China



Já está nas bancas de jornais (?) nosso novo livro. A Berlim do Pandemônio também pode ser lida no formato e-book (?) nas principais distribuidoras, em todo o mundo. Ou encomendado para impressão. Assim, economizamos papel. Outra coisa: as trinta primeiras páginas podem ser lidas, totalmente de graça. Basta clicar no link (?) abaixo, do Clube de Autores. Que mais? A Sinopse do livro, a original, adiantamos aqui:

Um grito no pé da orelha

Nosso diário íntimo nesta Berlim do Pandemônio foi escrito pela dupla de risco Polaco & Madame, por termos mais de 70 anos de Ida, aliás, bem vivida.

Ele mostra o que acontece com a gente nos meses de março, abril e maio do ano do Rato, 2020, enquanto confinados em Berlim.

Continua nos meses de setembro, outubro e novembro do ano do Tigre, 2022, na mesma Berlim, agora na condição de libertos.

O espaço do tempo (junho de 2020 a setembro de 2022) passado em Brasília, totalmente presos, preferimos deixar no modo silencioso. De fato, ainda continuamos na  insegurança e inquietude em cima do infindo porvir cheio de pânico e incerto medo, certo?

 Justo Berlim porque é nosso pouso rotineiro nos últimos tempos, na verdade desde antes da queda do famoso Muro que dividiu, por mais de meio século, esta capital do Ano Zero, assim chamada por causa da quantidade de vezes históricas em que caiu de quatro, completamos agora, com a volta, na procura dos bares e amizades, algumas desfeitas na insistência do Pandemônio.

O reencontro, depois de dois anos passados reclusos, em Brasília, dos amigos nos mesmos bares que ficaram fechados por quase 800 dias,  em Berlim, isto não tem preço, e  isto procuramos descrever exatamente como aconteceu, repassado no mesmo dia ao manuscrito, aqui para esta Berlim do Pandemônio.

Que esta nova leitura sirva de comparo de comportamento na batalha adotado pelos arianos, lá, e por nós, ladinos, cá. Eduardo Mamcasz & Cleide de Oliveira, somos sobreviventes em união instável desde 1980. Já passamos por mil e um riscos. Alguns exemplos:

1 – No começo do namoro, há mais de 40 anos,  despencamos de carro na cachoeira do rio das Almas, interior de Goiás, numa madrugada de lua cheia. Sim.

2 – Quando explode a usina nuclear de Chernobyl, esta dupla de risco estava a poucos quilômetros da fumaça que se espalhava pela Europa Ocidental.

3 – No então lento trem, de longa distância, no interior da China, compartilhando os beliches no imenso vagão, éramos os únicos brancos, justo no dia em que  o piloto do avião espião ianque derruba o avião chinês, e por isso o agente comunista nos confunde, exigindo uma forma de contar rápido, para os demais passageiros, que somos brasileiros. Aí, mudou.

4 – A pé, meia noite, na travessia da ponte fronteiriça entre a Guatemala – chegamos de ônibus – e o México,  passamos pelos guardas ávidos por uns dólares, até pegarmos o lotação lotado para o centro da cidade indescritível.

 5 – Passamos sete meses longe de Brasília, no vagar sem destino, Do Alasca a Jerusalém – rendeu uma série de livros – pena que o tempo voa rápido, sempre no sentido da volta.

6 – No rio Ganges, na Índia, na mesma canoa, vemos o guia beber a água com as mãos, enquanto um cadáver, amarrado nos bambus da derradeira jangada, sem condições de pagar a cremação, passa por entre nossos dedos incrédulos na mente.

7 – Lógico que contamos com momentos incríveis na lembrança, tal comer poeira, de carro, no interior do Alasca ou, na então Leningrado, Rússia, dezembro, andar a pé por cima da água do mar, por conta dos 20 graus Celsius negativos.

Então, siga o nosso relato, por vezes mórbido e cruento, desses Dias de Ira em que relatamos a nossa insegurança e inquietude do por vir.

No ano do Rato, 2020, fomos a Berlim em março e voltamos a Brasília em junho, fazendo tudo na hora errada, até porque voltamos do Piso, lá, ao Pico, aqui.

No ano do Tigre, 2022, voltamos para Berlim, na fase de liberação coletiva, depois de dois anos, parecidos com séculos, morrendo de medo de sermos dois entre os quase 700 mil mortos pela Covid no Brasil.

Boa leitura a todos os nós confinados, ditos libertos, que enfrentamos o mesmo vírus lazarento, morfético, filho da puta, dito no início nascido dos morcegos lá na China,  e que na verdade matou, de verdade, milhões ao redor do mundo. Pior. Ainda continua matando, mas sem a mesma intensidade. É o que todos esperamos, mas sem uma certeza total.

Portanto, nós somos uns privilegiados e temos direito ao grito retido desde dezembro de 2019, hoje explodido:

– E S T A M O S V I V O S ! ! !

Pois agora, se quiser ler as primeiras trinta páginas do livro A Berlim do Pandemônio, de graça, ou encomendar o mesmo, modelo e-book, ou mesmo impresso, clique abaixo:

https://clubedeautores.com.br/livro/a-berlim-do-pandemonio


Em 2020, Ano do Rato, ficamos presos em Berlim, no pique da Corona-China. Voltamos para o Brasil num vôo de emergência. Agora, 2022, Ano do Tigre, estamos de volta. Berlim continua a mesma? Não. Tem mais gente dormindo na rua. Por isso o título: DO INFERNO AO INVERNO EM BERLIM. VERÃO. Então nos siga nesta continuação do nosso livro “Diário Pandemônico – Berlim Ano Zero.”

Pandemie-Tagebuch – Berlin Jahr Null.

Im Jahr 2020, dem Jahr der Ratte, waren wir in Berlin gefangen, im Hecht von Corona-China. Wir kehrten mit einem Notflug nach Brasilien zurück. Jetzt, 2022, Jahr des Tigers, sind wir zurück. Ist Berlin immer noch dasselbe? Nein. Es gibt mehr Menschen, die auf der Straße schlafen. Also der Titel: FROM HELL TO WINTER IN BERLIN. Dann folgen Sie uns in dieser Fortsetzung unseres Buches “Pandemie-Tagebuch – Berlin Jahr Null”.

From Hell (Inferno) to Winter (Inverno) in Berlim.

In 2020, Year of the Rat, we were trapped in Berlin, in the pike of Corona-China. We returned to Brazil on an emergency flight. Now, 2022, Year of the Tiger, we’re back. Is Berlin still the same? No. There are more people sleeping on the street. So the title: FROM HELL TO WINTER IN BERLIN. SUMMER. Then follow us in this continuation of our book “Pandemic Diary – Berlin Year Zero.”

Velho polaco baiano, estou agora de novo em Berlim (2022 – Ano do Tigre). Primeiro Mundo? Mais ou Menos. More or Not. (+ or -). Ôxe. Traduza-me, Gúgui. pro Alemão, tá? Volto acá depois de dois anos. Na última, saio abatido (2020 – Ano do Rato), depois de três meses preso no pico da então “Coronachina do Morcego”. No ora, cada reencontro é um abraço caloroso. Coisa rara no espírito germânico. Você? Vivo? Ya! Sim! Yes! Nossa! Uau! Outro abraço. Quem diria.

Mas tem as ausências, tipo a “Bonitona”, o “ Mãozinha”, ainda bem que ontem, no Sandman, encontro a “Russinha”, no antes bela na guitarra do rock e hoje cadente. Pergunto: E aí? E ela: sabe como é. E eu: Não pense no hoje. Espere o Amanhã. To morrow. Não morre. E completo: Posso te abraçar? Ela praticamente desmaia em meu abraço. Ao lado, o “Ciganinho”, dez anos em Berlim, vindo do interior, do lado ocidental, nos olha. Ele ressurge aos poucos. Prepara novo disco. Para quando? Ano que vem, 2023, no Verão. Agora, Inverno. E eu: Inferno. E ele: Posso usar isto no próximo disco que estamos preparando? Lógico. Dank. Imagina, meu. Mas usar o que meu caro Tim K?

DO INFERNO AO INVERNO EM BERLIM. VERÃO!

Gente. People. Cara. Mina. O que eu quero, mas não começo, na dúvida, a falar aqui, agora, não é nada disto, mas o que acontece na saída do Sandman, noitada de toda segunda, aliás, quando a gente ressuscita, na chegada, dois anos purgando o fechamento, filho do dono, no balcão, só falta largar tudo e vir nos abraçar.

– Vocês? Vivos?

– And you???

Quando o pai dele chega, o Helmut, fala no ouvido:

– Vai lá e abraça este casal brasileiro de volta.

– Vivo?

Ora. Revividos. Por pelo menos mais três meses. A prima cerva é por nossa conta. O preço subiu. Sabe como é. A Corona. Outro abraço. E a vida continua. Nós, na mesma mesa de antes. Mas o que eu quero mesmo falar aqui neste reblogado é o seguinte:

Estamos de saída, rua escura, perto do meio da noite, Neukolln, bairro tido turco, a caminho do metrô, linha não considerada segura, por conta dos usuários, nem todos migrados, verdade se diga. Após o tapume da obra, no quase escuro, escadaria abaixo, frio medido na garganta, encontro-me com na re-volta, ao contrário, pois no antes, acá em Berlim, sempre me entendi com as crianças. Agora, entendido estou com as velhas sobrevividas. Pois este é o fato. Volto pois ao início do dito deste Ano do Tigre (2022), nem tanto, ainda não redimido do Ano do Rato (2020). Pois recito o havido nesta meia-noite acá em Berlim dos sempre quase Mil e Um Anos:

Na descida da escada, no meio de jovens pseudo-hippies-nerds-punks-etc&tais, ladeio-me a uma senhora, velha, decaída, sim, mendiga da noite e da rua. Ela tenta cada degrau abaixo, apoiada no carrinho cheio de coisas catadas no lixo, viu, Berlim não é Primeiro Mundo. Lógico que eu estaco, encosto, olho nos olhos, ofereço ajuda para a descida da velha mendiga alemã, ela, lógico, não entende meu brasileiro nem eu o germânico dela. Quer dizer. Na hora, em dois gestos, tudo fica claro. A mendiga alemã (no gestual):

– Pode deixar, polaquinho. Eu consigo descer sozinha. Obrigada, tá.

E eu, polaco baiano:

– Tudo bem, mina. Pense no Amanhã. Não no Ontem, muito menos no Hoje. To Morrow.

Eu fui. Ela veio, bem no lentamente. Lá na frente, na espera do metrô, mais demorado no começo da madrugada gria, eu sentado ao lado da Ma Dame, a quem conto o Corrido, de repente passa pela gente a Querida Velha Mendiga Alemã. Ao lado dela, o carrinho com os achados no lixo, que também serve de muleta. Pois agora confesso a minha emoção nesta volta a Berlim, depois de dois anos daqui saído no Pique da Covid.

Concluo:

Ao passar por mim, agora sentado, a Velha Senhora Mendiga Alemã, aqui em Berlim, 2022, Ano do Tigre, pós Pandemia, ela elegantemente me faz um sinal, com a mão direita, livre da bengala, que entendo de imediato como de Amizade, Agradecimento, Reconhecimento, sei lá o que mais. Nobre, a velha senhora mendiga berlinense alemã se volta para mim e sussurra:

  • Cuide bem de Madame porque aqui é muito perigososo para gente de bem que nem você.

O turco, o indiano, a ucraína, o sírio, o africano e os representantes das 190 nacionalidades perambulante em Berlim, eles continuam indiferentes, bem germânicos. Postados ao longo da estação, eles não percebem. Ou fingem. Eu só sei de uma coisa. Nesta noite, ela, a velha senhora moradora de rua neste Inferno de Berlim, com certeza, vai dormir sonhando comigo. Espero que minha ação a aqueça de alguma forma. Porque está frio. No Corpo e na Alma.

Inté e Axé. Tschuss, né.


1

Título

A pomba do polaco gira,

vira, vira, vira.

Girou, viu?

Virou.

Vivi.

Vi.

Uma Pandemia Só.

Eduardo Mamcasz

Poeta Quase – Zen

This is a mild prose of this sympathetic polish with one einsamen taube dove solitary, repito, com uma solitária pombinha, ela, nos 18 do primeiro tempo, eu, muito do plus sexagenário, at this sunday em que acordo com tudo virado, embora não seja avesso a coisas e tais, contudo, reabro a solitária janela para a tela de uma longa obra inacabada da minha vida devida

Primeiro ato de fato neste dia não infausto, portanto, fausto. Ela me molha, a cândida pombinha, neste cerrado tempo em prisão domiciliar, mais de ano sem ânus nasal, ainda bem que ausente da distante tornozeleira alta, estilo salto eletrônico, digna de ser usada nos domingos ainda pandemônicos, mesmo que morrendo de vontade de surfar na terceira onda a caminho do inferno de vez

Valha-me Lili, primeira mulhar deste mundo, derrubada por Eva, as duas saturadas do chato Adão que não topava uma balada, ora, vamos em frente. Afinal, uma pulga polaca incomoda meus pensamentos eslavos incorretos. Vamos nesta até o quase fim, ele está bem próximo, desunidos, qual rebanho na luta pelo bom beijo na boca da piranha na travessia da vida. E por que? Ora, porque …

A minha pomba,

Rôla ou até rôta,

É mina assumida.

Você rola na rota reta e

Acoxa na minha colcha.

-Arretada!

Me achego no meio

Da língua estendida.

Você pomba segura

No que ora do meu?

-Vem cá minha pombinha!

Meto medo mas

Cochila na coxia.

Nela se amarra e

A coxa me acorda.

– A corda!

Sinto gosto de colcha nova

– Gosto

Do cinto da noiva.

Pressinto o gosto eminente

De uma outra boa aloprada.

No cio.

Por um fio, eu me viro

Filho polaco homófono

De uma nua puta luta

.-Vai, filha, gira, Pomba rôla!

-Giro!

– This is the end, my beautiful,

Positivo baiano e man polaco.

– Eu já fui, pomba.

-Volte, mamzinho!

– Que foi?

– Cê mesqueceu!

– Só me alembre.

– Me alembrando.

– No que do eu?

– Pombinha no cio!

– Quer que eu gire?

– No que?

– Bomba!

– Ok.

E você aí, ó pessoa abelhuda na ida,

Na espera do que para me desligar?

Pranto

Pronto

Ponto

Final.

– Tem liga, polaco.

– Eu que te ligo.

– Liga. Sim.

Negativo homo,

Positivo, moça.

– Tem mais.

– O que?

– Vô voar, vó.

– Não vá, vô.

– Vou só, sô.

– Ide!

– Fui!

– O K !


neste domingo inda pandemônico

pronto para surfar inté na terceira onda

seguinte min@

this is a mild prose of this sympathetic polish with once one onde einsamen taube dove solitary repito com a solitária pombinha aos 18 do primeiro tempo at this sunday em que acordo com tudo contudo virado abro a janela para a tela da longa obra e me olha uma cândida pombinha deste cerrado tempo em prisão domiciliar inda que ausente da tornozeleira alta ou do salto eletrônico

descrevo

a pomba

rôla rôta

regira

róla na róta reta

e acoxa na cocha

retada

se achega no metro

da linha entendida

segura

vem cá pombinha

meto o medo e ela

cochila

a cocha se amarra

na tua coxa

a corda

gôsto de colcha nova

no cinto da noiva

assinta

gosto da eminente

cochia a aloprada

no cio

fio

polaco homófono

gira

fia

pomba rôla

giro

this is the end mein beautifull

e positivo hein polaco baiano

eu já fui pomba

pois volte mam

que foi

cê mesqueceu

ô me alembre

antes abata a abelha que nos escuta

tô me lembrando

do que

minha pombinha intelecta cheia do cio

quer que eu gire

bomba

o que

ok

e ocê aí pessoa abelhuda e ida

espera o que para me desligar

tem liga polaco

te ligo

liga sim

a Deus

positivo homo

negativo moça

vamos voar

vou vô

vá só

domingo 23 de maio de 2021

pranto

ponto


Em prisão domiciliar neste ano sabático da moléstia, impedido de viajar, agravo meus queixumes vis por conta da obra no prédio que me habita, impossibilitado da vista outrora aberta para a lua cheia e os aviões que passarolavam diante da minha janela da alma incrustada no sexto e último andar brasílico desta asa sul do plano classe média plus.

Na saída de agorinha, para fins alimentícios e beberírricos potencialmente descartáveis, entro na salinha improvisada do mestre de obras e, bem polaco distraído que sou, capaz de no repente não me reconhecer diante de um espelho, confabulo com a criatura presa no cotidiano do trabalho afinco:

– Bom dia. O fulano está?

– Sou eu.

Queixo caído, envergonhado mas nem tanto quanto merecido, desculpo-me e presto atenção na figura trabalhadora bem mais magra e decaída de há 12 meses passados quando ele começou a obra de restauração do prédio que me habita perseguindo, junto com seus peões paraibanos, os detalhes cotidianos em prol desta minha pobre classe média aprisionada em todos os sentidos.

– E como é que você está, tudo bem – pergunto na lembrança, no meu íntimo, do fato de que o mestre de obras diante de mim, emagrecido e acanhado diante da vida, tinha apanhado, há nove meses, o demoníaco vírus ainda chinês e, mesmo assim, continuado na labuta diária, comendo poeira e lama para que o prédio desta minha pobre classe média se renove a contento.

– Na verdade, desde que peguei esta covida, aqui mesmo nesta obra, ainda sinto dores na coluna, respiro com dificuldade, ando meio cansado e desanimado da vida, sem apetite para nada, tem vezes em que até me esqueço de quem eu sou na verdade sei muito bem, não é mesmo?

Puta que pariu! Palavrão feio, sei-o, mas me senti abaixo do cu do sapo sarnento. Vontade de dar um abraço solidário, fato proibido desde até quando não se sabe, eu totalmente desmobilizado e, com razão, desmoralizado que deixei para lá o motivo da aproximação e, bem tipo imbecil, confesso, apenas consigo, sem pensar, balbuciar:

– Mas você pelo menos está sentindo o gosto das coisas?

– Ah, sim. O cheiro, mais ou menos. O gosto da merda, sim, senhor.

Mais idiota ainda, acrescento e me retiro para esta minha cela tampada para o mundo exterior:

– Ah, que bom. Se não estivesse sentindo o cheiro, aí sim seria pior.

Final:

Silêncio na geral. Engulo a saliva. Subo para a arquibancada. Fico em casa. E daí, porra?

Fui. Inté e Axé.


No meio da matutina andança, Quaresma Pandemônica 2021 – seria obra do Destino – sou atraído pelo quadro abandonado na borda do lixo doméstico, quase no final das 400s da Asa Sul, Brasília, Detrito Federal, Brasil.

Diante de minha pessoa, no momento muito da insegura, eis que me aparece a Virgem Senhora, moldurada aos prantos, com o filho morto no colo, todo cheio de sangue, enfim, traído e lascado de todo. Resultado:

Abraço-me aos dois, apresento meus pêsames – foi covid? – e convido-os a caminhar juntos mas não por muito tempo porque, logo na sequência, a Virgem e Filho me imobilizam para ler o conjunto da obra ali conscrita:

Diploma da Irmandade de Jerusalém.

Declaro, por meio deste instrumento, Alvaro Clemente da Costa irmão remido da Terra Santa. Assinado: Frei Solano – frade menor. Rua do Sanatório, Cascadura, Rio de Janeiro, Guanabara, Brasil.

Na sequência, vejo a data: 3 de dezembro de 1959.

No ato me escorre no peito a lembrança Do Eu Menino, 10 anos de idade, sozinho no trem, interior do Paraná, de saída do lar materno, por vontade própria, para nunca mais voltar. Decidido a ser padre capuchinho, frei menor.

Aperto no coração o quadro emoldurado da Virgem e o Filho, este acabado de ser descido da cruz onde, pouco antes de colocado no colo da mãe, a única presente, havia chorado que nem um ser humano que não era, pois divino:

– Pai! Por que me abandonaste? Afasta de mim este

– Cale-se!!!

FIM DA CAMINHADA!


– Florzinha! Tô indo no mercado para comprar umas coisinhas porque quero preparar um final de semana bem gostoso para o meu Polaquinho.

– Deixa que eu vou. Faço este sacrifício. Descanse um pouco, Madame.

Em um minuto eu já estou com a senha do cartão na cabeça, o mesmo no bolso, três sacolas a tiracolo…

– Três por causa do quê? Olha a listinha aqui. Dá para trazer na mão. Leva uma só, meu polaquinho mascarado mais lindo do final da Asa Sul.

Vou. Primeira desobediência. É para ir no mercado classe B, mais perto de casa. Evito o classe A, aceita até cartão corporativo. Não tenho mesmo. Desembarco sorrindo no mercado classe C, operado por gente da classe D, nas 400, quem conhece a História de Brasília entende do que estou falando. É que nem o entorno da banca de jornal quando eu moro em Bonsucesso, no Rio. Sabe a fita dorex para impedir que a gente folheie as páginas além da primeira colocada na parede para fins de discussão, essa sim bem da democrática. Conforme o assunto, é precciso fazer uma vaquinha para comprar o jornal e tirar a dúvida principal, que nunca vem na manchete, cambada de imprensa maliciosa. Só para vender.

De volta ao mercado classe C das 400 de Brasília:

– Bom dia seu Polaco. Quanto tempo. Cadê Madame? Deixa antes medir a quentura do seu corpo.

(Pausa).

– Como estou?

– Você já esteve bem mais quente, seu Polaco.

Explico um adiantamento a respeito deste mercado classe C das 400. Todo mundo se conhece, cliente e empregado. Quando a gente volta de viagem, Madame sempre tem uma lembrancinha para os mais chegados. Nesta época de sumiço, todos se vigiam. Cada reencontro é um alento na esperança mútua. Tudo nos trinques – máscara, medidor de temperatura, faixas no chão, álcool à vontade, daí a primeira reclamação:

– Quando é que vão servir aquela cachacinha, hein?

Lista de Madame à mão, alembro-me da ordem de, além do distanciamento, não ficar batendo papo e voltar mais logo ainda para “meus” braços. Primeiro, o espaço dos legumes:

– Oi seu polaco.

– Oi neguinha.

Outra explicação antes que me envolvam na onda racista. Nada disso. Na primeira vez, peço licença para a linda pessoinha, sorriso largo, sempre disposta, amiga de todos.

– Posso te chamar de neguinha?

– Mas é lógico, seu Polaco. Mas vou logo avisando.

– O que?

– Se me chamar de loirinha, faço o maior auê. Quer ver?

– Não, ne-gui-nha.

– Cadê minha Amiga?

– Está descansando.

A resposta é uma gargalhada de verdade, ela, baixinha, no empurro do carrinho superlotado de frutos para reposição na bancada porque o dia do sacolão foi ontem, hoje não. E ela:

– E por acaso Madame tem o que fazer além de cuidar de você, seu Polaco?

– … (gargalhada mútua).

– Mas deixa minha amiga descansar quanto quiser. Ela merece.

Dos legumes (uma abobrinha só, dois tomates no ponto, três pimentões verdes, um par de limão siciliano, aquele amarelo). No previsto meu íntimo pensar desde as primeiras horas deste dia, acrescento meia dúzia de limão verde, sabe aquele próprio para caipirinha? E vou indo entre outros como vai seu polaco e madame não veio por causa de que como ela te deixa solto etécetera e tal.

Antes de dobrar à direita, na última fileira de prateleiras, em direção ao biscoito e o bolo só serve se for de maracujá ou então o de limão porque a gente sente o gosto quase na hora de engolir está me ouvindo meu polaquinho?

– Bem nítido, Madame.

– Está onde?

– Parado aqui na prateleira das…

– Diga logo.

– Bebidas.

– Sabia. Tua oferta para ir sozinho e ligeiro estava estranha mesmo.

– Qual bebida? Já sei, não precisa nem falar.

– Vodka.

– Nem pensar.

– Mas é da marca boa e está escrito “super-oferta”. Só 22 reais cada litro.

– Está bom. Mas uma só, tá? E volta logo. Estou com saudades.

– De que, Madame mais impetuosa de todo o Plano Piloto? Saudades de que?

– Saudades do bolo de limão é que não é.

Para que. Confesso que fico desestruturado no ato. Pego dois litros de vodka, já com a desculpa na ponta da língua molhada. Uma para mim e a outra para meu irmão agemeado. E vou direto para o caixa sem pegar mais nada.

– Oi seu Polaco. Quanto tempo. E Madame?

– Bom dia, tchau, se cuidem, fui.

– Tá com pressa hoje, hein seu Polaco.

Antes de finalizar, se é que ainda tem gente na cola, no ouvido, duvido, mesmo assim adendo dois fatos dignos deste relato de outra escapadela anciã no meio deste pico doido:

1) – Junto aos caixas, tem os empacotadores. Na mesma laia, ou seja, na mesma intimidade respeitosa mútua com os clientes conhecidos. Noto um deles mais afastado. Pergunto:

– Tudo bem, rapaz?

– Comigo, tudo ótimo.

– E por que está afastado dos outros?

– Eles hoje não querem papo comigo e dizem que tenho que manter distância.

– Mas deve ter um motivo para tanto.

– Tem sim.

– Qual?

– É que eu nasci Flamengo e vou ser Flamengo até morrer. Sou campeão. Como se diz mesmo, seu Polaco, você que é estudado, pela vez 38?

Diante da gargalhada campeã mesmo que no isolamento, reajo à altura:

– Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem pergunta.

– Que é isso, seu Polaco. O senhor é sempre tão educado. Por que isso?

– É que eu nasci Botafogo-Botafogo-Botafogo campeão desde quando mesmo?

Daí foi uma risada só e lá vou eu de volta para os braços de Madame. Ato 2:

– Polaquinho, que saudades.

Ela vai logo abrindo os embrulhos para desinfetar e, o principal, inspecionar.

– Cadê o meu bolo de limão?

Diante do rosto pseudo de choro latente de Madame, eu Polaco no ato confesso que me alembro que com as duas vodkas no saco esqueço-me do restante da lista. Por isso, faço o possível para não transparecer tamanha indignidade.

– Pois então, Florzinha. O bolo estava tão feio, tão seco, tão sem graça…

– Trouxesse assim mesmo. Você sabe que estou com desejos.

– Espera aí. Não comprei no classe B (na verdade, foi no C) porque Madame Florzinha merece o bolo de limão do mercado classe A. Tô indo e já volto. Jazinho mesmo.

The End.

Na verdade, vou até o mercado classe B (e não o A) e compro o bolo de limão. Volto correndo, porque não é indicado ficar na rua, tendo casa, nestes tempos pandemônicos, ainda mais para quem tem reservados os braços de Madame, quer dizer, agora não porque ela está às voltas com o bolo limonoso e um cafezinho depois vem o cigarrinho depois o livro que está lendo. Só me resta, ao canto, que nem cachorro com sede, de que mesmo, finalizar lastimoso:

– Homem sofre, vou te contar.

Inté e Axé.


Fase pós-pandemônica (13)

Em 24/05/2020

Quase fim

Do mim?

nytimes1

Domingo aqui em Berlim, amanhecer nublado, pingos convincentes de chuva, contagem dos cinco dias finais para o retorno ao atual pico mundial deste sino-virótico-pandemônico demônio, ou seja, minha Terra Brasilis.

Pois acordo tranquilo porque, no aparente, confirmado o vôo Berlim-Frankfurt, na quinta, 28, pela Lufthansa e depois, idem und ibidem, pela Latam, de Frankfurt até Guarulhos e depois até Brasília, a capital da Esperança (!?). TAP kaput.

Eis que adendo no meio internético, wifi esperta, e me caio de novo no real do que não devo jamais me afastar, não mais aquele receio de sempre no ontem – será que o avião vai cair – agora, sim – será que eu vou morrer?

Enquanto nós coleguinhas da dita imprensa exaltamos nas manchetes tupiniquins o número de palavrões ditos em voz alta, minha atenção é ativada para um merecedor de prêmio mundial de comunicação ativa. Existe?

Falo, desculpe, parlo da manchete deste domingo (24/maio/2020) do jornal gringo New York Times, um primor, se me permite um comentário deste repórter desde o longínquo dia 07/07/1977, atesta meu registro na ABI.

Primo, a manchete do NYT, ainda que prefira a sub-manchete e já o digo a causa, ó nobre editor da prima página que, na banca carioca de jornais levaria a imensas discussões mais imediatas do que este futuro Wifi.

Adianto que no Brasil tivemos primeiro as primordiais manchetes do Jornal da Tarde, estive no último ano de O Jornal, do Rio, e depois nas magníficas sacadas no botequim no meio do mato do Correio Braziliense. Lembra?

Antes que me derrame nas lembranças dos mancheteiros brasukas que se foram deste Planeta Terra, nem deveriam mesmo ter continado, menos eu que morro de medo mas não do fato, vamos já à pré- premiada manchete do NYT:

U.S DEATHS NEAR 100,000, AN INCALCULABLE LOSS

(Mortes pelo coronavirus chegam aos 100 mil – uma perda incalculável)

Antes, adendo que sou mais a sub-manchete, parecendo insignificante, na prima e já premiada página frontal do jornalão ianque New York Times que “apenas” coloca os nomes dos MORTOS-FALECIDOS-IDOS-PASSADOS:

OS MORTOS PELO CORONAVIRUS

NÃO SÃO APENAS NOMES NUMA LISTA.

ELES SOMOS NÓS.

Com licença. Não aguento. Puta que pariu, viu?

Antes da foto, repriso o que já de manhã aqui em Berlim, quiçá quase igual em Nova Iorque, ainda madrugada no Brasil com as manchetes dos jornais tupiniquins repetindo as cenas porno-realísticas tipo “boquinha” na garrafa.

Junto à foto do NYT que aqui repito, na minha página do Facebook coloco o seguinte texto representativo da minha depressão, por que não?

Os mortos pelo CoronaVirus são NOMES. Chega de NÚMEROS. Estatísticas. Projeções. Picos e achatamentos. Foram vidas. Fora virus. Ide. Viu. Sem palavrão.

Agora, apague tudo o que acabo de escrever. Fique apenas com a sub-manchete deste domingo, 24/maio/2020, do jornal New York Times. Traduzo mas acho ela que devia de fato ser a Big Manchete:

OS MORTOS PELO CORONAVIRUS

NÃO SÃO NOMES NUMA LISTA.

ELES SOMOS NÓS.

Então adendo:

FOMOS.

Inté!

nytimes


22/04/2020

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   Diário da Pandemia em Berlim. Indo para os penúltimos capítulos desta sina sino-virótica. Nesta quarta, 22 de abril deste infame 2020, é o fim do campo de concentração a domicílio na Alemanha. Começando pelas lojas. Estão reabertas. Desde que se limitem ao espaço de até 800 metros quadrados de área usada por no máximo 40 pessoas a cada vez.

 

   Mas como o alemão historicamente é detalhista por demais e nunca por de menos, uma série de procedimentos precisam ser adotados pelo povo nesta falsa onda de liberou geral o confinamento social. A partir de segunda, 27, e não hoje, 22, a pessoa pode sair livremente às ruas sem ter que dizer o motivo que justifique o ato, caso parado pelo polícia multante.

 

   Algumas coisas ficam para quatro de maio, caso dos salões de corte de cabelo, unha, maquiagem e tal. Pela proximidade menor de um metro e meio, que continua sendo exigida, tanto o cliente quanto o barbeiro vão ter que continuar mascarados, sim. A partir da mesma data, vai poder até 20 pessoas no enterro ou no batizado e até 50 nos cultos religiosos em mesquitas, igrejas e sinagogas.

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   Tem mais liberação da prisão, desculpe, do internamento, falei que alemão é bem do sintomático. A partir de 31 de agosto, pode ter show com até duas mil pessoas. A partir de 15 de outubro, libera para cinco mil. Sem data prevista para abertura de qualquer restaurante, bar, mesa na calçada, pub, discoteca e puteiro, afinal, fica difícil manter o distanciamento.

   Para testar na prática o que a liberação representa, esta dupla de risco Polaco & Madame saiu ontem às ruas de Berlim, a pé mesmo, distância mais prolongada pelos bairros ocidentais e residenciais Wilmersdorf/Charlottemburg, em torno das avenidas Kudam, Kant e outras com lojas e até shoppings que também têm permissão para reabrir desde que o tamanho, a distância, o número, blá, blá sim.

   De fato, na rua de pedestres Wilmersdorf, com muitas obras no momento, a experiência demonstra um futuro liberto incerto porque a população local, principalmente os descendentes dos otomanos e dos czaristas, comportam-se tal qual os latinos conterrêneos, em risco certo por conta das bocas abertas nas risadas ou nas mordidas no kebab vindo para cima de você. Errado.

   De qualquer forma, a partir de hoje está acabado o isolamento social (horizontal/vertical/diagonal) aqui em Berlim. É chegada a hora de testar a manada que ficou no conforto lamentado de suas casas com salários garantidos. No acordo com o manual da OMS. Não a toa, repito conselho dado na hora do anúncio da libertação pelo vice-presidente da Academia de Ciência da Alemanha (RKI):

 

“O vírus não se foi. Não há fim à vista para esta pandemia

O número de casos pode aumentar de novo.

A situação ainda é grave.”

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Então, tá.

Inté e Axé.

Seja o que Deus/Alá/Jeova continuar  querendo.

Tschuss.


O “Diário da Pandemia em Berlim” pretende neste ensolarado domingo ser menos down e levar em conta as amizades ao redor deste mundo hoje imundo. And so, sem ser pretensioso, muito menos pernicioso, não repasso today meus pensamentos eslávicos que não levam ao up os que estejam mais precisados do que este escriba, agradeço, ainda beneficiado pelas deusas de outrora.

Difícil ser otimista, mas vamos lá, polaco, faça um esforço, largue este copo de vodka e deixe que um pouco do seu vire muito do outro. Pois vamos lá. São vários os motivos para este meu jeito instável de estar neste quarentena que deixa de ser o brinco da quinzena e de fato se encaminha para os 40 dias. Quiçá a prisão se dilate e faça com isto que eu sinta deleite por continuar …vivo.

 

Vamos aos fatos. Nos Zaps de ontem, primeiro a cunhada em Brasília preocupada com a madrasta, no Rio, da filha, em Carolina do Norte – USA. A segunda mãe, médica, internada com o Corona. A primeira mãe, amiga, preocupada. A filha das duas, prefiro reproduzir as palavras: “A Bela está chateada mas ela está confiante de que tudo sairá bem”. E completa a prima mãe cunhada:

“Ela fica me acalmando, sempre positiva em tudo!!!”

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Pois continuemos a prosa solidária porque no final tem liga. Outro Zap de ontem foi com o amigo Soter, Brasília, editor do meu primeiro livro, Eu Trovão, nos tempos do mimeógrafo. Hein? Fazia tempo que a gente não se conversava. Sei lá o do porquê. Por que? Antes, a fala dele:

-Olá, polaco. Não fala mais com os amigos?

Bem no estilo eslavo, respondo:

– Só escuto.

Resultado. O amigo antigo me convida para participar, mais onze, do sarau online “A Poesia Liberta” para posterior postagem, via You Tube, nas redes sociais, no que ele é bom. Contínuo, continúo, desculpe-me os assentos, ora, acentos fora da hora. Ora, ora. Eu não sou louco. É pouco. Tem ainda tantos amigos e amigas ao redor deste mundo e, inclusive, aqui em Berlim. Todos longe. E perto. Juntos?

Na sequência do pensamento, neste sábado, hoje é domingo, a dupla Polaco & Madame passa de manhã na feira semanal de rua, no distanciamento legal, para comprar os primeiros aspargos da estação, leve caminhada, lenço à boca, parada para um café to go na praça e, às sete da noite, outra saída legal na rua bem perto de casa para três manifestações musicais rápidas da vizinhança.

Na continuidade do raciocínio inicial, de que tenho tantas amizades ao redor deste mundo e, que nem eu, quem sabe não tem alguém neste momento precisando ouvir uma palavra amena, apesar do brinco deste conhecido mode de ser deste polaco. De noite, ligamos os apetechos técnicos da sala e juntos, agarrados, sim, acompanhanos o show online Um Mundo Só, da OMS. Saúde!

Das quatro horas de convívio íntimo globalizado destaco do show, para este pseudo finalizamento do diário neste domingo quase indo para a segunda, o cantado pelo Stevie Wonder. Nome da música: Lean on Me. Ou seja: Conte comigo. A música é do gringo negro Bill Withers. História de vida incrível. Família miserável das minas de carvão de West Virginia – USA. Morreu agora em março.

Para terminar a prosa de hoje começo pelo final da música, tudo a ver com o minha concessão de que temos que mudar o espírito decadente diante do virótico momento. À luta. Eia. Sus. Cantemos juntos:

Please, swallow your pride

If I have things

You need to borrow

For no one can fill

Those of your needs

That you needs

That you wont let show.

Por favor, engula seu orgulho.

Se eu tiver algo

De que você precise

Lean on me

Conte comigo.

Ninguém pode ajudar

Se você não me contar

Que está precisando, tá?”

– Escutou?

– Sim.

– O que?

– Isso aí.

– Então me liga.

– Tá.

– Inté e Axé.

– Tschuss.

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Foto do “ursinho” colocado no meio dos entulhos da construção, aqui perto de casa, em Berlim, de um novo prédio no lugar do que era a da Frei Universitat. Não consegui pergar para mim. Você quer para si? Se sim, volto lá e peço. Sim ou Não? This is the question.

https://www.letras.mus.br/bill-withers/43066/traducao.html


O que seria de nós reclusos sem os serviçais

( O mais recente capítulo do livro em gestação

Diário da Pandemia em Berlim )

Da varanda da cela desta cadeia pandemônica ora em Berlim, primeiro no primo andar, agora no sétimo céu, acompanho de cá lá no chão a classe operária que um dia iria ao paraíso  que, enquanto aqui neste inferno virótico, trabalha de cara aberta, sem manter distância mútua, no afã, entre outros, de catar o lixo nosso de antes, no depois e, principalmente, enquanto dure esta quarentena que se alonga no incerto.

Tem ainda os meio próximos, os serviçais da faxina geodetetizante da nossa moradia coletiva mas selecionada. Junto com eles, chegam o carteiro, o entregador de marmita, e para quem não ousa o êxito  as compras do mercado  nesta fase de tudo online, só quero ver como vai ser quando esta sociedade voltar a ficar offline, offemprego, offescola, offquasetudo da vida.

Falei aqui noutro dia do acompanhamento que fiz, desde o primeiro andar, ao fazer o café, quando no prédio do outro lado da rua, sempre às 06h45m, saía uma mulher de meia idade com a função de retirar para a frente da rua quatro conteiners de lixo, de cores diferentes. Quinze minutos depois chega o caminhão de lixo, cada dia de uma cor diferente, afinal somos uma sociedade toda reciclada.

Tem ainda, igual aqui em frente, mas neste caso mais do alto, os laboriantes do leste europeu trazidos para comerem poeira suja de cimento misturada ao asfalto e ferragens das obras do metrô que garantem ser de essencial urgência para os que não se aventuram nem a pegar um vento à janela, vai que o coroa chinês adentra o sacrossanto lar transformado em creche, asilo ou como se diz, home office.

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                 Was wurde aus uns Gefangenen ohne die Diener werden?

Pois acordo hoje e olho para o parque em frente, que começa a ficar verde primaveril, e onde a classe média pseudo-encarcerada a domicílio pode deitar na grama e ensolarar suas ancas durante um certo tempo, ou então dar vazão ao tratamento dos amados cachorros ou fingir que se pratica algum tipo de exercício com as crianças aqui não mimadas e loucas para voltar ao convívio social das escolas.

O cenário da servidão a serviço dos que temem o coronavirus, parecendo que aos serviçais ela não alcança, nesta manhã começa pelo trator que apara o gramado, o caminhão que recolhe as folhas, o romeno que passa o aspirador nas quinas da calçada, enfim, até os expiradores de água, diversos, no afã de deixarem tudo limpo e cheiroso porque logo mais chegam os humanos e os caninos enfurnados nas celas.

Deixo então para o final o propósito desta ata, espero que não a final, afinal ninguém sabe  nosso sino destino, para contar um episódio genuinamente alemão. No silêncio, chegam dois caminhões. Dois motoristas. Um com o enorme guindaste. Atrelado ao outro, uma pequena máquina. Aguardemos. Já descrevo este ato que, com certeza, é de extrema importância para a sociedade, diria essencial. Detalho.

O motorista do primeiro caminhão sobe na cadeira na base do guindaste e ele mesmo aciona o controle e vai subindo até o meio da árvore verde e frondosa e começa, já com a motoserra acionada, a cortar cada galho maior do que o outro. Na calçada, o motorista do outro carro pega os galhos, inclusive os troncos, coloca na máquina que tritura tudo e joga na carroceria devidamente protegida pela coberta. Viva a sociedade reciclada. Fuck the virus.

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Que deviendrions-nous prisonniers sans les serviteurs

Daqui de cima, superior, de longe, protegido,  não vejo em nem um e nem outro qualquer sinal de mascarado, enluvarado e tal, mas estão bem arrumados. Ao final dos cortes e da trituração, avança o melhor jeito alemão de trabalhar, mesmo que no meio de uma pandemia virótica desalmada apenas para alguns setores. O segundo motorista pega um rastelo, recolhe as folhas caídas na calçada, e depois varre tudo.

Ao final, o primeiro motorista, que havia subido, já está ao chão e recolhe a escada, a serra, o guindaste, os cones de trânsito que desviaram os carros de uma das duas pistas. O outro motorista aproveita para limpar as peças usadas, bem como a carroceria traseira e guardar o rastelo, a vassoura, o aspirador e, enfim, pergunto aqui de longe, de cima, superior:

  • Você não se preocupa  com este tal Sino-Corona-Virus19? 

Enquanto os serviçais continuam a vida dita essencial para a sociedade melhor situada, independente dos riscos que pegar ou não o coronavirus, morrer ou não, acontece agora, lá no Centro dito Mitte, o encontro nacional, online, lógico, da Chanceler Angela Merkel e todos os governadores da Alemanha. Baseados nos conselhos da Ciência Moderna, bem protegidos, resolveram prolongar o isolamento social.

– Mais ainda?

Pois então deixemos os serviçais trabalharem em paz, lógico que não me esqueço dos médicos, enfermeiras, motoristas de ambulâncias, faxineiros de hospitais, pegadores de teste, fornecedores de máscaras, policiais e até os guardinhas que vigiam a sociedade protegida para que no parque em frente da minha cela domiciliar  não se achegue por demais e tome seu sol nas ancas à vontade. Pelados, sim; sem máscara, jamais. Heil!

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                     ¿Qué sería de nosotros prisioneros sin los sirvientes? 

Adiantando alguns pontos que começam a valer depois do acordo feito entre os governos federal e estaduais da Alemanha e anunciados agora há pouco:

– A partir de segunda, 19 de abril, podem abrir lojas de até 800 metros quadrados de área.

– A partir de 4 de maio, algumas coisas a mais são permitidas, tipo salão de cabeleireiro e, principalmente, a volta gradual às escolas.

– Até 30 de agosto,  nada de grandes eventos tipo shows e até mesmo jogos de futebol.

– Continua proibido, só Deus sabe até quando, os cultos em igrejas, mesquitas, sinagogas e outros do mesmo teor.

– A mesma coisa, tudo fechado, para os bares, restaurantes, teatros, óperas, cinemas e discotecas.

Tudo isso, como acaba de dizer a Angela Merkel, bem tipo dona de casa, porque a Crise do Coronavirus, na Alemanha, alcança apenas um “frágil sucesso interino.” Ou seja, nada de se encostar um no outro, embora o povo alemão seja mesmo do tipo arredio. E continuar na rua, trabalhando, independente da condição, só mesmo os serviçais desta sociedade devidamente protegida. Ela. Eles, não.

Pronto. Terminado o relato de hoje neste Diário da Pandemia em Berlim. Normalmente, eu sei como começa e não tenho idéia de como termina este relato que tem sido diário, desde 11 de março de 2020, quando aqui cheguei para três meses legais de permanência, aliás,  como esta dupla de risco, Polaco & Madame, tem feito há muito tempo e mais ainda quando deixou de ser serviçal pública da comunicação.

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Inté.

Axé.

Tschuss.

https://www.morgenpost.de/vermischtes/article228910311/Coronavirus-RKI-Fallzahlen-Deutschland-Merkel-Corona-Kontaktsperre-Massnahmen.html


sabado 2okPois então. Primeiro sábado de abril, acho que o quarto aqui em Berlim, da dupla de risco Polaco & Madame e, desde ontem com as novas leis de convivência social acertadas pelos chamados ministros do Senado de Brandemburg. Pois não seja por isso. Escapemos juntos desta prisão domiciliar, sétimo andar, linda vista, sol gostoso clamando “vem cá”. Vamos?

Primeira regra. Passou depois de alguma discussão entre verdes/pretos/vermelhos/brancos. A pessoa, sim, desde que não seja de risco/afetada/adoentada, pode e deve dar uma voltinha ao parque próximo, aconselha-se a companhia de uma criança ou cachorro, este com a devida identificação, inclusive o recibo do pagamento de imposto anual.

Acontece que toda regra alemã sempre tem uma contra-regra mais germânica ainda e isto acontece em tempo dito normal, imagina agora neste inferno. Exemplo. Parou no parque para pegar um sol. Agora pode levar um cobertor para estender na grama. Mas não pode demorar. Tem que ficar pelo menos cinco metros um do seguinte. Mas não fica por aqui/ali/alá.

Primeiro objetivo, até porque se a Polizei resolver te parar, tem que ter uma direção explícita: nosso mercado de rua de todo sábado, ao lado da igreja evangelista, perto aqui de casa, na Hoho, lembrado? Regra usada, até porque desde ontem a multa é de 50 euros na hora, ora, e se eu não tiver, é melhor que tenha, mané chucrute. Turista? Ih. Fudeu. Já falo o do porquê.

Mas a regra seguida desde o começo/meio/fim é o de ninguém chegar a menos de um metro e meio da outra pessoa, a não ser que prove ser íntima na cama, e no caso da feira semanal de rua, isto vale principalmente na banca de legumes – pegamos um cebolão e um pedaço de gengibre fresco da roça – e até na de pães/doces/tortas/presunto – desculpe – vivo,

A meta, caso a polícia nos pare no meio do caminho vira um pedra no sapato, é a mesma feira de todo sábado, ou seja, aquele pão turco especial, vale a pena, um euro e meio e dá para uns quatro dias, se bem comido. Traduzo: Anatolisches Brot (Milchfladembrot). Pão ázimo do deserto. Leva wasser, salz, backmittel, sesam e, lógico, a milenar farinha velha do mundo.

sabado 3okPronto, seu polizei, está satisfeito com o motivo da escapada da prisão domiciliar deste casal de risco, aqui denominado Polaco & Madame? Apenas lembro que você, alemão, fez coisa muito mais feia do que este coroa chinês, quando invadiu, de mãos dadas com os russos, a minha querida Polônia, na Grande Guerra, só porque nossas mulheres são bem mais gostosas que as vossas.

– Florzinha. Cala a boca. Vai que o seu guarda entende “espanhol”.

Pois não é que o seu guarda alemão entende “portunhol”?

– Só não concordo com a parte das mulheres. As brasileiras, polaco, e não me contenho diante de vossa Madame, são as mais gostosas. Ou não?

– Ya.Ya. Ya.

– Podem continuar a escapada. Mas sem demorar. E finjam que não são turistas.

– Por que?

– Ide, polaco. Mania de vocês, eslavos, falarem demais diante de nós, germânicos. Ah. Se quiser pode deixar a madame brasuka que vou achar ó-ti-mo.

– Vamos, Florzinha feminina. Não estou gostando nada desta prosa gostosa.

– Posso ficar mais um pouquinho? Quero dar Boa Páscoa pro Seu Gualda.

Pois fomos. Para onde? Por aí. Sempre fingindo um rumo. Sem parar muito. Entrada na banca de jornal para a revista em inglês para os expatriados – Exberliner – que ainda não chegou. É mensal. Uma foto rápida, sem parecer turista, na vitrine da loja fechada, virótica, pandemônica, com um belo motivo de Páscoa ora chegando. Costumava ser dez dias de feriado geral. Não mais.

– Circulando, Madame.

– Venha, meu polaquinho. Mas não se esqueça. Dois metros de distância de mim.

– E como é que eu polaco vou caminhar sem agarrar nos seus peitinhos brasucas?

– Não vai!!!

– Caminhar???

– Venha!!!

Fui, né. Mas agarrado. Levei ao pé da letra.

Aposto que você pessoa abelhuda está perguntando aí:

– E as regras de convivência nestes tempos pandemônicos aprovadas nesta sexta-feira pelo Senado de Berlim?

Pois respondo bem ao modo polaco de ser:

– Agora não, pô!!!

Então tá.

– Não esquece de levar noutra mão, a livre, o quilo de aspargos colhidos na roça nesta madrugada, e que vou preparar daqui a pouco lá em casa, tá, mein polaquinho querido. Isto, continue. Assim. Ai. Ui. Óia!!!

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Este capítulo, do dia 04/04/2020, faz parte do livro em andamento “Diário da Pandemia em Berlim”. Sem prazo previsto para acabar. Faz parte dos projetos junto ao NanoWriMo e Clube do Livro. 

Inté e axé.


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Sábado no #aquiberlim. Quarentena. No décimo. Solzinho lá fora nos convida. Dia de feira de rua. Ao lado da igreja na Hohenzollendamm avenida. No vero, 3 graus. O velho Inverno na briga com a jovem Prima Vera. Hallo Grupo de Risco (no antanho tempo, era a turma da Aids). Vamu lá. Olha o gorro. O cachecol. A cueca de lã 100 por cento. O gel. O lenço. O ca… a 4. Fui.

Enfim, na rua. Fora de casa. Na asa presa ao risco. Vai, coroa. O sol, de sacanagem, some. Cai para 2 graus. Vento a 25 por hora. Se segura na Madame, Polaco. Na feira, o pão turco, mais o queijo francês, mais o aspargo germânico, sem contar o ramo de flores silvestres. Depois, no mercadinho, para a vodka polônica mais a raiz forte, gengibre, limão siciliano, aniz, já viu.

Resumindo a escapada da correntena (misto de 40 mais corrente) Aqui em Berlim, situação a mesma quiçá de Brasília, com lojas fechadas e, infelizmente, todos os bares, e são muito mais do que os do Rio de antigamente, com música ao vivo, alguns 24/7, traduzo, sete dias 24 horas em cada um, isto sem contar os ainda sobreviventes, mas fechados, clubes vale tudo.

Escapada da quarentena. Voltamos ao relato. Depois da feira de rua, o mercadinho. Conhecidos nos dois. O mesmo proceder. Distância de quase dois metros um do outro. Se espirrar, o vizinho se caga todo e não tem mais papel higiênico. Mas o alemão é um povo já curtido no ficar de joelhos, estaca zero, para ter que se reerguer mesmo que das merdas feitas por ele próprio.

E o relato, polaco, de fato? Pois sim. Eu e Madame no escape da Quarentena Aqui em Berlim. Sabadinho. Gasalhados. Hallo de longe. Sorriso discreto. Distância, na fila, de quase dois metros um do outro. Mas não sinto um ar deprê coletivo, pelo contrário. Dentro da realidade, tanto na banca da feira livre de rua quanto no caixa do mercadinho,a mesma bronca:

– Olha aí, polaco, fique longe da Madame, já!!!

Lógico que isto está no vertido para o tupinítico linguajar originário do parvo lusitano que ora se ousa penar europeu. Mas, no germânico, o cara do caixa adverte quem se achega do caixa para que se afaste do que está na frente. Mesma coisa no queijo, na carne, na verdura, na flor da feira de rua que acontece todo sábado aqui na esquina de casa, em Berlim, Wilmersdorff.

Pois aconteceu assim, no vertido para o nosso real daí. Madame, sempre no passo acelerado, achega-se uns dez passos na minha frente junto ao caixa. Eu, polaco na calmice baiana, esbarro na senhora coroa que se pocisionara na vez anterior e me encosto na Madame quente, natural do tropicano Caruaru. Foi só me achegar que o moço do caixa dá a bronca em mim:

– Polaco!!! Desencosta das meninas, das jovens e das coroas. Ponha-se na sua linha de risco. Está pensando que está na Bahia no seu tempo de hippie? Já para lá. Já. E eu quase ia falando Ya. Ya. Quando se me deparo com esta mais linda declaração de amor:

– Péra lá seu chucrute. Você é um rapaz muito do lindo. Veja só, mein polaquinho, ele não parece o Brad Pitt? Mas escute aqui. Este polaquinho é meu marido e ele se encoxa em mim quando e quanto quiser. Ouviu bem?

Antes de contar a reação do bem intencionado e, aceito, vamos lá, mais do que lindo alemãozinho, confesso que não me lembro de Madame, neste 40 anos de convívio, ter-me chamado de marido, até porque recusou meu convite, feito à janela da casa do Monet, perto de Paris, mas deixa isto para lá e voltemos ao relato da escapadela da quarentena destes dois coroas que nos colocamos em situação de risco em troca de uns respingos de vida.

Prague Holesovice Expats Cross Club by Mamcasz

Pois continuo o relato. O alemãozinho mais do que lindo do caixa do mercadinho perto de casa aqui em Berlim deu um sorriso, tipo tudo bem, deu um olhar para a Madame e eu repliquei com um olhar para ele mas do tipo qualé, chucrute, e por cima arrematei, tudo em alemão:

– Estou colado nesta Madame aqui porque tenho direito e corro o risco que eu quiser.

– Ya. Ya.

– E tem mais. Tenho todo direito de correr qualquer risco até porque nesta noite a gente teve sexo duas vezes e meia, tá?

– Ya. Ya.

– E tem mais. Olha bem aqui para nós dois coroas.

– Ya. Ya.

– Então me virei para a Madame, a coroa na fila babando saliva no lenço, e completei, desta vez me virando para o lado, encoxando de verdade, umbigo no umbigo, braço no antebraço, lábios nos entreveros, e …

– Ya. Ya.

Tasquei o maior beijo de língua, na frente de toda a fila do mercadinho, e só voltei para alcancei a glote lá no profundo da garaganta e arrematei:

– Agora, Madame, correndo para casa porque quero completar a metade que ficou faltando para a gente chegar aos três sexos do meio da noite até agora.

– Ya. Ya.

– Você, não, alemãozinho lindo. É a Madame!!!

Final:

Bom mesmo foi o aplauso das coroas todas que também tinham dado uma rápida escapadela da quarentena porque não tem virus que suporte esta vontade de viver.

– Ya. Ya.

– Ai saco, alemão. Por que não te calas?

– Mein polaquinho. Deixe o alemãozinho lindo para lá e vamos logo para casa.

– Ya. Ya.

Fui. Inté, Axé e Tschuss.

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Brasileiro no estrangeiro em tempos de coronavirus. Será que vai ter o mesmo tratamento daqueles levados de volta desde a China em avião presidencial da nossa Fabinha? Pois então, vamu lá.

Na primeira situação de risco, cá na Europa, este polaco e a madame, foi na explosão da usina nuclear então soviética de Chernobyl. A gente estava a uns 100 km do local. Agora, outra situação de risco, ainda que, voltando, no Brasil a situação não difere de cá.

Com visto de permanência até junho, residência garantida até lá, além da promessa de seguro viagem de que, excepcionalmente, atenderá neste caso pandemônico, a escolha nossa foi a de não regressar no momento, mesmo com a ameaça de fechamento. E daí?

Daí que em sendo brasileiros, temos a proteção de nossos funcionários itamaratecos, através do que aqui se chama BRASILIEN BOTSCHAFF. Será mesmo? Então, vejamos:

Comunicado da Embaixada do Brasil na Alemanha:

A Embaixada do Brasil em Berlim faz saber aos interessados, por meio da Comissão de Seleção designada pelo Embaixador (Nota do autor: na verdade é uma mulher, então, Embaixadora) do Brasil, que realizará processo seletivo para a contratação de 1 (um/a) Copeiro/a-Arrumador/a para Residência. Os interessados deverão remeter documentação, por via postal registrada, até o dia 20 de março de 2020.

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Ops. Desculpe é o cacete. Isto está sim na página coronática-pandemônica da Embaixada do Brasil aqui em Berlim. Na verdade, o anúncio valendo a partir desta quarta-feira, 18 de março de 2020, é o seguinte, preste atenção seu brasuka:

Em atenção às medidas de prevenção ao contágio pelo COVID19, o Setor Consular da Embaixada em Berlim, a partir do dia 18 de março corrente, quarta-feira, limitará o atendimento presencial apenas aos casos de comprovadas emergência e necessidade, que serão avaliados caso a caso e agendados com antecedência.”

Pois na parte resignada aos comentários tupínicos, cito o abaixo, embora não colocando o nome do patrício aflito aqui na Alemanha que não pode entrar na Embaixada do Brasil a não ser virtualmente. Diz ele:

Estamos tentando agendar online no Ausländerbehörde de Berlin para pedir o Visto de Estudante. Site diz que o agendamento está indisponível desde 28/02. E pessoalmente não aceitam, por causa do coronavírus. O que fazer? “

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Pelo sim, pelo não, a Embaixada do Brasil na vizinha Áustria que, nos tempos do Adolfo fazia parte da Germânia, colocou o seguinte alerta na página online:

Recomenda-se aos brasileiros de passagem pelo território austríaco que avaliem antecipar o retorno ao Brasil, a fim de evitarem ficar bloqueados em caso de novas restrições.”

Se acontecer alguma coisa com brasileiro aqui na Europa e precisar do ofício da Pátria Amada, as embaixadas ainda completam nos avisos quase fúnebres:

Tendo em vista a necessidade de adequação da Embaixada do Brasil em Viena para proteger a saúde dos consulentes e dos funcionários, informamos que a partir de segunda-feira, 16 de março, o Setor Consular funcionará exclusivamente em regime de plantão. O atendimento ao público será feito por telefone ou e-mail.”

E completo. Sem choro nem vela. Inté e Axé. E seja o que Alá-Jeová-God quiserem. Amém, uai.

embaixada

http://berlim.itamaraty.gov.br/pt-br/News.xml

https://mamcasz.com/2019/04/17/embaixada-do-brasil-em-berlim-e-atacada/


Pois então. #coronavirus. Quem passou a gona para quem – Trump or Bozo? Mas estou aqui com minha cara #angelamerkel em #berlin. E chega de asterisco. Ah se te risco do Mapa, Coroa. Sem esta, Polaco, te Virar para Quem, hein? #heill

Vamos nesta. Agora, sério. Coronavirus em Berlim. Aqui, o Karnaval der Kulturen acaba de ser cancelado. Ao contrário do Rio. Ou Choro? Mas vamos ao prático, estou aqui em Berlim, no dia a dia, metrô lotado, ônibus cheio, nem 1 mascarado.

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(Photo by Mamcasz – Spandau – Berlin – 12-03-2020 – Free use.)

Rápido ao Ponto da Prosa. Dói hoje porque amanhã tenho mais. Ou não. Sei lá. Duas rápidas Observações de Fato Aqui em Berlim nestes tempos de Coronavirus:

1 – Rickenbacker’s Music-Inn. Existe desde os tempos dos Gringos que, junto dos Ingleses, Russos e, por incrível que pareça, os Franceses, ocuparam manu militari Berlim de 1945 até 1990. Juro!!! Volteando. Ricken. Bar com música ao vivo todas as noites. Quase no sempre não paga para entrar. Só para beber. Também para o comer. Revolteando … complete logo, polaco, cadê o coronavirus na tua Berlim? Primeiro, mudou a forma de se cumprimentar. Como? Tudo bem que alemão, mesmo, nunca foi de se chegar mais, um abraço afetuoso, beijo então, que os russsos – polacos, não – na boca, nem pensar. Seguindo:

1-a – Esta vi no Ricken. Os músicos, na chegada, no preparo, não se tocam mais (tocam, sim, depois, a música, pois, pois). No lugar do aconchego, veja só. Por causa do #coranavirusemberlim , os artistas estão se cumprimentando com toques mútuos nos cotovelos. Isto mesmo, Perguntei a causa. É que o cotovelo foi desprezado pela Organização Mundial da Saúde. ???. Não gospe mais na mão, menino. Só no cotovelo. Por isso, e pela Coroa de Berlim, os músicos estão se cumprimentando com toques mútuos dos cotovelos. Juro!!! Fiz o mesmo. Tente aí. E eu #aquiemberlim.

2 – Outra. Esta eu vi na estação do metrô linha que vai só Sudeste Migrante Islâmico até o Noroeste Migrante Eslavo de Berlim . Exatamente foi no Meio do Fio, na estação U Berlinerstrasse. Strasse não é estresse. É estrada mesmo. E o que eu polaco vi nestes tempos de Coronavirus aqui em Berlim?

2-a – Dois negos, africanos, que existem aqui em Berlim, recebidos nos tempos comunistas, do lado da DDR, querendo estalinizar África e América Latrinas. Dois negos na boa, sem máscara, no metrô, ao se encontrarem fazem a seguinte saudação coronavírica:

2-b-a- No lugar do aperto de mãos, ou punhos, voltados para cima e para os lados, a moda agora é:

2-b-b- Primeiro passo, ao ritmo de uma dança parecendo samba, sei lá, meu, sou polaco. Primeiro, o calcanhar esquerdo de um nego toca o calcanhar direito do outro africano. E depois?

2-b-c- Segundo passo, no mesmo ritmo. O calcanhar direito, meio torto, do segundo nego, toca o calcanhar esquerdo do primeiro preto-alemão. Pronto, falhei.

Quase final:

Enquanto escapo da Coroa Aqui em Berlim, amanhã conto como vai ser, ou foi, minha ida daqui a um cadinho, noite-madrugada, no Rock Sage im Berlim. Toda quinta-feira, tem duas bandas de rock bem do alternativo. A partir das 11 da noite até sei lá que horas, ora. Redondeza dita suspeita para espíritos mais brancos[, ops, brandos de espírito. Hoje, a convite do amigo líder da banda Happy Dog Brown. Amanhã, eu conto. Volte aqui, tá ô meu, minha nossa Coroa Aqui em Berlim. Tschuss. Com ou sem Vírus. Sem Máscara. Não sou o Zorro. Sou Polaco, pola. Fui.

georg elzer1

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