Je t`aime mas nem tanto, mon amour…

           Se tem coisa que francês mais gosta na vida é comer…

          Comida.

          Tem até a frase:

         A comida é para saciar a alma … nunca, a fome.

         Por isso, a comida de hoje, é a espiritual.

         Nesta undécima volta a Paris, vou rever o muro do je t`aime.

         I Love you, babe,  escrito na pedra em mais de 320 das quatro mil línguas existentes neste mundo surgido na Torre de Babel.

     É eu te amo para tudo que é lado.

     Mas, afinal, tem lugar melhor do mundo do que Paris para dizer je t`aime, mon amour?

    Pode ser no creole de Martinica: a-mi-to-ma-ké-ba-lo-ba-chi.

    Ou então no creole do Haiti: moin-rin-mim-oi.

   Tem o creole da Bahia: tô-na-tua-tá?

    E na língua tonga, aquela do Vinicius de Morais, na tonga da mironga do cabuletê, em que se diz eu te amo assim:

    – O-kou-o-ou-o-fa-la-ki-a-tiu (ou dá ou desce). Saravá!

            O muro je t`aime em questão, em Paris, fica para os lados do Montmartre dos Van Gogh, Picasso, Monet, Modigliani e uma porradésima de gente famosa, depois  virada pó.
Metrô Abesses. 18, como se diz. O mais profundo da capital francesa. Square, ou Quay Jéhan Rictus.

            Oui, ma petite femme, je t`aime, mas nem tanto, tá?

            Bisou!


Aqui na  “rádia” me olham com escárneo quando eu juro que não estou torcendo pelo Braziuuuuuuu!

– Mas tu não és patriota?

Claro que eu sou, penso em responder, mas não na hora de calçar esta pátria que me pariu com chuteiras multinacionais.

E tem mais:

O placar da FIFA informa:

Rios voltam a subir no Nordeste.

24 mortos em Pernambuco.

30 mortos em Alagoas.

Mais de cem mil desabrigados.

Por isso tudo é que eu não entendo o grito da malta:

– A gente já é EX !!!

Seria hexa?

 Ou équiza?


                  Coloquei o post aí abaixo, agora há pouco, falando dos militares e dos ongueiros brasileiros, uns mortos, outros feridos, lá no Haiti.

                  Agora, chega a notícia confirmada.

                  Dona Zilda Arns, tão amada e conhecida pelo trabalho na PASTORAL DA CRIANÇA, foi pega de surpresa pelo terremoto no Haiti. Ela estava na base militar brasileira naquele país. Tentava oferecer, além da espada, o pão, ainda que bento pela cruz, mas, neste caso, para matar a fome do povo.

                  Uma vez entrevistei Dona Zilda Arns, aqui na Rádio Nacional, quando ela passava o arquivo completo da Pastoral da Criança e do Idoso, para o falecido programa FOME ZERO. Noutra vez, em Salvador, no Congresso de Turismo Sustentável, onde ela acusou, outra das muitas vezes, a exploração sexual das crianças brasileiras. Muitas delas, mortas ao nascer, por conta da pobreza, com certeza dona Zilda está   reencontrando, agora mesmo, noutros páramos.

                     


                      Primeiro, uma perguntinha que corre pelo Rádio Corredor:

                                   – Quantos a Rádio Nacional está mandando para o Forum Social Mundial de Porto Alegre e quantos para o Haiti, onde há militares brasileiros mortos e ongueiros brasileiros feridos.

                                  Segundo, em sendo o Haiti um país muito do católico apostólico romano, está difícil de ver uma ambulância nas imagens. É o povo por conta dele mesmo.

                                  E cadê as ambulâncias dos onze mil militares de 16 países, inclusive o Brasil, que estão ocupando o Haiti, desta vez, desde 2004?            

                                 – Afinal, o Haiti fica onde mesmo? (Esta é para responder ouvindo Caetano em O Haiti … é Aqui). Clique e ouça, através da Rádio Mamcasz, no podcast, o Trocando em Miúdo do Haiti:

http://www.podcast1.com.br/canais/canal1618/MIUDO_MAMCASZ_HAITI.mp3

 

Haiti.
Hoje, novamente destruído.
Desta vez, por onze terremotos.
Acontece que o Haiti já estava destruído economicamente há muito tempo.
Está ocupado por onze mil militares de dezesseis países, entre eles o Brasil desde 2004, quando o mundo prometeu a liberação de muitos recursos para a reconstrução do país.
A maior parte do prometido não chegou.
O Haiti continua sendo o país mais pobre das Américas.
Segundo relatório do Fundo Monetário Internacional, mais de oitenta por cento da população sobrevivem abaixo da linha da pobreza, muitos situados na chamada pobreza extrema.
De cada três haitianos, dois continuam desempregados.
A taxa de analfabetismo é de 50 por cento.
A expectativa de vida, de 51 anos, quase vinte anos a menos do que os outros países latinoamericanos.
Tem muito mais coisa acontecendo além do terremoto no Haiti.
Segundo relatório da UNICEF, pelo menos 250 mil crianças vivem no Haiti em regime de servidão, que é a escravidão moderna.
E olha que o Haiti, em 1804, foi a primeira colônia dos europeus a ficar independente nas Américas.
Foi numa revolta de escravos que venceram as tropas unidas dos franceses, ingleses e espanhóis.
Todos de olho na então Haiti que era, no século 17, a mais rica colônia das Américas, por conta do açúcar, que disputava mercado com outra colônia famosa na época, que era o nosso Brasil.
Muita coisa mudou no Haiti desde aquela época de riqueza.
A partir de hoje, com o terremoto, fica mais difícil ainda sua reconstrução.
É coisa para menos arma e muito mais dinheiro.
Então, inté e axé, tá?

                

Acima, Exu. Mais acima, a Cruz. No meio, a Espada. E o povo do Haiti, adonde fica?


 

os pretos de paris 15- photo by mamcasz

Paris tem preto pra caramba. Nem sempre numa boa. Tem os degredados das ditaduras corruptas africanas. Mas pouca gente sabe que quando Napoleão, o imperador Bonaparte, que hoje dorme no palácio dos Invalides, vendeu o estado de Louisiana aos Estados Unidos, mais de 50 mil escravos, então libertos, vieram direto aqui para Paris, para escapar da horda branco-azeda que daria na Guerra Civil Americana.

os pretos de paris 0 - photo by mamcasz

Depois, foi a fase dos artistas negros do jazz  que quando em decadência fugiram para Paris, porque aqui eles teriam um bar, mesmo que sujo, para tocar, em troca de um quarto imundo mas com direito a algumas fileiras de cocaína regada a uma bebida forte qualquer, mesmo que o rum, menos o vinho que é bebida de branco, sem contar o adicional de uma loireba, que sempre aparecia para esquentar os ossos do preto cansado.

os pretos de paris 22 photo by mamcasz

Não a toa que todo dia, ici a Paris, eu sempre escuto a Rádio FM Saint Paul, que só toca jazz negro, dia e noite, sem parar, da melhor qualidade, meu.

Por isso, hoje, AOS PRETOS DE PARIS, a homenagem é aos artistas de fato. Em 1948, ano do meu nascimento, Baldwin se mudou para Paris, onde se juntou a um grupo de escritores e artistas negros, que incluiu Chester Himes, Richard Wright e Ollie Harrington. E principalmente a minha nega maior: Josephine Baker.


os pretos de paris 20- photo by mamcasz

No Jardim de Luxemburgo, sede do Senado da França (liberdade, igualdade e fraternité) tem o monumento aos pretos libertos, na forma de uma corrente quebrada.

Pois bem. Quase ao lado dele, tem um operário, um negro, bien sûr, fazendo a limpeza, poeira de pedra ao vento, ele sem qualquer proteção das vias respiratórias ali tão históricas.

Na placa, a grande informação, aliás, duas:

1 – No dia 4 de fevereiro de 1795 houve a primeira declaração de abolição da escravidão nas colônias francesas.

2 – No dia 10 de maio de 2006 (isto mesmo, madames e monsieurs, 10 de maio de 2006, houve a primeira comemoração de fato, em Paris, pela libertação dos escravos.

Então, para ir finalizando esta passagem pela Cidade Luz, vamos a algumas sequências do aqui chamado AOS PRETOS DE PARIS:

os pretos de paris 8- photo by mamcaszos pretos de paris - photo by mamcasz