Anistia para Edith Piaf.
Nesta ida a Paris, vasculho traços perdidos dessa Edith Piaf.
Sobrevive aos 20 no trottoir do bas-fond (puta).
Chansonnière da zona.
Chegada à morfina, morre aos 47, magricela, baixinha e feia.
Mas cercada de amantes bonitos, entre eles o Ives Montand.
Ou Marcel Cerdan, campeão de boxe.
Sepulta-se na multidão do cemitério Père Lachaise.
Perto da rua de Belleville, onde nasce.
Ali, vejo hoje apenas uma porca e parca placa.
Merecedora de uma anistia ampla, geral e irrestrita.
A lesma lerda no Café Menilmontant.
A pequena meretriz com voz de Piaf (pardal) canta:
Milord, je ne suis qu’une fille du port, qu’une ombre de la rue.
Acá, eu vejo o nada.
Até a garçonete com cabelo de colibri se espanta com o passado.
Ela sabe por mim que Edith Piaf ali ainda marca presença.
Hoje evaporada no devaneio da morfínica modernidade.
Insisto, não desisto e sorvo na bar e na Place Edith Piaf, Porte de Bagnolet, o último canto do passarinho.
Hoje completamente esquecida na Paris dos tempos de Sarkozy e Carla Bruni.
Prefiro minha pequena meretriz solfejando latente no meu ouvido morno:
– Mamcasz! Je me regrette rien, je me fous du passé…
– Pardon, Piaf!
– Não tô nem aí. Tô cagando pro meu passado.
– Edith … olha os modos …
– Phoda-se, mon cheri.
Il faut se méfier des mots
Tem mais é que ter cuidado com as palavras
Phoda-se, meu.
Deixe um comentário