Eu tenho uma amiga que tem um filho pequeno que vai na minha chácara e sobe no telhado, pela janela mezzanino, e eu vou lá e fecho a reentrada e tranco a porta e retiro a escada porque eu sempre sou assim com criança e cachorro: adorado…
Está com pena?
Pois este filho da minha amiga me faz uma chantagem comigo enquanto a mãe dele está no banho pós-ato, de fato, talvez ele tenha… até Deus nos ouve:
– Abra a porra desta janela –grita ele, baixinho, comigo – se não me jogo daqui de cima e te mato!
Protetor de toda e qualquer criancinha na hora abro a janela da vida para esta futura raivosa figura.
Moral do lero:
Hoje, ele está preso na Papuda – Penitenciária.
Intimado, novamente sob chantagem, estou de novo nesta merda da fila de visita, mãe chorando abrindo a bolsa e a vagina, porque nela, diz o meganha, esconde o sustento da ex-criança para que ela não se torne, hoje, a mulher de um malandro enjaulado, e daí vou levando o papo para que ele não visite o meu ânus íntimo, peraí, mermão, sou jornalista,branco que nem tu, e ele dá um tempo, se valoriza e me libera, a mim e a uma incógnita trouxinha de cocaína que vale ouro na cadeia.
Final:
Saio da cadeia com o gosto doído no ouvido do filho da minha amiga me dizendo o seguinte:
-Esta vida, tio, é uma droga.
É por isto que ele está fodido. Se fica só na Esplanada, aconselho no dantes, que maravilha, mas não, se mete a ser independente ou, como se diz na moda, autossustentável, auto-sustentável, alto lá, alguém me diz onde colocar esta merda deste hífen?
– E minha mãe, como tá,tio?
– No cemitério, dormindo, meu.
Pós-saída:
Entro no decadente ônibus linha 171, Papuda -Rodoviária, cheia de mães, moídas e doídas, e eu, doido para uma fileira de coisa na vida, dou um sorriso e me lembro daquela criança filho da minha amiga. Que saudades, meu, ele no telhado e a mãe dele embaixo de mim.
– Feliz Dia da Criança, meu pequeno marginal.
Nota:
Isto tudo não passa de ficção. Nenhuma amiga minha tem filho.
Isto é para ser lito escutando Nana Caymi cantando:
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