Abaixo da Linha do Equador. Apesar de poucas as reações, nem todas partidas das estagiárias em questão no post abaixo, mas de pessoas mais velhas ainda do que elas, na verdade fiquei contente, principalmente com as ditas porradas, quase todas leves. Afinal, desafinar o coro dos contentes parece mesmo ser a especialidade deste Torquato Neto.
1- Parece que você não gosta de mulher. Esta foi uma. Na verdade, de mulher eu gosto, é bom demais, e se tem alguém que não gosta, não tenho nada contra isso, pelo contrário, até sobra mais. Do que eu não gosto é de mulher acomodada, envelhecida antes do tempo. Mulher madura não tem problema não, é até melhor porque o gosto se firmou. Se for verde, tem problema não, tempero nela.
2- Você pega pesado demais. Eu sei. Sempre fui assim. Por isso que não tenho DAS, promoção, prorrogação, subchefias e tal. Mas tive os votos para a CIPA (119), para a Comissão dos Empregados (57) e outro tanto para o Conselho Curador (neste perdi, fiquei para vice, não tem gosto nenhum). O problema de pegar pesado demais é ter problemas de coluna, de hérnia, de tendão, mas nunca de cabeça, de cérebro, de saco puxado, de boca torcida por nunca largar o osso. Eu largo.
3- Se você me acha uma estagiária acomodada é porque eu me espelho nas profissionais com quem trabalho. Você devia falar antes delas, certo? E respondo: Corretíssimo.
4- Até parece que você não tem mãe nem filho. E não é que quem pensou assim acertou? Não tenho mais mãe há muito tempo. Virou fantasma, das boas lembranças. E filho, graças a Deus, não tenho nenhum “aborrescente” me enchendo o saco, tipo “papai me empresta o carro.”
5- Aliás, só pra esvaziar um pouco o meu saco cheio desta falsidade toda estou indo passar uns dias em Paris. Acesse então o meu blog versão “óculos cor de rosa” só em cima do Ave, Paris, cheia de graça. Au revoir. Fui, mané.
Em Brasília também se morre – de tédio.

Em Brasília, 19 horas. Hoje, sábado, dia 19 de setembro de 2009. Isto não é propaganda do livro do Eugênio Bucci sobre os fantasmas escondidos nos armários de aço da Rádio Nacional. É mais uma morte. De uma vizinha aqui na 212 Sul. Pouco antes, tinha eu saído à janela, com vista para o aeroporto desta fazenda chamada Brasilha. Do sexto andar, olhei as crianças pulando corda, brincando de 31 e subindo na árvore para catar manga. É. Isto ainda existe aqui em Brasília, até porque fica um pouco longe da parte mais perigosa da cidade, lá na Esplanada dos Podres Poderes.
Então, tudo plácido, fui preparar minha caipirinha, conversei com meu primo, pelo computador, em Curitiba, sobre a grande menina Marina (mulher, negrinha, ex-analfabeta e futura presidente), com quem ele trabalhou lá no Acre, apesar de polaco.
Como quem não quer nada, coçando o saco, sábado à noite, caldinho de feijão, voltei à janela onde, de repente, vejo um cenário totalmente diferente:
No lugar das crianças, um grupo de curiosos, entre eles o de capoeira, vestido de branco, que volta do ensaio, isto acontece todos os sábados, a esta hora.
Em cima da calçada de pessoas, no lugar das crianças, está o camburão número 80140, da primeira delegacia de polícia civil do Distrito Federal. Ao lado dele, acaba de estacionar o rabecão número T 0138, de onde desce uma gatona, toda vestida de preto, calça arrebitada e revólver na cintura adocicada. Deu vontade de descer correndo, gravador na mão, olha, sou da Rádio Nacional mas vai que a morenaça me obrigasse a assoprar sei lá onde para testar o nível da minha presente sanidade.
Prefiro o cômodo ao alcance da minha mão direita. Interfono para o porteiro:
– Carlito, tem alguma coisa acontecendo no prédio?
– Não é nada não, seu Mamcasz. É que foi achada uma pessoa morta na entrada C, no apartamento do terceiro andar.
– Ah… foi só isso?
– Foi…
– Então, tá… bom serviço.
Senti ainda o cheiro de uma peixada nova, ao leite de coco, vindo do vizinho do quinto andar, voltei para a minha caipirinha, e aqui, neste meu computador de última geração, procurei pelo seguinte arquivo com um conto que eu fiz, faz uns tempos, sobre este prédio, cada apartamento colocado como se fosse um dos sete anjos do Apocalipse.
Começa assim, ó:
Diante de mim, aqui em Brasília, mora um prédio. Está sendo terminado aos poucos. A pintura no refazer. Desfazendo-se. Os fios multiplicados das antenas de TV escorrem à solta. É caminho de esgoto nas casas longínquas das diaristas . Gravo a exposição da individualidade das pessoas separadas em Quarto-e-Sala. São seis andares ao meu pensar, dispostos na altura máxima das Quadras de Brasília. Ditas Super. Esconderijo de gente acomodada ao fingimento à força. Concurseiros. São sobreviventes. Sonhadores. Acham que aqui está o ouro do Centro-Oeste. Eles arrulham, ralham e rolam, soltos, no ralo do esgoto. Falham no canto santo. No soprano, escuto eu o pranto deste
POMBAL DE GENTE INACABADA

Este meu conto, depois de descrever a vidinha besta de cada um dos vizinhos que eu acompanho, de longe, na surdina, ao binóculo, durante seis meses, aqui da minha janela, na 212 Sul de Brasília, lá pelas tantas termina que nem a pessoa encontrada morta, agora há pouco, no meu prédio, e de quem não tenho a menor idéia de quem seja, até porque se trata de mais uma entre as tantas rotativas personagens que se deslocam a Brasília pensando em vencer na vida.
Quem sabe seja algum militar pois este prédio era do EMFA, atual Ministério da Defesa, de que nós civis conseguimos ocupar meia parte menos um voto, justo pelo qual perdemos na guerra do condomínio. Quem sabe amanhã eu esteja nos jornais no meio de um puta mistério internacional envolvido com a venda de aviõezinhos de brinquedo para caçar sei lá o que, ou submarinos nucleares de quinta categoria. Quem sabe…
Mas neste momento, eu percebo apenas que acaba de acontecer o que há muito tempo eu destinei a esta pessoa, agora morta, minha vizinha, um dos destinos que estava no final deste meu conto.
Termina assim, ó:
Perco-me em delongas do fim que proporcionarei aos desconhecidos deste POMBAL DE GENTE INACABADA. Já fui responsável pelo sumiço de amores mil, amizades cem e paixão nenhuma. Exterminei pombos da paz. Envenenei ninhadas de gatos. Matei cachorro a grito. Atirei no escuro numa pessoa que se mexia a esmo. Cismo até que certa vez ajuntei cicuta à cachaça do santo e dei-a de beber ao pecador impuro.
E por que então eu não me sinto agora mais em condição de terminar este conto com um assassinato e tanto aqui neste prédio da 212 Sul de Brasília? Ou apenas uma morte, mesmo que ela seja a mais normal aqui por estas bandas, ou seja, a morte por tédio.
Ando de um lado ao outro do pilotis à procura de inspiração para esta minha tamanha incapacidade pistoleira. Inanimado, penso aqui comigo:
Alguma noite, alguém vai morrer neste meu prédio. Deus é grande. Isto vai acontecer.
E não é que, até que enfim, agora há pouco, minhas preces foram atendidas?
A única coisa que está me incomodando é este choro alto vindo lá de baixo. Não estou nem conseguindo escrever direito.
Acho que vou interfonar pro porteiro outra vez:
– Carlito!
– Que é, seu Mamcasz.
– Manda esta pessoa que está chorando calar a boca!!!
– Não dá, seu Mamcasz.
– Não dá porque, Carlito?
– É a filha da mulher encontrada morta.
– E EU COM ISSO, PORRA !!!!!!!!!
( O fato que se deu foi o seguinte. Uma mulher, professora, branca, perto dos 30 anos, mãe de uma menina com seis anos, que estava na casa da irmã, no Guará, casada com o marido que estava de viagem a Minas, foi encontrada enforcada num dos apartamentos deste Pombal de Gente Inacabada. Não virou notícia de jornal porque repórter que se preza, aqui em Brasília, noite de sábado, está mais é enchendo a cara de caipirinha e falando mal de tudo aquilo que a gente não coloca no olho-no-olho, olho-no-ouvido, olho-no-dedo. E, de fato, quase ninguém conhecia a ex-pessoa, que estava no prédio há mais de um ano, vindo de outro, aqui na mesma dita Super Quadra Sul de Brasília, uma ilha, sim senhor, cada um na sua. )
-15.783000
-47.917000
In God we trust ( será? )

Eleven of September 2001. In Brasilia, eleven in the morning. We were finishing the program to make Revista Brasil . I, Eduardo MAMCASZ – Rádio Nacional da Amazônia, VALTER Lima and Andhrea Tavares – Rádio Nacional de Brasília, José Carlos CATALDI – Radio Nacional of Rio de Janeiro; Alvaro BUFARAH – branch of Sao Paulo, Lucia Norcio – Curitiba, Sergio Oliveira – Maceió, Silva Diniz – Maranhão, Sandala Barros – Amapá, and others. The interval for the National Informa, executive producer Cleide de Oliveira, the coffee to smoking, when you could still smoke inside, looking at the TV draws our attention. Look at, guys. An airplane has just hit the Twin Towers in New York. And left to get more information.
Onze de setembro de 2001. Em Brasília, onze da manhã. A gente estava terminando de apresentar o programa Revista Brasil. Eu, Eduardo Mamcasz – Rádio Nacional da Amazônia; Valter Lima e Andhrea Tavares – Rádio Nacional de Brasília; José Carlos Cataldi – Rádio Nacional do Rio de Janeiro; Alvaro Bufarah – sucursal de São Paulo; Lucia Norcio – Curitiba; Sergio Oliveira – Maceió; Silva Diniz – Maranhão; Sândala Barros – Amapá, e outros. No intervalo para o Nacional Informa, a produtora-executiva Cleide de Oliveira, no cafezinho ao cigarro, quando ainda se podia fumar inside, olhando para a TV, chama a nossa atenção. Olha só. Um avião acaba de bater nas Torres Gêmeas de Nova Iorque. E partiu para pegar mais informações.

What seemed to be a simple news for so large Revista Brazil, on the radio network and a bunch of stations all over Brazil, ended up being one of the most historic radio reports have made throughout the existence of the living-dead ghost-arising-exceeded. The team continued to live up to eleven at night. That night, he had neither the traditional program The Voice of Brazil, through a special permit achieved by then president of Radiobras-EBC, the old radio journalist Carlos Zarur. I remember that the National Information noon and little, in my turn, suddenly, with an eye on the TV images (CNN), I stop talking and change the image for audio:
– And attention. The Twin Towers have just fallen. That’s right, folks. I’m seeing here, live. The Twin Towers of New York, from this moment, no longer exist. Gone. Collapsed. There is only a cloud of dust. Over.
O que parecia ser mais uma simples notícia para o Revista Brasil, em rede nacional de uma porrada de emissoras em todo o Brasil, acabou sendo uma das mais históricas coberturas de rádio já feitas em toda a existência dos vivos-mortos-fantasmas-advindos-ultrapassados. A equipe continuou ao vivo até onze da noite. Naquela noite, não teve nem o tradicional programa A Voz do Brasil, por meio de uma autorização especial conseguida pelo então presidente da Radiobras-EBC, o velho radialista Carlos Zarur. Me lembro que no Nacional Informa do meio dia e pouco, na minha vez, de improviso, de olho nas imagens da TV (CNN), eu interrompo a fala e mudo a imagem para áudio:
– E atenção. As Torres Gêmeas acabam de cair. É isto mesmo, gente. Estou vendo aqui, ao vivo. As Torres Gêmeas de Nova Iorque, a partir deste instante, não existem mais. Sumiram. Desmoronaram. Só resta uma nuvem de poeira. Acabou.

And with the fact made, the team has become a bridge that has not happened since World War II where he was my father, I do not even born, back in Italy, passing messages through the National Radio for my mother-in Paraná awaiting the return of the groom where I would leave and six brothers, all Polish-Brazilians. But this difference emotional? Easy. Again, in the fall of the World Trade Center, the same tactic used by the National Radio during World War II. The producer took the first and great action. Secured with Embratel exclusive lines from Brazil to the United States because, at that time, everything was bottled.
Just to finish my personal memories of that September .11 to 2001. The team of the National Radio began to receive, from all over Brazil, calls from listeners who had relatives there and in New York who were not able to speak, much less learn from them. ” With the phone here, the more there, and the bridge of Embratel, we put a lot of people live, with great emotion, crying and even had a news because it was a window in a building near where he narrated to us, live all that was watching the Twin Towers in New York. Until the Consulate of Brazil in New York, began to use our bridge to join Brazil.
E com o fato feito, a equipe passa a fazer uma ponte que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial onde estava meu pai, eu nem nascido, lá na Itália, passando recados através da Rádio Nacional para a minha futura mãe, no Paraná aguardando o retorno do noivo de onde sairia eu e mais seis irmãos, todos polaco-brasileiros. Mas por que este desvio emocional? Fácil. Repetimos, na queda do World Trade Center, a mesma tática usada pela Rádio Nacional durante a Segunda Guerra. A produtora tomou a primeira e grande providência. Garantiu com a Embratel linhas exclusivas do Brasil para os Estados Unidos porque, naquela hora, estava tudo engarrafado.
Só para terminar minhas lembranças pessoais daquele September,11-2001. A equipe da Rádio Nacional começou a receber, de todo o Brasil, telefonemas de ouvintes que tinham parentes lá em Nova Iorque e com quem não estavam conseguindo falar e muito menos saber notícias deles. Com o telefone daqui, mais o de lá, e a ponte da Embratel, colocamos muita gente, ao vivo, com muita emoção, choradeira e até notícia porque teve um que estava numa janela num prédio perto de onde narrou para a gente, ao vivo, tudo o que estava vendo das Torres Gêmeas de Nova Iorque. Até o Consulado do Brasil, em Nova Iorque, passou a usar a nossa ponte para unir brasileiros.
Moral:
This historic coverage of Radio Nacional (Rio-Brasilia-Amazon), 11 September 2001, eleven in the morning to eleven at night, was quickly forgotten in the mold of any public office in Brazil, and that team, who did not die and today is here as a ghost (Silva Diniz, for example, with whom I shared an always pay off – strong liquor cassava – in my trips to St. Louis).
Moral:
Esta histórica cobertura da Rádio Nacional ( Rio-Brasília-Amazônia ) , 11 de Setembro de 2001, das onze da manhã às onze da noite, foi rapidamente esquecida, aos moldes de toda repartição pública brasileira, e daquela equipe, quem não morreu hoje está aqui presente como fantasma ( Silva Diniz, por exemplo, com quem eu sempre dividia uma quitira – cachaça forte de mandioca – nas minhas idas a São Luiz).
-15.783000
-47.917000

Madrugada de final de agosto para começo de setembro em Brasilha. Ladrão invade TV Brasil, em busca de notícias, pula a janela, acorda o guarda e leva chumbo. Na pressa, larga a caneta, quer dizer, a chave de fenda, avança para o guarda, vê a arma, joga o corpo contra o vidro, causa prejuízo à viúva (União) e se manda, olhando antes o buraco da bala descansando na viatura que agora dorme nua na rua, ao lado do lixão da EBC.
O fato aconteceu mesmo, não é mentira, as fotos estão vívidas, não são montagem, o quase crime aconteceu de madrugada, as fotos foram tiradas às 08h12m (01-set-2009) quando ainda não havia aparecido polícia nem perícia. A prova do crime, inclusive, que é a tal da chave de fenda, continua jazendo na mesa ao lado da janela, junto à pasta de arquivo do último especial da TV Brasil: PRACINHAS – CAMINHO FEB. E aqui entram Os Fantasmas da Rádio Nacional.
Ao tirar a foto, senti o sopro de meu pai. Leia o introito para rever que meu primeiro contato com a Rádio Nacional foi bem antes de ter nascido quando meu pai, pracinha polaco-brasileiro, lá na Itália, mandava recados, pela Rádio Nacional, para minha futura mãe, ambos agora fantasmas. E na volta, bom, vontade grande, dois polacos juntos, saiu este que vos escreve, em 1948.
Então, existem ou não existem Os Fantasmas da Rádio Nacional? Hein?

A marca da bala:

Mais sangue:

Ao fundo, o bar em que jantam Os Fantasmas da Rádio Nacional. Nome singelo: Assados e Grelhados.

A arma do crime:

Atenção. A Polícia chegou agora (10h11m07s). Isolou a área. Ninguém se aproxima. Tirar foto? nem pensar. Tá pensando o que? Cadê a chave de fenda? E o sangue? este, o gato comeu.