Da Série “Poema de Vagar”.

tim lopes by mamcasz

Acordo na madruga com o mano Tim Lopes só sussurrando – difere de só urrando – na beira desta minha polônica orelha. Sou todo ouvido. Não duvido. Sim, divido:

– Polaquinho!!! Só quem brinca com as palavras sabe a graça que elas têm. Cadê o brinco?

Pois então. Acordo no ato. Pulo nos trinques. Olvido o ouvido. No memo, o termo do tempo da Poesia Marginal. Nem Berlim, nem Brasília. Rio da “sêde” matada nas paredes de Santa. “Séde” do Clube do Ócio. Nada de Nado no Ódio. Obrigado. Por tudo, com tudo, contudo, contínuo, “continúo”.

. . .

– Dá-lhe, polaquinho maluquinho do coquinho soltinho!

– Por que não te calas, Tim?

– Qualé?

– Qual é!

– “Uma cadeira vazia no bar…

– Que tem?

– um vazio na gente”!

. . .

Desjejuo lerdo, lento abro meu livro de cabeceira . “A Chama”, do maximorum Leonard Cohen, edição portuga “Relógio D’Água”, página 139, aberto ao acaso, xô ocaso, no poema “DEVAGAR”:

“ Chego quando chegar / Sem sinal de partida” .

. . .

Contínuo, continúo, consoante o acordado. Sou mais a vogal. Do “ah…” ao teu “uh…”.

– Qualé, polaquinho?

– Qual é! No meio tem o i.

– No meio do quê?

– Das cinco vogais sem as quais, mano Tim, nunca irias “brincar com as palavras”.

– O microfone é todo teu. Use-o na vontade.

– Pois sinta.

– Não tô sentido nada.

. . .

Repita comigo. Repila se tiveres peito. Peido no acento. Assento. Senta! Sente? Sinta! :

– Á. É. Í. Ó. Ú.

Outra vez, até adentrar no Ú.

– A. E. I. O. U.

– Qualé, polaquinho?

– Uso isso sempre nos papos poéticos nas escolas de crianças e sempre dá, certo, Tim?

– Falai!

– Falo.

– O meu.

– O teu.

– O nosso pão de cada dia. Te dou hoje…

– E no meio tem o quê?

– O “i”.

– E daí?

– Por que não te calas, Tim?

A. E. I. O. U.

No meio tem o i. Em cima dele tem o que?

– Dele quem?

– Do “i”. Id. Nem Ying nem Yang. O Id. O terceiro ângulo do triângulo. Mata o Mono. Afasta o Duo. Sobrevive o Trio.

– Um é bom, dois é pouco, três … é demais!

– Cala-te, Tim. Este não é o teu estilo. A não ser agora, no eterno etéreo.

– Desculpe, polaquinho. O microfone continua na sua…

– Mão.

A. E. I. O. U.

No meio, tem o i. Em cima dele, o ponto. Sem ele, seria o Nada. Ato contínuo, continúo:

Agora, sem o ponto, pegue o I e estique dos dois lados, cada qual até o Infinito. Direita e/ou Esquerda nas tuas mães mãos.

– Vou dar linha à pipa porque o vento está a favor, polaquinho.

– Fique mais um pouco, Ngrnh d Pstr.

– Cadê as vogais?

– O polaco comeu.

– E o que faço com o ponto que estava em cima do i agora que só estou com a linha nas minhas mãos?

– Nada!

– Mas não tem água.

– Estou no ar.

– Com o quê?

– O pingo do i.

– Cadê?

– Soprei. Só ficou a linha.

– Do trem?

– Então, polaquinho, dê linha linha à pipa …

– Que o vento está a favor.

– E o i?

– Está na tua mão.

– E o ponto?

– Assoprei.

– Não faz isso, polaquinho.

– Isso o que, Tim?

– Não desperdice. Atice. Aspire.

– O que?

– Isto aí.

– Agora, expire.

– O que?

– A fumaça do ponto em cima do i.

– Pronto.

– Respire. Fundo. Mundo, mundo. Vasto…

– Cadê as vogais? Não tô sentindo nada, Tm Lps.

– Passe o microfone, plqnh.

Ah. Alembrei do porquê acordo longe do Face nesta manhã aqui em Berlim-Brasilia-Rio-Bahia. Por causa deste poema nós quase parados na encruzilhada da linha do trem da devida Vida quase Ida. Ouça-me!!!

– Pare! Olhe! Ouça! Passe no passo. Anta, anda. Ande!

– Onde?

– Por aí. Ali. Ouça Alá. Volta Acá. Solte-se Acolá. Ali. Vá!

– Fui, polaquinho. Segura a onda, mano.

– Veja, mano Tim. . De tão “véia”, não vejo mais minha “vêia”. Nem pra remédio. Tô…

– Onde?

– Aqui.

– E daí?

– Daí que não vou.

– Aonde?

– Sei lá. Minha era já era mas continúo, contínuo, aqui.

– E Madame, polaquinho, não te mudou?

– Sim. Vida conjunta. Não só a conta. Afinal, juntamos a junta até o quase nó.

– Entendi.

– O que?

– Nada. Mudou nada, polaquinho. Inté!

– E você, Tim, mudaste? Axé!

This is the End.

Antes que me acabe.

Tá?

Tô!

Aqui.

Fico.