Berlim Ano Zero – Diário da Pandemia
Fase virótica pós-pandemônica (11)
Não que Eu – POLACO, CONFESSE!!! – seja chegado. Aliás, juro que nunca o fui, jamais, never nem ever, em absoluto. Quer dizer. Cherei, cheirei, xeirei, ser rei, ser gay, sei, que seja, não fui. Mais. Sempre tem um mas.
Acho-me nesta fase dita pós-pandemônica-virótica-sino, sim, sei que ainda não posso comemorar nem abraçar apertado a mina no pós-cruzar de olhares pseudo-fortuitos, com força, com brio polônico, ao realçar suspeito.
Estamos – Polaco & Madame, a dupla de risco – “Aqui em Berlim”, neste maldito trimestre com a coleira, desculpe, pulseira, não, tornozeleira mental a bisbilhotar cada sonho, remorso, enduvidada situação e tal.
Sorry. Preciso de um gole. De água? Não. Aqui, ela é muito calcárea. Estamos tão perto da vodka. Ai que saudades da minha avó polaca. Com raiz forte. Ah. Sorry por causa do quê? É que os sinos da igreja estão tocando. Sério.
– Eduardinho!
– Quié, vó Sofia?
– Menino, você está tão estranho. E que coisas são essas com as folhas tão esquisitas que, só de olhar, está me dando uma zonzeira, doideira. Fale!!!
– Falar o que, vó polaca?
– Sei lá. Nem estava te escutando mesmo.
Mesmo assim, falo. Calo. Exalo. .
– Eduardinho. É falo de falar ou falo deste teu negócio ainda tão pequeno?
– Vó. A mãe está aí por perto neste céu?
– Não. Está passeando com um anjo. Você conhece bem a Lola.
Então, falo agora. Estou aqui em Berlim, com Madame ao lado, no jeito de me olhar muito do parecido com o da avó, durona mas alegre, exigente em tudo, por isso mesmo eu nunca posso me descuidar. Mas agora eu falo o que sinto. Falo.
– O que?
– Nada!!!
– Conta tudo!!!
– Para falar a verdade, vó da parte de mãe, EU POLACO CONFESSO que só dei uns golinhos, mas não traguei não.
– Acontece que estou vendo aqui de cima você cercado de garrafas de vodka – me dê um gole – cervejas – outro gole – suco sei lá de que – não quero – mais uns biscoitos – de chocolate, é Eduardinho, não parece não. Me passe uns com estes galhos verdes esquisitos. Que folha é esta, meu neto? E você, está esquisito assim por causa de que mesmo? Falando enrolado. Ainda que você desde criança só o cachorro entendia o que você estava falando. Mas hoje você está mais esquisito, menino.
– Vó. EU POLACO CONFESSO. Comecei pela tal Cannabis, de quem nunca ouvi falar dela processada com Absinto. Ms não tô sentindo nada. Até agora.
– Mas já sentiu.
– O que, vozinha.
– Vozinha uma ova, Eduardinho. E fale que nem polaco. Que vozinha mais fraca.
– Falo.
– Pare com esta sacanagem, meu netinho. Você vai ser padre um dia. Continue.
– Depois, dei um beijão de boca na Maria Joana e tomamos juntos um gole da Vodka. Mesma coisa. Sentindo nada. Daí, a mesma folha verde no vinho. Nadinha.
– Eduardinho!
– Quié, vozinha Sofia.
– Pois eu bebi uns goles deste negócio que você me passou e estou sentindo uma porção de coisas, sim, menino.
– O que, vozinha?
– Não vou te falar. Você está muito menino para isso. Me passe outro biscoito de chocolate. Mas que gosto diferente, né? Que mais?
– Quero.
– Eu falei “que” e não “quer”.
– O que?
– Eduardinho. Você esta me deixando doidona.
– Maluca.
– Eduardinho meu netinho polaquinho queridinho. Maluca eu?
– Eu que não, vozinha, mas lembra quando a senhora só para me sacanear, antes de oferecer aquele prato gostoso, sempre fui guloso, me perguntava antes.
– O que?
– Eduardinho. Antes de pegar este prato me responda antes.
– O que, vó.
– Caso você estivesse morrendo de fome, morrendo mesmo, não de virus que ainda vai chegar um dia, mas caso você estivesse morrendo, mesmo, de fome, e tivesse que escolher uma dessas três comidas, qual você ia escolher?
– Quais?
– Ranho, cuspe ou bosta?
– Ai, vó, vou vomitar.
– É. Mas você sempre escolhia uma para não perder a gostosura da vovó.
– Qual.
– Falo.
– Não, vó. Agora, não. Tem gente abelhuda escutando nossa conversa.
– Polaquinho me conte mais uma história daí em Berlim, pensa que não estou cuidando de vocês aqui de cima?
– Então eu … falo!
– Polaquinho. Assim não vai ser padre. Vai virar jornalista. Vai sim.
– Vó. Fomos noutro dia, fugindo da prisão domiciliar pandemônica, no Rokão Pesadão do Cross Club. Uma fumaceira que Madame quase chama os bombeiros. E eu:
– Florzinha. Fica na sua. Na muda. De boa.
– E Madame ficou, meu netinho?
– Nada, vozinha. Ela é que nem a senhora. Só faz o que ela quer. E não deixa fazer o que eu quero.
– Está muito certa a Cleide. Chama ela.
– Não chamo.
– Chama. Olha que eu falo.
– Deixa que eu falo com meu falo, vó.
Enfiim, fim da prosa serena e amena entre um netinho e a vozinha nestes tempos de solitária Pandemia Virótica.
– Eduardinho. Não me engane. Você não confessou porra nenhuma. Fale!!!
– Falo. Eu de fato bebi tudo mas não traguei nada.
– Que mais, meu netinho que não vai ser padre um dia. Não vai mesmo.
– Não tô sentindo nada mesmo, vozinha.
– Nem eu, netinho.
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