Neste seco domingo do cerrado, pego minha velha sogra.
– Velha é a tua mulher, já disse.
E a convido para uma passeiozinho básico pela Ilha.
Começamos pelo Templo da Paz LBV: cristal, fonte e energia.
– E tem anja embuchada meu genro?
Repassamos para a Toca do Indio.
Subimos e descemos a rampa.
Exposição Séculos Indígenas no Brasil.
– Que coisa meu genro, feito por índio, num foi?
E seguimos juntos pela grama ressecada de agosto.
– Escreva aí, Mamcasz meu genro, de braços dados!
Só me largou na hora de sentar ao lado de dona Sara K.
De Oliveira, que nem a bela raça toda dela.
– Mas olha só o rendado da blusa da moça, meu genro.
Toca em frente, entra aí na Fonte dos Namorados.
– No meu tempo, ela era iluminada, colorida e musicada.
Dava até gosto namorar na Brasília azul do Miguelão.
Toca para o Palácio da Alvorada.
Entra antes na Feira da Torre, viste?
Jaz na frente da casa da dama dona Dilma:
– Mas ô molé mal encarada esta bicha, num é meu genro?
Andamos na grama na beira do Lago Sul.
Almoçamos comida mineira na Vila Planalto.
Foi a única hora que não consegui ver a minha sogra.
O prato dela estava acima dos meus olhos de tão cheio.
E daí então voltamos para casa, qual o que, mané.
Te assunte, meu genro, para a Exposição na Caixa Cultural:
Memórias Perdidas.
Escreva aí, meu genro:
– Uma bênção.
Escreva a senhora.
– Donde?
Aí no livro de presença.
Ói ela escrevendo:
– Uma bença!!!
Moral do Lero
Sabe esta sogra velha aí na foto?
– Velha é a tua mulher, já disse.
Pois ela tem 88 anos de idade. Nasceu em 1922.
Está de volta a Brasília.
Prá quê?
Prá começar vida nova ao lado deste genro.
E dá uma risada.
Ufa! de volta para minha casa amena.
Meia hora depois a hóspede arremata:
– Pois num tá na hora de ir prá Qermesse do Buda?
Apaguei no sono…
Ô raça.
Se não bastasse a filha, tem a sogra.
As duas querem me matar.
Socorro!