Em 2020, Ano do Rato, ficamos presos em Berlim, no pique da Corona-China. Voltamos para o Brasil num vôo de emergência. Agora, 2022, Ano do Tigre, estamos de volta. Berlim continua a mesma? Não. Tem mais gente dormindo na rua. Por isso o título: DO INFERNO AO INVERNO EM BERLIM. VERÃO. Então nos siga nesta continuação do nosso livro “Diário Pandemônico – Berlim Ano Zero.”

Pandemie-Tagebuch – Berlin Jahr Null.

Im Jahr 2020, dem Jahr der Ratte, waren wir in Berlin gefangen, im Hecht von Corona-China. Wir kehrten mit einem Notflug nach Brasilien zurück. Jetzt, 2022, Jahr des Tigers, sind wir zurück. Ist Berlin immer noch dasselbe? Nein. Es gibt mehr Menschen, die auf der Straße schlafen. Also der Titel: FROM HELL TO WINTER IN BERLIN. Dann folgen Sie uns in dieser Fortsetzung unseres Buches “Pandemie-Tagebuch – Berlin Jahr Null”.

From Hell (Inferno) to Winter (Inverno) in Berlim.

In 2020, Year of the Rat, we were trapped in Berlin, in the pike of Corona-China. We returned to Brazil on an emergency flight. Now, 2022, Year of the Tiger, we’re back. Is Berlin still the same? No. There are more people sleeping on the street. So the title: FROM HELL TO WINTER IN BERLIN. SUMMER. Then follow us in this continuation of our book “Pandemic Diary – Berlin Year Zero.”

Velho polaco baiano, estou agora de novo em Berlim (2022 – Ano do Tigre). Primeiro Mundo? Mais ou Menos. More or Not. (+ or -). Ôxe. Traduza-me, Gúgui. pro Alemão, tá? Volto acá depois de dois anos. Na última, saio abatido (2020 – Ano do Rato), depois de três meses preso no pico da então “Coronachina do Morcego”. No ora, cada reencontro é um abraço caloroso. Coisa rara no espírito germânico. Você? Vivo? Ya! Sim! Yes! Nossa! Uau! Outro abraço. Quem diria.

Mas tem as ausências, tipo a “Bonitona”, o “ Mãozinha”, ainda bem que ontem, no Sandman, encontro a “Russinha”, no antes bela na guitarra do rock e hoje cadente. Pergunto: E aí? E ela: sabe como é. E eu: Não pense no hoje. Espere o Amanhã. To morrow. Não morre. E completo: Posso te abraçar? Ela praticamente desmaia em meu abraço. Ao lado, o “Ciganinho”, dez anos em Berlim, vindo do interior, do lado ocidental, nos olha. Ele ressurge aos poucos. Prepara novo disco. Para quando? Ano que vem, 2023, no Verão. Agora, Inverno. E eu: Inferno. E ele: Posso usar isto no próximo disco que estamos preparando? Lógico. Dank. Imagina, meu. Mas usar o que meu caro Tim K?

DO INFERNO AO INVERNO EM BERLIM. VERÃO!

Gente. People. Cara. Mina. O que eu quero, mas não começo, na dúvida, a falar aqui, agora, não é nada disto, mas o que acontece na saída do Sandman, noitada de toda segunda, aliás, quando a gente ressuscita, na chegada, dois anos purgando o fechamento, filho do dono, no balcão, só falta largar tudo e vir nos abraçar.

– Vocês? Vivos?

– And you???

Quando o pai dele chega, o Helmut, fala no ouvido:

– Vai lá e abraça este casal brasileiro de volta.

– Vivo?

Ora. Revividos. Por pelo menos mais três meses. A prima cerva é por nossa conta. O preço subiu. Sabe como é. A Corona. Outro abraço. E a vida continua. Nós, na mesma mesa de antes. Mas o que eu quero mesmo falar aqui neste reblogado é o seguinte:

Estamos de saída, rua escura, perto do meio da noite, Neukolln, bairro tido turco, a caminho do metrô, linha não considerada segura, por conta dos usuários, nem todos migrados, verdade se diga. Após o tapume da obra, no quase escuro, escadaria abaixo, frio medido na garganta, encontro-me com na re-volta, ao contrário, pois no antes, acá em Berlim, sempre me entendi com as crianças. Agora, entendido estou com as velhas sobrevividas. Pois este é o fato. Volto pois ao início do dito deste Ano do Tigre (2022), nem tanto, ainda não redimido do Ano do Rato (2020). Pois recito o havido nesta meia-noite acá em Berlim dos sempre quase Mil e Um Anos:

Na descida da escada, no meio de jovens pseudo-hippies-nerds-punks-etc&tais, ladeio-me a uma senhora, velha, decaída, sim, mendiga da noite e da rua. Ela tenta cada degrau abaixo, apoiada no carrinho cheio de coisas catadas no lixo, viu, Berlim não é Primeiro Mundo. Lógico que eu estaco, encosto, olho nos olhos, ofereço ajuda para a descida da velha mendiga alemã, ela, lógico, não entende meu brasileiro nem eu o germânico dela. Quer dizer. Na hora, em dois gestos, tudo fica claro. A mendiga alemã (no gestual):

– Pode deixar, polaquinho. Eu consigo descer sozinha. Obrigada, tá.

E eu, polaco baiano:

– Tudo bem, mina. Pense no Amanhã. Não no Ontem, muito menos no Hoje. To Morrow.

Eu fui. Ela veio, bem no lentamente. Lá na frente, na espera do metrô, mais demorado no começo da madrugada gria, eu sentado ao lado da Ma Dame, a quem conto o Corrido, de repente passa pela gente a Querida Velha Mendiga Alemã. Ao lado dela, o carrinho com os achados no lixo, que também serve de muleta. Pois agora confesso a minha emoção nesta volta a Berlim, depois de dois anos daqui saído no Pique da Covid.

Concluo:

Ao passar por mim, agora sentado, a Velha Senhora Mendiga Alemã, aqui em Berlim, 2022, Ano do Tigre, pós Pandemia, ela elegantemente me faz um sinal, com a mão direita, livre da bengala, que entendo de imediato como de Amizade, Agradecimento, Reconhecimento, sei lá o que mais. Nobre, a velha senhora mendiga berlinense alemã se volta para mim e sussurra:

  • Cuide bem de Madame porque aqui é muito perigososo para gente de bem que nem você.

O turco, o indiano, a ucraína, o sírio, o africano e os representantes das 190 nacionalidades perambulante em Berlim, eles continuam indiferentes, bem germânicos. Postados ao longo da estação, eles não percebem. Ou fingem. Eu só sei de uma coisa. Nesta noite, ela, a velha senhora moradora de rua neste Inferno de Berlim, com certeza, vai dormir sonhando comigo. Espero que minha ação a aqueça de alguma forma. Porque está frio. No Corpo e na Alma.

Inté e Axé. Tschuss, né.