Francês só pensa “naquilo”: comer demorado demorado.
“Na cozinha francesa, os pratos são feitos para saciar a alma e não a fome”.
Não sei mais quem escreveu mas que eu li, lá isto eu li, antes da primeira ida à Paris.
Sou dos tempos da Carta Orange. Agora é Navigo Decouverte, depois explico.
É que agora estou que nem o francês. Só consigo pensar “naquilo”.
Ou melhor, nisto, no Chez Papa, o mesmo de sempre, o da 14.
Da janela, mesma mesinha no canto, olha a rua e, do outro lado, os seguintes:
Charles Baudelaire e a Dama das Camélias.
Guy de Maupassant, Samuel Beckett, Man Ray, capitão Richard Dreyfus.
Numa tumba singela, deitados, mãos dadas, Sartre e Simone.
Serge Gainsbourg me oferece um ticket do metrô.
As fãs deixam milhares por causa da canção:
Le Poinçonneur de Lilas.
– Madame e monsieur, atenção, ici votre Salade Boyarde. Bon Apetit:
http://www.chezpapa.com/index.html
Mas como estava falando, francês só pensa “naquilo”:
Comer bem devagar. Divagar. Demorado. Sem pressa,
Mas tem que ser lento, gradual, sem medo do ápice.
Até chegar à sobremesa, ao queijo, ao beijo.
Hora de espraiar um pouco, largar a conversa, olhar.
Agora, sim, um cigarro e um cafezinho, bien sur. É de lei.
Au revoir,meu, que esta vida é très fragile.
E vamos que vamos.
Afinal, ainda nem chegamos a Paris, pela undécima vez.
Ao fundo, para alongamento deste momento de relax, ouça a música, de 1958, que ainda leva gente a deixar o ticket do metrô no túmulo do Serge Grinsbourg, no outro lado da rua, no cemitério de Montparnasse.
http://www.youtube.com/watch?v=HsX4M-by5OY
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