

– Se você não for (Tabatinga-Amazonas) eu te demito. 

E ele (o seu William, morto semana passada e a quem eu conheço desde a década de 80, na EBN), responde: 

– Eu vou e morro do coração. Não posso. 

– Então, na volta a gente conversa. 

Moral. O outro vai e morre. Na queda do avião. Agora, o Jonas volta, Belém-Brasília, carro apertado, no meio de uma porção de equipamentos (quem é o chefe dele? aposto que volta de avião, no domingo). Só o Mano Jonas não chega. Ele ainda fala assim comigo. Mamcasz. Para dar jeito nesta merda toda, só os mano, porra. E eu respondo: 

– Estou  te botando no livro. 

– Que livro? 

– Os Fantasmas da Rádio Nacional. 

– Vai te foder! 

Mas a única coisa que consigo é que saia esta nota: 

“ Comissão de Empregados da EBC – 

NOTA DE PESAR 

 É com grande pesar que a Comissão de Empregados da EBC lamenta a morte em serviço do operador técnico Jonas Moreira de Carvalho, ao mesmo tempo em que estende a solidariedade aos amigos e à família enlutada, neste triste momento. 

 A morte ocorreu no percurso de volta da cobertura do Fórum Social Mundial, de Belém (PA) para Brasília (DF), quando o empregado era transportado de ônibus, em condições que requerem a adoção de procedimentos legais por parte da EBC. 

 Mesmo que o caso seja um infeliz infortúnio, por causa do infarto, a Comissão pede explicações sobre os motivos que levaram a apenas uma parte da equipe realizar o trajeto de ônibus, e não de avião, como os demais. Pede, ainda, uma auditoria que apure em que condições físicas esta viagem estava acontecendo. 

 Além das explicações e da auditoria, a Comissão solicita ainda que a empresa apresente, em uma prazo de 30 dias, um plano de medidas com revisão nos critérios de viagens e implementação de uma rotina para a realização de exames médicos prévios voltados para os profissionais escalados para coberturas fora da sede da empresa. 

 De qualquer forma, a Comissão lamenta a morte de Jonas em serviço, confia que a EBC esteja tomando as medidas cabíveis neste triste momento e estende as condolências aos amigos e familiares dele. 

A Comissão dos Empregados da EBC 

Brasília, 05 de fevereiro de 2008  ” 

( In memoriam do Jonas ) 

Funcionário da Rádio Nacional finalmente é promovido a um outro patamar de  vida 

  

 O Wanderson era uma mistura de pai de santo com diretor de escola de samba. 

 Na verdade, o era, inda que em parte. 

 Gordo, moreno quase preto e boa praça. 

 Um fato que dele me resta na memória foi quando voltei de um giro pela África. 

 Ele me pediu uns sons de tambores e atabaques, surdos e repinicos. 

 Repliquei que eu os tinha, e os passei, mas todos de origem árabe-islâmico. 

 Ficou deslumbrado. 

 Disse que ia usar. 

 Não sei se no terreiro ou no ensaio da escola. 

 Agora, tenho uma certeza. 

 Desde este final de semana, o Wanderson, ex-chefe da técnica da Rádio Nacional, em Brasília, está com todo o tempo do outro mundo, para onde ele se foi, para escutar todos os tipos de som que ele adorava: do samba ao zoado das feiras livres. 

 Por isso o título acima: 

 Funcionário da Rádio Nacional (Wanderson) finalmente é promovido a um outro patamar de vida. 

 Mais além. 

 Ah … a photo é do Chico Mendes, dono do maior obituário vivo da EBC-Rádio Brazil. 

 Curta a paz, Wanderson. 

 Inté e a Axé! 

 Pena que não mereceste nem um EBC Informa das atuais ex-chefias da Rádio Nacional, quer dizer, Rádio Brazil. 

 Junte-se aos outros  (acima): 

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Homenagem póstuma a Antonio ARRAES:

https://mamcasz.wordpress.com/2010/09/15/meu-amigo-sempre-foi-um-chato-morreu/

  Adeus, Arrais

Arrais era uma pessoa ímpar. Apesar do jeito ranzinza, tinha um coração enorme e não se furtava em dividir suas descobertas literárias e musicais com qualquer um na redação. Conhecedor de jazz e amante da literatura, era raro o dia que ele não chegava com uma novidade embaixo do braço. Sentirei saudades das piadas, do jeito mal humorado, dos livros encapados em folhas de revista (para não sujar, dizia ele) e dos muitos bate-papos.

Lílian Beraldo

Ainda estou chocado, como a maioria deve estar.

Conheci o Arrais como fonte. Ele estava na PGR. E era fonte das boas – daqueles que por terem sido bons repórteres valorizavam muito a função. Nos reencontramos na EBC e numa das várias conversas que tivemos o assunto foi justamente a morte. Um colega acabara de falecer e ele teria que transformar em palavras todo o sentimento confuso que ainda nos dominava. E lembro que conversar com ele foi muito consolador. O texto saiu magistral mais uma vez. Mas foi aquele olhar solidário, paternal, que me marcou mais. Lembrar daquele olhar me consola novamente. E me impele a elevar meu pensamento ao céu pedindo que a passagem dessa para a outra vida seja tranquila, apesar de tão abrupta. Peço que todos façam o mesmo pois nessa hora cada oração é uma luz que se acende no longo caminho. Salve Arrais!

Lincoln Macário

Arrais era sempre um bom motivo para ir para a redação. Vou sentir falta de nossas trocas, que iam do do jazz aos “malditos” da música brasileira. O seu lado politicamente incorreto é insuperável. Quando ele voltou para a redação, meio contrariado, depois de passar um tempo na presidência da empresa, tive que pedir licença a ele par ficar feliz. Disse: vc pode estar chateado por voltar, mas me dê o direito de ficar feliz por poder usufruir de sua presença aqui com a gente! Não sabíamos que era por tão pouco tempo!

Luciana Lima

Segue um breve desabafo,

Hoje perdi um grande amigo. Um cara que por trás de seu mau humor crônico escondia uma pessoa extremamente tímida e de um coração que não cabia no peito. Um amigo que, na mesa de bar – mais especificamente do Cyber -, adorava falar sacanagem e sempre tinha uma piada nova na manga da camisa. Um amigo que, como poucos, sacava muito de Fórmula 1 (sua paixão), jazz, blues, Clarice Lispector e outras boas leituras. Um amigo que escrevia como poucos, texto limpo. O falecimento de Antonio Arrais me remete a uma conversa que tive há tempos onde minha esposa quando me falou: “Marquinhos, mesmo que você discuta e se cheteie com uma pessoa, sempre se despeça dela com um abraço. Se não der, pelo menos de forma cordial. Você [nem ninguém] nunca sabe se voltará a vê-la novamente”.

É isso aí,

Marcos Chagas

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Ao próximo

Uma resposta to “Do ido”


  1. otimo encontro com seu site, graças facebook, só assim encontramos aqueles que não vemos mas, só nossos coração. surpresa, inrreverente e poetico. o fundo musical é impar , sucesso

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