O lixeiro baiano (negro) arrasta a vassoura, lentamente, pela rua de Salvador da Bahia, a dita bela. Até que a vassoura se enrosca num entulho. O bom baiano cutuca com a ponta da vassoura e vê um pano sujo de sangue. Faz sinal pro carrinho da polícia parado no ponto de acarajé, na sombra do pé de manga.
Debaixo do pano sujo, o menino (negro), olhos fechados, ainda enrolado no próprio futuro sangue e, como vestimenta, uma espécie de plástico, depois classificado de placenta.
Estaciona um motoqueiro. E lá vem outro (negro). Tira o casado de vinil, nunca será de couro. Agasalha o menino morto que, milagre do Bom Fim, esperneia, chora, fica puto. Afinal, faz calor em Salvador.
O carro da polícia não tem telefone.
Alguém liga pro jornal da cidade. Funciona. O repórter liga pro hospital:
– Sou jornalista. Se não for logo buscar o pivete jogado no lixo, apronto. Tamu indo lá. Vamu vê se a gente chega junto?
O Samu chega. Sem enfermeiro. O motorista (negro) não sabe o que fazer com o mais novo pivete da capital.
O jornalista (branco) também chega pouco depois.
Daí … pelo rádio do carro, o repórter vai repassando, com um médico conhecido, o que fazer com o pivete (negro) jogado no lixo.
Parece presépio vivo na decoração natalina do farol da Barra. Tem até as luzinhas. Em cima do carro da polícia:
– Vamu logo que a bateria tá arriando.
Por isso, o pivetinho é levado pro Pronto-Socorro. Lá, ele entra na primeira fila da vida dele.
Por enquanto, sobrevive.
E ganha um nome oficial:
Menino Jesus da Bahia.
Todo mundo espera agora é que ele tenha a mesma sorte do Jesus da Madona.
Só tem um negocim: neste ano, em Salvador da Bahia, outros 21 pivetinhos (negros) foram achados na lata de lixo.
Todos ganharam o mesmo nome:
Menino Jesus da Bahia.
Alguns, já estão no céu. Escaparam deste inferno.
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