O palco do desenrolar deste relato de dramas constantes se situa num encontro de fantasmas da Família Nacional (ler Evangelho 5), de madrugada, no ainda hoje encardido e tombado calabouço onde funcionaram os primeiros cinema, rádio e televisão de Brasília (ler Evangelho 6), no começo da W-3 Sul, inaugurado às oito da noite do dia 4 de Junho de 1960, pelo presidente Bossa Nova, o JK, que desceu do novíssimo Simca-Chambord aos primeiros acordes do Hino da Pátria que nos pariu sob a batuta do maestro Radamés (ler Evangelho 7), seguido do show famoso Ermelindo (ler comentário 8), todos saídos direto da Praça Mauá, número sete, no Rio, via Avenida Brasil.
Mas falando neste Ermelindo, então artista principal da Rádio Nacional, com mais cartas de ouvintes do que votos para o presidente, acontece que, quatro anos depois, e seu fantasma está hoje aqui entre nós para confirmar, entregaria nas garras dos gorilas (ler Evangelho 9), os 61 profissionais da Rádio Nacional do então Rio por ele considerado subversivos, sem contar outro astro daquela mesma noite, o Dilermando (ler Evangelho 10), que encantara a todos com a versão candanga do Peixe-Vivo (ler Evangelho 11), o Mário, que depois foi salvo pela Dercy, o Dias, o Gracindo, o Walter, e até o Ovídio Chaves, que o Ibrahim Sued chamava de Carlos Machado (do teatro das mulatas de Revista) dos Pampas e que por causa deste filho da puta do César foi preso pelos milicos e sabe o que fizeram com ele, conta aqui pra gente:

– É o seguinte, gente. Eu era da Rádio Nacional. Fui então preso por crime de opinião e por isso torturado pra caralho, literalmente, taí o Fausto Wolf que não me deixa mentir, mesmo depois de morto. Daí, eles fizeram o seguinte comigo. Botaram meus colhões dentro de uma gaveta e fecharam assim de repente. Puta que pariu, nunca senti dor pior do que aquela. Mas agora confesso que fui salvo mesmo é por causa de outro milico, amigo do meu pai, o general Cordeiro de Farias. Porra, vamos mudar de assunto, cambada?
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