Perto de casa, aqui mesmo na quadra, tem três mercados. Um, mais caro, muito usado no cartão corporativo nos tempos de Lula-Dilma. Outro, tão caro, mas com produtos bons. E, enfim, o mercado mais pobre, da turma das 400 – quem é de Brasília, sabe o que é isso. Bem no estilo carioca do subúrbio. Para mim, que já morei em Bonsucesso e na Tijuca, é o melhor dos três. É onde estamos agora.
Ao final das compras, na verdade quase nada, é mais pelo encontro, não tem mais sacola de plástico, cada qual com a sua bolsa debaixo do braço, na fila do caixa dos acima dos se senta – não, obrigado, senta você – chega o velho empregado que ajuda a embalar. Chega cantando, todo alegre. Cantando o que? Pois aqui começa a nossa prosa:
– Conheço esta música, meu amigo.
– É Cartola.
– Não.
Depois de várias jogadas, a fila da velhice, no mercado estilo subúrbio do Rio, afinal, os prédios de três andares, sem elevadores, nas 400, foram destinados aos empregados tipo ascensorista, faxineiro, contínuo e outros nobres obreiros que fizeram Brasília, mas sem direito a morar nos prédios das 100, 200 e 300 – todos com seis andares e oito elevadores, cada um.
– Bom, polaco, volte à prosa na fila dos velhos.
– Seguinte, gente. Ele está cantando uma música da Maria Bethânia.
Para que. Foi uma farra danada por parte dos velhos, senhoras e até duas senhoritas na fila porque são arrimo das avós presentes, alquebradas mas coerentes.
– Polaco sem vergonha. Conta outra.
– Posso falar?
– Um minuto!
– Nosso amigo aqui, auxiliar do mercado, gente fina, está cantando a música Loucura, do mestre gaúcho Lupicínio Rodrigues. A mesma música que eu estava ouvindo em casa, antes de escapar de Madame só para me encontrar com vocês aqui, e depois ali no botequim, pois então, a mesma música estava sendo cantada pela baiana Maria Bethânia.
Pronto. Recebo no ato o abraço da velhinha mais próxima, o sorriso da neta, e o reconhecimento do resto. A gerente, novinha, moreninha, a gracinha de nós velhos, só olhando, sorrindo, ela tem duas filhas pequenas, todos demos lembranças:
– Os tios não acham que está na hora de andar um pouco por aí?
– Sim, senhora!!!
No lado de fora, a conversa sobre Lupicínio Rodrigues continua, com a participação até do auxiliar do mercado, conhecido de todos, ajuda no carrinho até o apartamento das mais necessitadas e tudo. Pois todos trocamos informações, tais como:
1 – Discos completos só com músicas do mestre Lupicínio. Tem um da Adriana Calcanhoto, com 17 músicas. Outro com o Noite Ilustrada. Com Ayrton Montarroyos. Com o Roberto Menescal. A peça de teatro Vingança – o Musical, só com músicas do mestre dos pampas. Sem contar o disco Grandes Compositores – Lupicínio – Soft Orchestra.
– Chega, gente. Preciso ir.
– Ih. É mesmo.
– Tá com medo da Madame, Polaco? Volta …
– Ih. Esta música eu adoro na voz da Gal. Maior “Felicidade”, esta na voz do Caetano.
– Eu gosto da música do Lupicínio “Se acaso você chegasse”, na voz da Elza.
– Nervos de aço!
– Êpa, meu. Esta é do Paulinho da Viola.
– É o que você pensa, carioca vice de São Januário. Pois Nervos de Aço é do Lupicínio.
Foi assim. Até que cada velho, ou jovem senhora – somos educados – foi saindo, devagar, por suposto, mas todos cantando, cada qual a sua música predileta do grande Lupicínio.
Chego em casa, desta vez sem parar no boteco, mais do que atrasado, sabe como é…
– Estava onde, polaquinho?
– Agora não posso falar.
– Por causa de que?
– Alexia!!!
– Sim, meu polaco.
– Toque tudo do Lupicínio Rodrigues.
– “Se acaso você chegasse no meu chateaux
Encontrasse aquela mulher que você gostou.
Será que tinha coragem de trocar nossa amizade
Por ela, que já lhe abandonou?”
– Alexia!!!
– Quié?
– Muda!!!
E Madame:
– Acho bom!
Em Brasília, 08h54m desde 01/02/23. Ah. Este post vai para meu amigo de Alegrete, o gaúcho escritor e viajante, o Marçal Alves Leite. Com o adendo, velho gremista:
– A penúltima faixa do disco “Loucura”, da Adriana Calcanhoto, só com músicas do Lupi, pois então, a penúltima é justamente o Hino do Grêmio, escrito justo pelo Lupicínio Rodrigues.
Já está nas bancas de jornais (?) nosso novo livro. A Berlim do Pandemônio também pode ser lida no formato e-book (?) nas principais distribuidoras, em todo o mundo. Ou encomendado para impressão. Assim, economizamos papel. Outra coisa: as trinta primeiras páginas podem ser lidas, totalmente de graça. Basta clicar no link (?) abaixo, do Clube de Autores. Que mais? A Sinopse do livro, a original, adiantamos aqui:
Um grito no pé da orelha
Nosso diário íntimo nesta Berlim do Pandemônio foi escrito pela dupla de risco Polaco & Madame, por termos mais de 70 anos de Ida, aliás, bem vivida.
Ele mostra o que acontece com a gente nos meses de março, abril e maio do ano do Rato, 2020, enquanto confinados em Berlim.
Continua nos meses de setembro, outubro e novembro do ano do Tigre, 2022, na mesma Berlim, agora na condição de libertos.
O espaço do tempo (junho de 2020 a setembro de 2022) passado em Brasília, totalmente presos, preferimos deixar no modo silencioso. De fato, ainda continuamos na insegurança e inquietude em cima do infindo porvir cheio de pânico e incerto medo, certo?
Justo Berlim porque é nosso pouso rotineiro nos últimos tempos, na verdade desde antes da queda do famoso Muro que dividiu, por mais de meio século, esta capital do Ano Zero, assim chamada por causa da quantidade de vezes históricas em que caiu de quatro, completamos agora, com a volta, na procura dos bares e amizades, algumas desfeitas na insistência do Pandemônio.
O reencontro, depois de dois anos passados reclusos, em Brasília, dos amigos nos mesmos bares que ficaram fechados por quase 800 dias, em Berlim, isto não tem preço, e isto procuramos descrever exatamente como aconteceu, repassado no mesmo dia ao manuscrito, aqui para esta Berlim do Pandemônio.
Que esta nova leitura sirva de comparo de comportamento na batalha adotado pelos arianos, lá, e por nós, ladinos, cá. Eduardo Mamcasz & Cleide de Oliveira, somos sobreviventes em união instável desde 1980. Já passamos por mil e um riscos. Alguns exemplos:
1 – No começo do namoro, há mais de 40 anos, despencamos de carro na cachoeira do rio das Almas, interior de Goiás, numa madrugada de lua cheia. Sim.
2 – Quando explode a usina nuclear de Chernobyl, esta dupla de risco estava a poucos quilômetros da fumaça que se espalhava pela Europa Ocidental.
3 – No então lento trem, de longa distância, no interior da China, compartilhando os beliches no imenso vagão, éramos os únicos brancos, justo no dia em que o piloto do avião espião ianque derruba o avião chinês, e por isso o agente comunista nos confunde, exigindo uma forma de contar rápido, para os demais passageiros, que somos brasileiros. Aí, mudou.
4 – A pé, meia noite, na travessia da ponte fronteiriça entre a Guatemala – chegamos de ônibus – e o México, passamos pelos guardas ávidos por uns dólares, até pegarmos o lotação lotado para o centro da cidade indescritível.
5 – Passamos sete meses longe de Brasília, no vagar sem destino, Do Alasca a Jerusalém – rendeu uma série de livros – pena que o tempo voa rápido, sempre no sentido da volta.
6 – No rio Ganges, na Índia, na mesma canoa, vemos o guia beber a água com as mãos, enquanto um cadáver, amarrado nos bambus da derradeira jangada, sem condições de pagar a cremação, passa por entre nossos dedos incrédulos na mente.
7 – Lógico que contamos com momentos incríveis na lembrança, tal comer poeira, de carro, no interior do Alasca ou, na então Leningrado, Rússia, dezembro, andar a pé por cima da água do mar, por conta dos 20 graus Celsius negativos.
Então, siga o nosso relato, por vezes mórbido e cruento, desses Dias de Ira em que relatamos a nossa insegurança e inquietude do por vir.
No ano do Rato, 2020, fomos a Berlim em março e voltamos a Brasília em junho, fazendo tudo na hora errada, até porque voltamos do Piso, lá, ao Pico, aqui.
No ano do Tigre, 2022, voltamos para Berlim, na fase de liberação coletiva, depois de dois anos, parecidos com séculos, morrendo de medo de sermos dois entre os quase 700 mil mortos pela Covid no Brasil.
Boa leitura a todos os nós confinados, ditos libertos, que enfrentamos o mesmo vírus lazarento, morfético, filho da puta, dito no início nascido dos morcegos lá na China, e que na verdade matou, de verdade, milhões ao redor do mundo. Pior. Ainda continua matando, mas sem a mesma intensidade. É o que todos esperamos, mas sem uma certeza total.
Portanto, nós somos uns privilegiados e temos direito ao grito retido desde dezembro de 2019, hoje explodido:
– E S T A M O S V I V O S ! ! !
Pois agora, se quiser ler as primeiras trinta páginas do livro A Berlim do Pandemônio, de graça, ou encomendar o mesmo, modelo e-book, ou mesmo impresso, clique abaixo:
Em 2020, Ano do Rato, ficamos presos em Berlim, no pique da Corona-China. Voltamos para o Brasil num vôo de emergência. Agora, 2022, Ano do Tigre, estamos de volta. Berlim continua a mesma? Não. Tem mais gente dormindo na rua. Por isso o título: DO INFERNO AO INVERNO EM BERLIM. VERÃO. Então nos siga nesta continuação do nosso livro “Diário Pandemônico – Berlim Ano Zero.”
Pandemie-Tagebuch – Berlin Jahr Null.
Im Jahr 2020, dem Jahr der Ratte, waren wir in Berlin gefangen, im Hecht von Corona-China. Wir kehrten mit einem Notflug nach Brasilien zurück. Jetzt, 2022, Jahr des Tigers, sind wir zurück. Ist Berlin immer noch dasselbe? Nein. Es gibt mehr Menschen, die auf der Straße schlafen. Also der Titel: FROM HELL TO WINTER IN BERLIN. Dann folgen Sie uns in dieser Fortsetzung unseres Buches “Pandemie-Tagebuch – Berlin Jahr Null”.
From Hell (Inferno) to Winter (Inverno) in Berlim.
In 2020, Year of the Rat, we were trapped in Berlin, in the pike of Corona-China. We returned to Brazil on an emergency flight. Now, 2022, Year of the Tiger, we’re back. Is Berlin still the same? No. There are more people sleeping on the street. So the title: FROM HELL TO WINTER IN BERLIN. SUMMER. Then follow us in this continuation of our book “Pandemic Diary – Berlin Year Zero.”
Velho polaco baiano, estou agora de novo em Berlim (2022 – Ano do Tigre). Primeiro Mundo? Mais ou Menos. More or Not. (+ or -). Ôxe. Traduza-me, Gúgui. pro Alemão, tá? Volto acá depois de dois anos. Na última, saio abatido (2020 – Ano do Rato), depois de três meses preso no pico da então “Coronachina do Morcego”. No ora, cada reencontro é um abraço caloroso. Coisa rara no espírito germânico. Você? Vivo? Ya! Sim! Yes! Nossa! Uau! Outro abraço. Quem diria.
Mas tem as ausências, tipo a “Bonitona”, o “ Mãozinha”, ainda bem que ontem, no Sandman, encontro a “Russinha”, no antes bela na guitarra do rock e hoje cadente. Pergunto: E aí? E ela: sabe como é. E eu: Não pense no hoje. Espere o Amanhã. To morrow. Não morre. E completo: Posso te abraçar? Ela praticamente desmaia em meu abraço. Ao lado, o “Ciganinho”, dez anos em Berlim, vindo do interior, do lado ocidental, nos olha. Ele ressurge aos poucos. Prepara novo disco. Para quando? Ano que vem, 2023, no Verão. Agora, Inverno. E eu: Inferno. E ele: Posso usar isto no próximo disco que estamos preparando? Lógico. Dank. Imagina, meu. Mas usar o que meu caro Tim K?
DO INFERNO AO INVERNO EM BERLIM. VERÃO!
Gente. People. Cara. Mina. O que eu quero, mas não começo, na dúvida, a falar aqui, agora, não é nada disto, mas o que acontece na saída do Sandman, noitada de toda segunda, aliás, quando a gente ressuscita, na chegada, dois anos purgando o fechamento, filho do dono, no balcão, só falta largar tudo e vir nos abraçar.
– Vocês? Vivos?
– And you???
Quando o pai dele chega, o Helmut, fala no ouvido:
– Vai lá e abraça este casal brasileiro de volta.
– Vivo?
Ora. Revividos. Por pelo menos mais três meses. A prima cerva é por nossa conta. O preço subiu. Sabe como é. A Corona. Outro abraço. E a vida continua. Nós, na mesma mesa de antes. Mas o que eu quero mesmo falar aqui neste reblogado é o seguinte:
Estamos de saída, rua escura, perto do meio da noite, Neukolln, bairro tido turco, a caminho do metrô, linha não considerada segura, por conta dos usuários, nem todos migrados, verdade se diga. Após o tapume da obra, no quase escuro, escadaria abaixo, frio medido na garganta, encontro-me com na re-volta, ao contrário, pois no antes, acá em Berlim, sempre me entendi com as crianças. Agora, entendido estou com as velhas sobrevividas. Pois este é o fato. Volto pois ao início do dito deste Ano do Tigre (2022), nem tanto, ainda não redimido do Ano do Rato (2020). Pois recito o havido nesta meia-noite acá em Berlim dos sempre quase Mil e Um Anos:
Na descida da escada, no meio de jovens pseudo-hippies-nerds-punks-etc&tais, ladeio-me a uma senhora, velha, decaída, sim, mendiga da noite e da rua. Ela tenta cada degrau abaixo, apoiada no carrinho cheio de coisas catadas no lixo, viu, Berlim não é Primeiro Mundo. Lógico que eu estaco, encosto, olho nos olhos, ofereço ajuda para a descida da velha mendiga alemã, ela, lógico, não entende meu brasileiro nem eu o germânico dela. Quer dizer. Na hora, em dois gestos, tudo fica claro. A mendiga alemã (no gestual):
– Pode deixar, polaquinho. Eu consigo descer sozinha. Obrigada, tá.
E eu, polaco baiano:
– Tudo bem, mina. Pense no Amanhã. Não no Ontem, muito menos no Hoje. To Morrow.
Eu fui. Ela veio, bem no lentamente. Lá na frente, na espera do metrô, mais demorado no começo da madrugada gria, eu sentado ao lado da Ma Dame, a quem conto o Corrido, de repente passa pela gente a Querida Velha Mendiga Alemã. Ao lado dela, o carrinho com os achados no lixo, que também serve de muleta. Pois agora confesso a minha emoção nesta volta a Berlim, depois de dois anos daqui saído no Pique da Covid.
Concluo:
Ao passar por mim, agora sentado, a Velha Senhora Mendiga Alemã, aqui em Berlim, 2022, Ano do Tigre, pós Pandemia, ela elegantemente me faz um sinal, com a mão direita, livre da bengala, que entendo de imediato como de Amizade, Agradecimento, Reconhecimento, sei lá o que mais. Nobre, a velha senhora mendiga berlinense alemã se volta para mim e sussurra:
Cuide bem de Madame porque aqui é muito perigososo para gente de bem que nem você.
O turco, o indiano, a ucraína, o sírio, o africano e os representantes das 190 nacionalidades perambulante em Berlim, eles continuam indiferentes, bem germânicos. Postados ao longo da estação, eles não percebem. Ou fingem. Eu só sei de uma coisa. Nesta noite, ela, a velha senhora moradora de rua neste Inferno de Berlim, com certeza, vai dormir sonhando comigo. Espero que minha ação a aqueça de alguma forma. Porque está frio. No Corpo e na Alma.
“Que Deus corte TODOS os lábios aduladores e TODAS as línguas que proferem insolências. Benza Deus, Bondoso Salvador!”
Salve a Pátria Amada-Armada acima de tudo.
Frei Hélio Maria de Ponta Grossa, no Paraná.
Da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Hoje, sou só Eu Polaco de Novo Cristão. Sou?
Se quiser eu coloco mais outro pouco, está bom?
Halloween – 02:
Paz e Amor!
Ex-libro “SALMOS de ESPERANÇA”.
Hoje, Salmo 17 – Meu Canto de Triunfo:
“Persigo meu inimigo e o alcanço. Só volto depois de o ter aniquilado por completo. Ele jaz debaixo do meus pés. Benza Deus, Bondoso Salvador.”
Salve a Pátria Amada-Armada acima de tudo.
Frei Hélio Maria de Ponta Grossa, no Paraná.
Da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Hoje, sou só Eu Polaco de Novo Cristão. Sou?
Se quiser eu coloco mais outro pouco, está bom?
Halloween – 03:
Paz e Amor!
Ex-libro “SALMOS de ESPERANÇA”.
Hoje, Salmo 39 – A Insignificância do Humano:
“Eu sou apenas uma sombra, meu Deus, um mero sopro. Pois agora eu me calo, não abro mais a minha boca. Sois vós, Senhor quem me deves falar:
– Por que não te calas, ó Servo Polaco?
– Benza Deus, Bondoso Salvador. ”
Salve a Pátria Amada-Armada acima de tudo.
Frei Hélio Maria de Ponta Grossa, no Paraná.
Da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Hoje, sou só Eu Polaco de Novo Cristão. Sou?
Se quiser eu coloco mais outro pouco, está bom?
Halloween – 04:
Paz e Amor!
Ex-libro “SALMOS de ESPERANÇA”.
Hoje, Salmo 44 – Oro pelo povo escolhido por vós, Senhor:
“ Deus, Vós me abandonastes como ovelha no abatedouro. Fui por Vós vendido por um Nada. Desperta, Senhor. Por que dormes? Acorda! Não me rejeites para Sempre. Ah. Benza Deus, Bondoso Salvador.”
Salve a Pátria Amada-Armada acima de tudo.
Frei Hélio Maria de Ponta Grossa, no Paraná.
Da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Hoje, sou só Eu Polaco de Novo Cristão. Sou?
Se quiser eu coloco outro pouco, está bom?
Halloween – 05:
Paz e Amor!
Ex-libro “SALMOS de ESPERANÇA”.
Hoje, Salmo 49 – A futilidade da riqueza:
“O homem que prospera não entende que ele é igual a um animal sendo levado para o matadouro. Benza Deus, Bondoso Salvador.”
Salve a Pátria Amada-Armada acima de tudo.
Frei Hélio Maria de Ponta Grossa, no Paraná.
Da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Hoje, sou só Eu Polaco de Novo Cristão. Sou?
Se quiser eu coloco mais outro pouco, está bom?
Halloween – 06:
Paz e Amor!
Ex-libro “SALMOS de ESPERANÇA”.
Hoje, Salmo 68 – Hino de Triunfo:
“Deus esmaga a cabeça do inimigo e raspa o couro cabeludo daquele que caminha em suas culpas. Benza Deus, Bondoso Salvador.”
Salve a Pátria Amada-Armada acima de tudo.
Frei Hélio Maria de Ponta Grossa, no Paraná.
Da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Hoje, sou só Eu Polaco de Novo Cristão. Sou?
Se quiser eu coloco + outro pouco, está bom?
Halloween – 07:
Paz e Amor!
Ex-libro “SALMOS de ESPERANÇA”.
Hoje, Salmo 89 – Hino ao Deus Fiel:
“Senhor! Eu mesmo esmagarei a cabeça do Teu opressor e vou ferir de morte quem Te odeia. Benza Deus, Bondoso Salvador.”
Salve a Pátria Amada-Armada acima de tudo.
Frei Hélio Maria de Ponta Grossa, no Paraná.
Da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Hoje, sou só Eu Polaco de Novo Cristão. Sou?
Se quiser eu coloco + outro pouco, está bom?
Halloween – 08:
Paz e Amor!
Ex-libro “SALMOS de ESPERANÇA”.
Hoje, Salmo 109 – Súplica para afastar meu inimigo:
“Que ele seja condenado e até a sua oração seja considerada pecado e nem haja alguém que se apiede dos seus órfãos. Benza Deus, Bondoso Salvador.”
Salve a Pátria Amada-Armada acima de tudo.
Frei Hélio Maria de Ponta Grossa, no Paraná.
Da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Hoje, sou só Eu Polaco de Novo Cristão. Sou?
Se quiser eu coloco + outro pouco, está bom?
Halloween – 09:
Paz e Amor!
Ex-libro “SALMOS de ESPERANÇA”.
Hoje, Salmo 149 – Hino do Triunfo:
“Aclamo a Ti, ó bondoso Deus, com louvores em meus lábios mas, ao mesmo tempo, em minhas mãos a espada afiada nos dois gumes executa a vingança. Benza Deus, Bondoso Salvador.”
* Com o mór respeito aos do em torno, includo nós, dos 600 mil mortos pela SemVid neste nosso “Brasil, Brasil brasileiro, mulato inzoneiro” coisa nenhuma, nem numa e nem noutra, tá? São cruzes na Estrada da Ida.
Acordo ao badalar dos raios do sol rubro no cerrado brasileiro, capital de todos os nós, às seis em ponto, dia com previsão de até 35 graus centígrados e humidade decaindo para os desérticos 15%. Saravá, meu Rei, começo hoje minha sétima jornada nesta Ida Pandemônica, terceira dose, dita de reforço da vacina covidorosa que promete duração perene duvidosa.
Na rotina desses últimos 47 anos, antes do preparo do café matutino para a Madame ainda à cama, nos privados atos de cada despertar, sem tempo para o imediato translado para o papel, não o higiênico, por suposto, eis que brota na minha mente ainda presente o seguinte pensamento poético em função da bela saudação solar deste último andaresco ter.
“ O senão da Palavra
Se é à vista
Antes eu preciso ver
A vista.
Se não,
É a prazo.
Portanto eu prezo
O verbo preso.
No visto,
Invisto,
Insisto,
Existo,
Não desisto.
Por tanto, nunca por menos,
Revisto a minha melhor pele.
Assumo
E sumo.
Até outra vista. ”
Pós a limpeza corpórea, barba feita na roupa alinhada, esta data me marca, repito, pois delineia o início da minha sétima e última jornada de vida devida à terceira dose da vacina no posto público de saúde a 498 passos de caminhar desde a moradia neste dito Plano Piloto, portanto autêntica Brasília, desconectada da nacionalística Praça dos Podres Poderes, vista daqui à distância, pós Esplanada dos Mistérios, repito, agora com licença já volto porque persigo a célere Madame até o SES-DF-UBS 01-ASA SUL.
Unidade Básica de Saúde. Aberto das 8 às 17 horas. É o nosso mais próximo lugarejo para a vacina, aliás, assim acontece nas outras duas, a primeira em 18 de março, a segunda no 6 de abril e, agora, 6 de outubro, a terceira, quando será a próxima? Neste nosso novo dia, a aglomeração convocada pelos podres poderes públicos é formada por velhos acima dos 70 anos e profissionais da saúde, pública ou da privada. Mais os aborrescentes que, veremos daqui a um cadinho, mostram-se atenciosos para com os nós envelhecidos.
Pois então. Chegamos às 07h45m, antes da abertura dos trabalhos, o sol já se exibindo tanto que o pessoal do posto tratou logo de organizar uma fila tripla, no sentido vai e vem, pelo usufruto da sombra das árvores entre elas um pé carregado de exibidas jacas, moles ou duras, não sabemos mas elas são lindas e, com todo respeito, comestíveis.
Gente, agora sou só eu no falando porque a Madame, como sempre, ela já está enturmada, mas está tudo no parecendo muito do tranquilo, quer dizer, eis que agora aparece a enfermeira baixinha, bem neguinha, pretinha e, magrinha que só, mesmo assim, tentando gritar o a seguir no entreouvido:
– Atenção, gente. Hoje a vacina é para os “velhos” com mais de 70 ânus que tenham tomado a segunda vez na vida há seis meses. Ah, mais o pessoal mórbido que agendou antes e os colegas que trabalham na saúde, que nem eu. Estamos entendidos?
Neste instante começa a revolta dos “velhos”, alguns por sinal bem dos serelepes mas, no meio, fato é fato, tem uma meia dúzia na situação requerente de acompanhante, por sinal não presente, difícil nesta terça idade, não é meu mesmo, vó? Vamos à revolta dos velhos e das velhas cidadãs tupiniquins, neste caso, da classe média pseudo quase alta:
– Cadê a fila da terceira idade?
– Aqui não tem fila de “velho” não – canta a “neguinha magrinha pretinha atraente”.
– COMO É QUE É ?????????
Primeiro, transcrevo parte dos sermões aplicados por “velhas e velhos” acima dos setenta e no começo da sétima e última jornada nesta longa estrada da vida. A enfermeira magrinha, mulher, pretinha, leva o básico puxão de orelha tipo “velha é a tua mãe”, é fake, gente, isso deveras não acontece porque se trata de gente educada. Uma senhora, includo, a mais ativa, é mãe de um médico em hospital de renome no atendimento de políticos. Justo ela exige que a nossa enfermeira “neguinha”, repita que o certo é “terceira idade” no lugar de pessoa velha e “terceira vacina” no lugar de reforço. Vamos ao ouvido na geral ao som do fone:
– Mãe? Onde você está, bichinha?
– Estou aqui na fila da vacina.
– Tudo bem?
– Não! Tem uma enfermeira aqui me chamando de velha.
– Passe o telefone para ela.
– . . .
– Você chamou minha mãe de velha?
– Chamei.
– Por que?
– Ela me chamou de pretinha e negrinha.
– Me passe o telefone para minha mãe.
– . . .
– Mãe?
– Pô filho, não tem paciente para atender não?
– Mãe. Você não pode chamar uma mulher de negrinha e pretinha.
– Quer que eu chame de que? De polaca?
– Mãe! Pede desculpa.
– Para quem?
– Para a pretinha.
– Meu filho!!!
– Me passe o telefone para ela.
. . .
– Aqui é o doutor fulano de tal, trabalho no hospital que atende presidente e tal. Exijo que você peça desculpa por ter chamado minha mãe de VELHA.
– SÓ SE ELA PARAR DE ME CHAMAR DE PRETINHA!!!
– E por acaso você é polaca?
Resultado. Uma risada só na fila do posto de vacina de reforço para a terceira idade, estava tudo no viva voz porque, afinal, a mãe é uma velha senhora com alguns problemas de audição, alguns de propósito, diga-se de passagem, mas, afinal, a primeira vacina ianque para os adolescentes e mais uma para a turma legal da Saúde é o que interessa. Tudo numa boa até que a chefet@ do posto, doidinh@ para dar início a mais um dia de trabalho anti-pan-demônico que se espalha tem 438 dias, bem, ela se achega ao nosso pseudo tumulto e …
– O que está acontecendo?
– Estamos organizando a fila do pessoal da “melhor idade”.
– Quem mandou?
– Esta jovem enfermeira “amorenada”, aliás, muito da educada, não é, minha neta?
Nesta altura, o ambiente que parece tenso vira lento porque além dos “velhos e velhas” em volta da “negrinha” acontece o inesperado apoio uníssono dos “aborrescentes”, muitos catando cadeiras na grama, nem todas em perfeito estado, e as colocando numa fila em separado:
– Cuidado que esta está um pouco desajuntada, minha tia. A senhora, minha vó, fica nesta cadeira aqui que está um pouco melhor.
E daí – volto a falar no plural – perguntamos, com toda razão, qual a reação da chefinha das, contamos nos dedos das mãos e dos pés, 18 enfermeiras no pequeno posto na área central da capital do Brasil. Seguinte. A chef@, safad@, no sentido de safa, saca, mora, ela põe a mão no ombro direito da enfermeira “magrinha” e dita, sorriso entre os dentes descovados:
– Valdirene! Você está encarregada deste pessoal exigente de seus direitos, tá? E vamos fazer o seguinte. Para cada um “normal” na fila da vacina entram dois …
– Se chamar a gente de “velho ou velha”, já sabe!!!
A chefinha, safa, provoca nosso sorriso uníssono, e responde, falsamente séria:
– Pois não estou vendo aqui nenhuma pessoa velha.
– VELHA É A TUA MÃE !!!
Antes da fila dos velhos, perdão, da terceira idade, começar a andar – volto a falar no singular – deleto a dupla citação da palavra “uníssono” por obrigação de ofício jornalístico há 50 anos. Acontece que no quarto lugar da fila dos “normais” estava um senhor idoso, pomposo, sentado entre mulheres em pé, mesmo que mais novas e, ao ser sugerido, gentilmente, que passasse para a fila dos “especiais”, retruca como quem prescrevendo cloroquina, tem toda a cara de:
– Pois eu continuo nesta fila onde estou sentado desde as sete horas da manhã e daqui não saio, daqui ninguém me tira, até porque eu sou médico, ouviram?
Vale o registro da reação – volto ao plural – que todos nós, especiais e/ou normais, retrucamos, agora sim no uníssono, risos soltos, inclusive da enfermeira moreninha, agora tornada nossa amiga e até chamada “gentilmente” de “negrinha velhinha”:
– Deixa este doutor para lá. Ele só pode ser médico do Prevente Senior.
E a fila, melhor, a vida continua no posto de vacinação da Covid19/20/21…
– Primeiro a jovem aqui.
– Não senhora! Antes, as duas avós ali da outra fila.
– Ai que saco!
– A senhora tem um ou dois ou quantos sacos?
Começa então outro dia de vacinação que tão cedo não acaba. Adentram as duas senhoras, aliás, colocadas na frente porque com forte dificuldade de andar sem amparo é que não falta, decisão, aliás, tomada de forma coletiva e uníssona, quer dizer, com protestos apresentados pelo doutor do Prevente Senior, naturalmente desmoralizado.
– Acabou, polaco? O que está fazendo de pé aí no décimo-quinto lugar da fila especial?
– Quem está falando?
– Não é da tua conta. Responda, velho.
– É que eu fiz questão de passar na minha frente todas estas amaciadas jovens dantanho.
– E Madame?
– Já está triplamente vacinada e agora se encontra fumando o cigarrinho de olho na jaca mole tomara que caia.
– Então conta, daqui a pouco, como foi a agulhada neste teu braço caipirosco.
– Sou mais o bracinho firme de Madame.
– Mostra! Mostra! Mostra!
Pronto. Chega a minha vez. Atrás de mim, o chato doutor do Prevente Senior, quase encostado:
– Chega para lá, cara chato.
– Sou doutor.
– Desculpa. Desencosta, doutor cara chato!
– Esqueça este chato e continue, polaco:
– Qual a sua idade, “jovem velho idoso”?
– 73 anos + 9 meses + 20 dias + 18 horas + 15 minutos + 33 segundos!
– Qual o seu CPF, senhor?
– Está aí, minha jovem.
– Esqueceu, tio?
– É muito número.
– Está aqui a sua identidade. Leia para mim que eu coloco no sistema.
– Ih, moreninha. Eu esqueci os óculos de perto em casa que não fica longe.
– Se não lembrar agora mesmo vai para a fila dos mornais. Escutou?
– Oxe, menina. Acabei de me lembrar.
Neste momento, acredite se puder, praga do doutor do Prevente Senior, já devidamente picado, como é que pode, acontece o seguinte. O sistema da Internet DESABA, fica fora do ar nos cinco computadores, todos ligados num mísero aparelho G-2. Por sinal, no posto, este é o primeiro dia em que fica abolido quase de vez a anotação no papel para ser incluído depois no tal sistema. Tudo parado. A fila toda. Jovens e os da pseudo melhor idade. Repasso ao fato para o velho na fila anterior que conta para velha que cochicha para outro e assim o sussurro de repente se transforma numa brincalhosa revolta:
– Moça, tem um orelhão ali na entrada do posto. Por que não vamos até lá, gente?
Depois de uns vinte minutos de risadas, muxoxos, dentaduras deslocadas, enfim o sistema entra no ar e tudo recomeça no quartel de Abrantes:
– Qual o seu CPF, senhor?
– Já falei, moreninha.
– Acontece que caiu, tio.
– ENTÃO LEVANTA, MINHA FILHA!!!
Uns oito minutos e nove segundos depois, educamente, sou convidado a sentar numa das três cadeiras de plástico para o terceiro pico na minha vida. Acho que foram mais, mas tudo bem. Sinto-as um tanto trôpegas. O que? A cadeira, eu, a picante, sei lá, tudo, sabe?
– Pode sentar!
– Prefiro ficar em pé.
– É que sentado fica mais mole, meu senhor – responde quem, logo a chefeta, olha ela aí de novo, vigiando a jovenzinha com a agulhinha cheia da vacina ianque e, observo, quase que tremendo. Sinto a chefeta, levemente preocupada mas um tanto pré-irônica nos lábios entreabertos para me mostrar os dentes encravados na gengiva amarelada. Afinal, estes “velhos e velhas” hoje estão de lascar, acho que ela está pensando isto, com certeza. Mas continue, minha senhora, e ordenhe esta jovenzinha enfermeira:
– Vai com cuidado, minha filha. Antes veja se este polaco está bem mole. Coloque a agulha mais inclinada. Assim não. Incline mais um pouco. Agora …
– ENFIA LOGO!!! TUDO!!!
Pois foi uma das picadas mais suaves que eu tive na minha vida, confesso, tanto que primeiro eu olho para a chefeta em pé, ao lado de quatro assessoras, e pergunto, bem suave:
– Ela é estagiária, não é?
– É sim, polaco. Isto é para você aprender a não tumultuar a massa, seu braço mole.
Dei um tempo para o quíntuplo terminar de rir de mim para somente então virar para a quase enfermeira estagiária e fechar com este sublime fecho de ouro, na lembrança as tantas estagiárias de jornalismo com quem convivi e, amigavelmente chamava sempre de “minha tia”, embora tem umas que hoje já sejam “avós”. Ou quase. Outras, ainda nem arrumaram. O que? Ora, o rumo, meu, quer dizer, minha.
– Polaco!
– Que foi?
– Acabe logo este papo está qualquer coisa está para lá de Maraquesh. Afinal, o que foi que você falou, neste teu fecho de ouro, para a enfermeirinha estagiária que picou este teu braço mole?
Exatos “quase” nove meses eis que me renasce hoje ao vento no meu másculo ventre mais ou menos isto ou a quilo. Seguinte. Siga-me ou caia logo fora da calha ora e ora nesta hora de reza minha quenga e santa senhora valha-me nos noves fora sem riso nem ciso ou cisco no lixo o risco do que fui-sou-serei-sereia largada na areia. Só. Sou. Quer dizer, ontem fui. Hoje não amanhã serei?
Moro na capital dum país tropical nunca abençoado pelos deuses minúsculos e diversificados. Adonde? Na parte plana do lado Sul da Asa fora do sovaco fedido da esplanada misteriosa onde abundam abundantes imigrantes eleitos pela brava gente brasileira tal qual igual saca? Ô saco. Acho que estou tão claro quanto as águas enlameadas que escorrem pelos córregos dos agora chamados subagrupamentos sociais.
Toma aqui a tua denta. Dura de quatro anos no teu ânus. Mais. Toma, brava gente brasileira forte no ser vil. Ou ficar na Pátria Livre ou ir para a Puta que Pariu. Perdão pela Palavrinha tão abaixo quanto a do Parlatão no Parlatório.
DOCUMENTO, POLACO DA ESCRIBA !!!
Êpa, gentia gente. Sou da escrita, não da dita. Pega aqui na minha dura seu guarda um dia no futuro tu vais mendigar no pedaço da sobra dada pela politicalha adiantada que está nem aí para esta babaquice de “ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo meu Bom Brill.” Sabes com quem estás falando ora nem sei quem eu sou quanto mais tu não falo mais nada claro.
FALA LOGO POLACO OU TE ENCHO DE PORRADA !!!
NÃO FALHO ABAIXO DA CINTA MILICO SINTA !!!
NÃO TÔ SENTINDO NADICA DE NADA FICA A DICA.
Pois então tem exatos nove meses que estou aqui preso neste bom apê último no andar da vista para o aeroporto JK e para a ponte JK e para o céu azul de anil do meu Brasil na vontade de mandar tudo para puta que pariu.
DESEN – RÔLA, POLACO !!!
Pois não meu general de plantão sinta meu RÔLO!!!
Fala meu polaquinho corajoso mas sem tanta falha.
Pois não, meu general de plantão e sinta de novo meu velho RÔLO!!! Falo no meu sério sinta logo abaixo da minha cinta estou acá preso hoje faz nove meses de obra no prédio o tapume tapando tudo pó para todo lado pena que não daquele enfim uma merda só soa o que sei lá repito esta merda de espera pelo que virá pós nove meses mais o convívio com o covida que alcançou os peões em volta e finalmente hoje agora já atenção nas fotos que dizem melhor do que o quase dito por mim ora por meus fitos que me vou embora engulo toda vírgula sem pausa não fico por aqui agora a lua nua entra pela sala pelo quarto pelo sei lá o que estou me sentido penetrado por inteiro tal o feto feito vida depois de nove meses fechado aprisionado com vista do nada mother open your pernas gente finalmente tiraram o tapume de dentro aqui da minha casa alma apertamento nobre depois de nove meses de nós fechados e olha só o que enfim de novo nova na mente agora acerto o alvo navamente falo e revejo que nem toda esperança morre sim cada qual tal na mesma lua do ano passado luta que sobrevive nesta pandemia idiota agora bate um papo aqui comigo entendeu ou quer que eu repita TUDO?
NÃO !!!
Só tem um troço.
O QUE?
Não uso vírgula nunca mais.
; ?
Oi lua.
! ! !
Té que enfim.
???
Lua nua crua sua …
Ide polaco que a vida te espera procure pelas criaturas com vida conviva convida reviva nunca revida viva polaco da zunha reacenda e chama a gentalha que dizia que te adorava que amigava que amancebava e o dedéu escambou?
Eu hein Lua Nua.
Que foi?
Ninguém mais se lembra de mim. Ah esta Manha de Manhã com saudades do Amanhã né mesmo polaquinho por que depois não te calas?
this is a mild prose of this sympathetic polish with once one onde einsamen taube dove solitary repito com a solitária pombinha aos 18 do primeiro tempo at this sunday em que acordo com tudo contudo virado abro a janela para a tela da longa obra e me olha uma cândida pombinha deste cerrado tempo em prisão domiciliar inda que ausente da tornozeleira alta ou do salto eletrônico
Em prisão domiciliar neste ano sabático da moléstia, impedido de viajar, agravo meus queixumes vis por conta da obra no prédio que me habita, impossibilitado da vista outrora aberta para a lua cheia e os aviões que passarolavam diante da minha janela da alma incrustada no sexto e último andar brasílico desta asa sul do plano classe média plus.
Na saída de agorinha, para fins alimentícios e beberírricos potencialmente descartáveis, entro na salinha improvisada do mestre de obras e, bem polaco distraído que sou, capaz de no repente não me reconhecer diante de um espelho, confabulo com a criatura presa no cotidiano do trabalho afinco:
– Bom dia. O fulano está?
– Sou eu.
Queixo caído, envergonhado mas nem tanto quanto merecido, desculpo-me e presto atenção na figura trabalhadora bem mais magra e decaída de há 12 meses passados quando ele começou a obra de restauração do prédio que me habita perseguindo, junto com seus peões paraibanos, os detalhes cotidianos em prol desta minha pobre classe média aprisionada em todos os sentidos.
– E como é que você está, tudo bem – pergunto na lembrança, no meu íntimo, do fato de que o mestre de obras diante de mim, emagrecido e acanhado diante da vida, tinha apanhado, há nove meses, o demoníaco vírus ainda chinês e, mesmo assim, continuado na labuta diária, comendo poeira e lama para que o prédio desta minha pobre classe média se renove a contento.
– Na verdade, desde que peguei esta covida, aqui mesmo nesta obra, ainda sinto dores na coluna, respiro com dificuldade, ando meio cansado e desanimado da vida, sem apetite para nada, tem vezes em que até me esqueço de quem eu sou na verdade sei muito bem, não é mesmo?
Puta que pariu! Palavrão feio, sei-o, mas me senti abaixo do cu do sapo sarnento. Vontade de dar um abraço solidário, fato proibido desde até quando não se sabe, eu totalmente desmobilizado e, com razão, desmoralizado que deixei para lá o motivo da aproximação e, bem tipo imbecil, confesso, apenas consigo, sem pensar, balbuciar:
– Mas você pelo menos está sentindo o gosto das coisas?
– Ah, sim. O cheiro, mais ou menos. O gosto da merda, sim, senhor.
Mais idiota ainda, acrescento e me retiro para esta minha cela tampada para o mundo exterior:
– Ah, que bom. Se não estivesse sentindo o cheiro, aí sim seria pior.
Final:
Silêncio na geral. Engulo a saliva. Subo para a arquibancada. Fico em casa. E daí, porra?
No meio da matutina andança, Quaresma Pandemônica 2021 – seria obra do Destino – sou atraído pelo quadro abandonado na borda do lixo doméstico, quase no final das 400s da Asa Sul, Brasília, Detrito Federal, Brasil.
Diante de minha pessoa, no momento muito da insegura, eis que me aparece a Virgem Senhora, moldurada aos prantos, com o filho morto no colo, todo cheio de sangue, enfim, traído e lascado de todo. Resultado:
Abraço-me aos dois, apresento meus pêsames – foi covid? – e convido-os a caminhar juntos mas não por muito tempo porque, logo na sequência, a Virgem e Filho me imobilizam para ler o conjunto da obra ali conscrita:
“Diploma da Irmandade de Jerusalém.
Declaro, por meio deste instrumento, Alvaro Clemente da Costa irmão remido da Terra Santa. Assinado: Frei Solano – frade menor. Rua do Sanatório, Cascadura, Rio de Janeiro, Guanabara, Brasil.
Na sequência, vejo a data: 3 de dezembro de 1959.
No ato me escorre no peito a lembrança Do Eu Menino, 10 anos de idade, sozinho no trem, interior do Paraná, de saída do lar materno, por vontade própria, para nunca mais voltar. Decidido a ser padre capuchinho, frei menor.
Aperto no coração o quadro emoldurado da Virgem e o Filho, este acabado de ser descido da cruz onde, pouco antes de colocado no colo da mãe, a única presente, havia chorado que nem um ser humano que não era, pois divino:
– Pai! Por que me abandonaste? Afasta de mim este …
– Florzinha! Tô indo no mercado para comprar umas coisinhas porque quero preparar um final de semana bem gostoso para o meu Polaquinho.
– Deixa que eu vou. Faço este sacrifício. Descanse um pouco, Madame.
Em um minuto eu já estou com a senha do cartão na cabeça, o mesmo no bolso, três sacolas a tiracolo…
– Três por causa do quê? Olha a listinha aqui. Dá para trazer na mão. Leva uma só, meu polaquinho mascarado mais lindo do final da Asa Sul.
Vou. Primeira desobediência. É para ir no mercado classe B, mais perto de casa. Evito o classe A, aceita até cartão corporativo. Não tenho mesmo. Desembarco sorrindo no mercado classe C, operado por gente da classe D, nas 400, quem conhece a História de Brasília entende do que estou falando. É que nem o entorno da banca de jornal quando eu moro em Bonsucesso, no Rio. Sabe a fita dorex para impedir que a gente folheie as páginas além da primeira colocada na parede para fins de discussão, essa sim bem da democrática. Conforme o assunto, é precciso fazer uma vaquinha para comprar o jornal e tirar a dúvida principal, que nunca vem na manchete, cambada de imprensa maliciosa. Só para vender.
De volta ao mercado classe C das 400 de Brasília:
– Bom dia seu Polaco. Quanto tempo. Cadê Madame? Deixa antes medir a quentura do seu corpo.
(Pausa).
– Como estou?
– Você já esteve bem mais quente, seu Polaco.
Explico um adiantamento a respeito deste mercado classe C das 400. Todo mundo se conhece, cliente e empregado. Quando a gente volta de viagem, Madame sempre tem uma lembrancinha para os mais chegados. Nesta época de sumiço, todos se vigiam. Cada reencontro é um alento na esperança mútua. Tudo nos trinques – máscara, medidor de temperatura, faixas no chão, álcool à vontade, daí a primeira reclamação:
– Quando é que vão servir aquela cachacinha, hein?
Lista de Madame à mão, alembro-me da ordem de, além do distanciamento, não ficar batendo papo e voltar mais logo ainda para “meus” braços. Primeiro, o espaço dos legumes:
– Oi seu polaco.
– Oi neguinha.
Outra explicação antes que me envolvam na onda racista. Nada disso. Na primeira vez, peço licença para a linda pessoinha, sorriso largo, sempre disposta, amiga de todos.
– Posso te chamar de neguinha?
– Mas é lógico, seu Polaco. Mas vou logo avisando.
– O que?
– Se me chamar de loirinha, faço o maior auê. Quer ver?
– Não, ne-gui-nha.
– Cadê minha Amiga?
– Está descansando.
A resposta é uma gargalhada de verdade, ela, baixinha, no empurro do carrinho superlotado de frutos para reposição na bancada porque o dia do sacolão foi ontem, hoje não. E ela:
– E por acaso Madame tem o que fazer além de cuidar de você, seu Polaco?
– … (gargalhada mútua).
– Mas deixa minha amiga descansar quanto quiser. Ela merece.
Dos legumes (uma abobrinha só, dois tomates no ponto, três pimentões verdes, um par de limão siciliano, aquele amarelo). No previsto meu íntimo pensar desde as primeiras horas deste dia, acrescento meia dúzia de limão verde, sabe aquele próprio para caipirinha? E vou indo entre outros como vai seu polaco e madame não veio por causa de que como ela te deixa solto etécetera e tal.
Antes de dobrar à direita, na última fileira de prateleiras, em direção ao biscoito e o bolo só serve se for de maracujá ou então o de limão porque a gente sente o gosto quase na hora de engolir está me ouvindo meu polaquinho?
– Bem nítido, Madame.
– Está onde?
– Parado aqui na prateleira das…
– Diga logo.
– Bebidas.
– Sabia. Tua oferta para ir sozinho e ligeiro estava estranha mesmo.
– Qual bebida? Já sei, não precisa nem falar.
– Vodka.
– Nem pensar.
– Mas é da marca boa e está escrito “super-oferta”. Só 22 reais cada litro.
– Está bom. Mas uma só, tá? E volta logo. Estou com saudades.
– De que, Madame mais impetuosa de todo o Plano Piloto? Saudades de que?
– Saudades do bolo de limão é que não é.
Para que. Confesso que fico desestruturado no ato. Pego dois litros de vodka, já com a desculpa na ponta da língua molhada. Uma para mim e a outra para meu irmão agemeado. E vou direto para o caixa sem pegar mais nada.
– Oi seu Polaco. Quanto tempo. E Madame?
– Bom dia, tchau, se cuidem, fui.
– Tá com pressa hoje, hein seu Polaco.
Antes de finalizar, se é que ainda tem gente na cola, no ouvido, duvido, mesmo assim adendo dois fatos dignos deste relato de outra escapadela anciã no meio deste pico doido:
1) – Junto aos caixas, tem os empacotadores. Na mesma laia, ou seja, na mesma intimidade respeitosa mútua com os clientes conhecidos. Noto um deles mais afastado. Pergunto:
– Tudo bem, rapaz?
– Comigo, tudo ótimo.
– E por que está afastado dos outros?
– Eles hoje não querem papo comigo e dizem que tenho que manter distância.
– Mas deve ter um motivo para tanto.
– Tem sim.
– Qual?
– É que eu nasci Flamengo e vou ser Flamengo até morrer. Sou campeão. Como se diz mesmo, seu Polaco, você que é estudado, pela vez 38?
Diante da gargalhada campeã mesmo que no isolamento, reajo à altura:
– Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem pergunta.
– Que é isso, seu Polaco. O senhor é sempre tão educado. Por que isso?
– É que eu nasci Botafogo-Botafogo-Botafogo campeão desde quando mesmo?
Daí foi uma risada só e lá vou eu de volta para os braços de Madame. Ato 2:
– Polaquinho, que saudades.
Ela vai logo abrindo os embrulhos para desinfetar e, o principal, inspecionar.
– Cadê o meu bolo de limão?
Diante do rosto pseudo de choro latente de Madame, eu Polaco no ato confesso que me alembro que com as duas vodkas no saco esqueço-me do restante da lista. Por isso, faço o possível para não transparecer tamanha indignidade.
– Pois então, Florzinha. O bolo estava tão feio, tão seco, tão sem graça…
– Trouxesse assim mesmo. Você sabe que estou com desejos.
– Espera aí. Não comprei no classe B (na verdade, foi no C) porque Madame Florzinha merece o bolo de limão do mercado classe A. Tô indo e já volto. Jazinho mesmo.
The End.
Na verdade, vou até o mercado classe B (e não o A) e compro o bolo de limão. Volto correndo, porque não é indicado ficar na rua, tendo casa, nestes tempos pandemônicos, ainda mais para quem tem reservados os braços de Madame, quer dizer, agora não porque ela está às voltas com o bolo limonoso e um cafezinho depois vem o cigarrinho depois o livro que está lendo. Só me resta, ao canto, que nem cachorro com sede, de que mesmo, finalizar lastimoso:
Eis que me aproximo do final de que mesmo não tenho a menor idéia. Em março deste fatídico 2020, três dias depois da chegada da dupla de risco Polaco & Madame em Berlim, é decretada a situação da Calamidade Pública Mundial – Pandemia. O que parecia uma quarentena de 14 dias na verdade ainda não tem prazo para a luz reaparecer na saída deste túnel que deixa de quatro poderosos, em crescimento e principalmente os mais pobres. Por isso, a principal recomendação se transforma na piada mais sarcástica impossível:
Estamos todos no mesmo barco
Não, pessoa. Uns estão na jangada. Outros no iate. Muitos na canoa furada. Classe média isolada. Classe médica no sufoco. Pior ainda a situação dos serviçais lixeiros, bombeiros, motoqueiros, baderneiros, brasileiros. Aliás, adianto meu primeiro contato nesta revolta à Pátria que me Pariu, depois de uma insólita viagem intercontinental que perdura 36 horas. Na portaria do prédio onde coabito em Brasília, bairro classe B, ao pegar as chaves e as correspondências, ouço a seguinte recomendação da gentil porteira:
– Fique em casa, seu Mamcasz.
– Você tão bem, menina.
-EU NÃO POSSO!
Pois levo a primeira porrada nesta re-volta à Terra Brasilis. A viagem começa no despertar às seis da manhã na casa em Berlim. Às dez, avião levanta vôo no Aeroporto de Tegel, que está sendo fechado de vez. Aliás, o embarque é feito no Terminal C, numa espécie de terreno baldio, tal a situação de presente desolação.
Na prima parada desta re-volta, no aeroporto de Frankfurt, a São Paulo da Alemanha, o contato esquecido com a turba brasileira, manifestada pela forma inconsequente de agir sem respeitar a distância e, o pior de tudo, uns dez sem a máscara de uso obrigatório nas dez horas de espera em antevisão do vir.
Na sequência, a manada tupiniquim a um espirro do estouro, o embarque interrompido por diversas vezes para relembrar que a chamada era por grupo escrito no bilhete individual, até que o 777 da Latam alça vôo para onde mesmo?
Nas três primeiras horas da re-volta voadora é servido aos passageiros do infortúnio apenas uma garrafinha de água mineral e um página de papel para ser preenchida â mão para quem desembarcar na espinhosa Madrid.
Espanha por causa de que?
Eu comprei Sampa, cara.
O pouso da Latam em solo espanhol foi o mais fantasmagórico por que já passei nesta minha vida ambulante, acontecido perto da meia noite, as luzes internas apagadas, um aviso rápido de estamos descendo, de repente o baque no solo, a corrida, o freio, stop.
– Atenção para quem fica aqui em Madrid. O desembarque é somente pela porta traseira. Os restantes passem para seus novos lugares.
Nos 90 minutos em que ficamos a bordo, os seguidores da re-volta voadora, a desorganização latâmica chega o auge quando descobrimos que, a partir dali, até São Paulo, os assentos são outros, mais para a traseira do avião. Isso mesmo.
Não fica por aqui, não. A novela vampiresca da re-volta pela Latam continua. Ao descobrir os novos assentos na traseira do avião, no pico desta Coronavirus, encontramos tudo sujo, deixado assim por espanholados saídos.
Resultado. Garrafas usadas, guardanapos sujos, papéis riscados, ou seja, sujeira mental e física dos ditos passageiros é jogada no corredor do avião e, pior ainda, lá resta porque o pessoal da limpeza era mais sujo do que tudo.
– Aeromoça!
De quem é esta máscara usada aqui no meu asssento?
Resultado. Gastamos a nossa provisão de álcool gel para limpar cada centímetro possível do espaço que seria compartilhado nas próximas 10 horas até porque desembarcar não é possível e muito menos desejado nessas alturas.
A re-volta voadora continua
Finalmente, depois do longo desconfortável vôo noturno, o pouso em Guarulhos, pertinho da capital do poderoso, em número de mortos e contaminados, São Paulo. A passagem tranquila pela Polícia Federal.
Nada de parada na Receita Federal. Muito menos na vistoria alimentícia da Agricultura. O principal: ninguém para fazer o teste da pressão, da febre, enfim, pelo menos perguntar peloss sintomas presentes.
Tudo normal. Estamos de volta à Pátria que nos Pariu. Ah. Não se distancie porque a viagem não termina aqui não. Tem mais. A sequência final, uma hora a mais, até a capital desta Terra Brasilis, ainda vai acontecer.
Para tanto, esperemos outras seis horas num ambiente desolador, vazio, com gente sem noção, atestado solenemente pelo balde de lixo, a água pingada do teto e a placa de advertência pandemônica ao incauto:
Cuidado
Piso escorregadio
Goteira
Pronto. São exatas 36 horas contadas desde o despertar em Berlim até o abrir as portas de casa em Brasília. Com direito a doses de desconfiança e desconforto e, ao final, um agradecimento sincero aos céus que nos acudam.
No normal, o retorno pela TAP teria durado apenas 14 horas, via Lisboa, direto para Brasília, transforma-se n um voucher que, se usado, terá valor insignificante, isto se a empresa aérea continuar rodando até sei lá quando.
Brasília teu cenário
era uma beleza
que se foi
A exemplo de toda boa novela, esta nossa aventura arriscada, por suposto, mas controlada na medida do imposto possível, termina bem, graças a quem, não sei, só sei que ainda há dias de tensão na atenção dos sintomas típicos.
Na chegada ao aeroporto JK, Brasília, o velho amigo nos aguarda, que nem sempre, com o nosso carro todo cheiroso, ausentes desta vez os abraços e até mesmo a carona até a empresa onde 85 colegas dele estão despedidos.
Ainda no espírito da novela que acaba bem, mas não para todos, passamos, no caminho, Asa Sul, bairro classe B, no supermercado idem, nome afrancesado, para as provisões primeiras desta necessária reclusão por 14 dias.
Verdade se diga que o não acontecido na longa revoada para casa, na entrada do mercado, a simpática atendente mede nossa temperatura com o devido aparelho higienizado, que nem os carrinhos o foram, tudo nos 34 normais.
À frente da gente, um senhor idoso se demora na conversa com a moça do mercado medidora da temperatura alheia e, na nossa vez, ela comenta:
– Ele vem aqui toda manhã medir a temperatura do corpo dele porque diz que continua com medo porque há pouco tempo foi operado do coração. Na verdade, ele está bem e acho que está precisando mesmo é de conversar.
Na sequência, com as necessidades anotadas no caderno, fomos ao enchimmento dos dois carrinhos de compra, seguindo o caminho apontado pelas faixas novas no chão limpo e detedizado, os funcionários com máscaras e luvas.
Primeira impressão, quer dizer, segunda, porque a primeira mesmo foi sentir uma cidade fantasma no caminho do aeroporto até o final da Asa Sul, pelo Eixão, que saudades destes termos, então vamos à segunda evidência.
No mercado, começo da manhã, muito do vazio, noto a presença de duplas que constato serem funcionários de empresas novatas de entrega de mercadorias em casa, eles notadamente desconhecedores de certos produtos grã-finos.
– Caraca. Você viu só o preço desta peça de presunto da Espanha? Conhece?
– Véi. Presunto eu só conheço meu tio que morreu anteontem desta Coroa.
– E este pedido aqui?
– Nunca comi.
Na continuidade das nossas compras antes de chegar de vez em casa para o confinamento possível. No pedaço destinado aos legumese e às frutas tropicais, recolho o limão verde para a caipirinha que vai ter feijoada, por isso as laranjas.
– Éca. Isto só pode ser o tal do virus sinótico. Que coisa.
– Que foi, Polaco?
No meio das laranjas amarelas aparentemente sadias encontro algumas visivelmente atacadas e derrubadas pelo mais nojento e embolorado mofo. Pego, com cuidado, meia dúzia das piores, coloca em cima das uvas, e fotografo.
Enfim, home sweet hoje, amanhã e até sei lá quando tenho a impressão que a coisa está estourando tal qual o previsto pelo idealizador desta Guerra Fria que sai de dentro de casa, pula para a mente doentia e invade as ruas para o que der e vier.
Adendo final:
Primo, o agradecimento permanente a todas as pessoas queridas que nos desejam uma boa ida de Berlim, uma boa chegada em Brasília, enfim, com sinceros pedidos de cuidados que continuam necessários e, com certeza, dúvidas a respeito desta re-volta num momento tão delicado para o povo brasileiro como um todo.
Adendo final:
A partir de agora entro em Quinzena de Silêncio.
Cumpro promessa feita à protetora dos polacos, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Matka Boska Częstochowsca – Mãe Preta de Częstochowsca.
Obrigado por ter trazido esta dupla de risco de volta a esta Pátria que nos Pariu.
Continuamos sub tuum praesidium – sob tua proteção.
Domingo aqui em Berlim, amanhecer nublado, pingos convincentes de chuva, contagem dos cinco dias finais para o retorno ao atual pico mundial deste sino-virótico-pandemônico demônio, ou seja, minha Terra Brasilis.
Pois acordo tranquilo porque, no aparente, confirmado o vôo Berlim-Frankfurt, na quinta, 28, pela Lufthansa e depois, idem und ibidem, pela Latam, de Frankfurt até Guarulhos e depois até Brasília, a capital da Esperança (!?). TAP kaput.
Eis que adendo no meio internético, wifi esperta, e me caio de novo no real do que não devo jamais me afastar, não mais aquele receio de sempre no ontem – será que o avião vai cair – agora, sim – será que eu vou morrer?
Enquanto nós coleguinhas da dita imprensa exaltamos nas manchetes tupiniquins o número de palavrões ditos em voz alta, minha atenção é ativada para um merecedor de prêmio mundial de comunicação ativa. Existe?
Falo, desculpe, parlo da manchete deste domingo (24/maio/2020) do jornal gringo New York Times, um primor, se me permite um comentário deste repórter desde o longínquo dia 07/07/1977, atesta meu registro na ABI.
Primo, a manchete do NYT, ainda que prefira a sub-manchete e já o digo a causa, ó nobre editor da prima página que, na banca carioca de jornais levaria a imensas discussões mais imediatas do que este futuro Wifi.
Adianto que no Brasil tivemos primeiro as primordiais manchetes do Jornal da Tarde, estive no último ano de O Jornal, do Rio, e depois nas magníficas sacadas no botequim no meio do mato do Correio Braziliense. Lembra?
Antes que me derrame nas lembranças dos mancheteiros brasukas que se foram deste Planeta Terra, nem deveriam mesmo ter continado, menos eu que morro de medo mas não do fato, vamos já à pré- premiada manchete do NYT:
U.S DEATHS NEAR 100,000, AN INCALCULABLE LOSS
(Mortes pelo coronavirus chegam aos 100 mil – uma perda incalculável)
Antes, adendo que sou mais a sub-manchete, parecendo insignificante, na prima e já premiada página frontal do jornalão ianque New York Times que “apenas” coloca os nomes dos MORTOS-FALECIDOS-IDOS-PASSADOS:
OS MORTOS PELO CORONAVIRUS
NÃO SÃO APENAS NOMES NUMA LISTA.
ELES SOMOS NÓS.
Com licença. Não aguento. Puta que pariu, viu?
Antes da foto, repriso o que já de manhã aqui em Berlim, quiçá quase igual em Nova Iorque, ainda madrugada no Brasil com as manchetes dos jornais tupiniquins repetindo as cenas porno-realísticas tipo “boquinha” na garrafa.
Junto à foto do NYT que aqui repito, na minha página do Facebook coloco o seguinte texto representativo da minha depressão, por que não?
“ Os mortos pelo CoronaVirus são NOMES. Chega de NÚMEROS. Estatísticas. Projeções. Picos e achatamentos. Foram vidas. Fora virus. Ide. Viu. Sem palavrão.
Agora, apague tudo o que acabo de escrever. Fique apenas com a sub-manchete deste domingo, 24/maio/2020, do jornal New York Times. Traduzo mas acho ela que devia de fato ser a Big Manchete: