– Qualé, polaco? Ofendendo a rainha Iemanjá?
Nem pensar, não sou burro. Acontece que Mãe Iara, da água doce, e Mãe Iemanjá, da água salgada, as duas me protegem desde sempre. Bebê ainda, polaquinho bonitinho, minha mãe Lola sai da igreja onde sou batizado e vai direto, com a amiga negra dela, para o olho d´água, onde sou novamente batizado, ao galho de arruda, e colocado sob a proteção da Mãe Iara. – E quem é ela, polaco?

Mãe Iara, gêmea de Mãe Iemanjá, eu tenho mais de uma Mãe, sortudo sou, pois ela, a Iara, é uma deusa índia conhecida por seduzir homens que se arriscam, na beira do rios, levando-os, bobos, para bem fundo.
– E daí, polaco?
– Daí, é lá com eles dois, né?
– Que mais?
– Quer?
– Quero.
Seguinte. Mãe Iara, a Mãe Iemanjá de água doce, é filha de um pajé e ela é conhecida como uma grande guerreira, tanto que os irmãos dela, índios machistas, decidem, por ciumeira, dar cabo dela. Resultado: ela mata todos eles. Está me seguindo? Com licença que vou cantar um cadinho:
– Dia dois … de fevereiro … dia de … Iara no rio …
– Polaco sacrílego!
– Sorry, mãe Iemanjá. O senhora saber que eu adorar o senhora Iemanjá, tão do pretinha, do bonitinha, mas eu ser da rio não ser da mar, salgado arranha meu pele de polaco.
-Tá! Você tem minuto para falar bem de mim se não te sereio aqui para meus seios, sei muito bem que você não resiste!!!

O nome Iemanjá tem origem yorubá onde “Yéyé Omó Ejá” quer dizer “mãe cujos filhos são peixes”.
– Muito bem, polaquinho, teu tempo em Cacha Prego, na Ilha de Itaparica, Bahia, não é em vão, ainda bem que os índios não te comem, que nem o bispo Sardinha, né, frei Hélio, pois saiba que eu te protejo, porque eu, Iemanjá, te quero só para mim, aqui no fundo do mar.
– Posso continuar, Mãe Iemanjá?
– Lógico, meu polaquinho mais doce do que o leite de coco.
Mãe Iemanjá é conhecida como a padroeira dos amores a quem recorrem os apaixonados, especialmente em casos de desafetos amorosos. Iemanjá é uma preta. Iara é uma índia. Ai que dúvida.
– Polaquinho!!!
– O que é, Madame?
– Falando com quem?
– Com minha segunda mãe, a tia Aline, aniversário dela é hoje, dia dois de fevereiro, ela, polaca dos Campos Gerais, casada com um Armênio paulista.
– Mande um beijo meu para ela.

– Quantas mães você tem, polaco?
– Quem está falando?
– Mãe Iara.
– Mãe Iemanjá.
– Mãe Luiza.
– Mãe Lola.
Oi, mães! Vocês por aqui, neste dia dois de fevereiro?
– Eduardinho!!!
– O que é, “mães”?
– Você quer vir para cá?
– Agora, não. Quem sabe um dia.
– Menino esperto este Eduardinho.
– Pensa que vai viver para sempre.
– Ele sempre teve medo de água do mar.
– De água doce também, quase morre num poço no Rio Verde.
MÃES!!!
– Quié, Eduardinho?
– Posso beber uma caipirinha, neste dia dois de fevereiro, em homenagem a vocês?
– Uma só,tá! Olha lá!!!
– Tá.
– Aposto que ele vai beber uma caipirinha para cada uma de nós.
– kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
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