Another sunday at Brasilia with in a sunny day.

(Para ser curtido ao som de milongas de Renato Borgheti)

Image

O título em cima é por causa da rima redundante. Falo do outro, que deveria ter sido. Another Sunday at Brasilia with in a sunny day. Sun-day. Dia do Deus Supremo, o Sol. Vertido para Domus-in-go, Dia do Senhor, Domus, Dom Polaco que vos escreve a respeito de um brilhante caminho do que se torna, no almoço de hoje tardio, um Arroz Carreteiro a la mode do Sul do Brasil.

Antes de passar para os ingredientes e, quiçá a receita dominical, atenho-me ao charque, da banda dianteira, não ressecado mas jamais fresco. Por falar nele, o charque, das bandas do Sul, foi exportado, por meio dos Navios-Ita, que faziam a cabotagem ao longo da costa, exportado para onde?

A Carne-Seca, Jabá, Carne-de-Sol, que se canta em verso e canto Gonzaguianos, na verdade é uma invenção sulista, dos pampas e campos gerais, companhia feminina do peão ao conduzir as boiadas, com tradicionais paradas em Ponta Grossa. Ponta é rebanho e Grossa, bom, é evidente, né?

A mesma coisa, antes de partirmos para os ingredientes (melhor olhar os detalhes da foto, antes). Lembro aqui, nascido em Ponta Grossa, embora polaco-bahiano, que o mesmo acontece com o mate, sempre quente e amargo, legítima invenção dos polacos do Paraná, usurpado pelos gáuchos.

Image

1 – Charque dianteiro dessalgado à noite, à geladeira, em água profunda, e dele tirados os fiapos de nervos ou pseudo-gorduras, além de cortados em cubos de tamanho interessante aos olhos e à necessidade do peão boiadeiro não ter que usar faca ou garfo, só a mão na farinha de mandioca.

2 –  Arroz, por supuesto, tanto que o manjar tem como substantivo o próprio, casado com o charque, antes tem um caminho que passo a mostrar, tão logo o cereal esteja muito bem lavado, escorrido e secado para que continue assim, livre, leve e solto até a fase pré-endereçamento interno.

3 –  Pinhão cozido e cortado de comprido porque de lado não é coisa de polaco e de cubinho só o charque curtido na Princesa dos Campos Gerais, a capital cívica  do Paraná, este o apelido de Ponta Grossa, terra originária deste escriba polaco-bahiano, tanto que batizado na Igreja e logo depois no Olho d’Água, salve-salve minha mãe Iara-Iemanjá.

“Pinheiro, me dá uma pinha;

Pinha, me dá um pinhão.

Polaco,  me dá um pedaço,

Que te dou me coração.”

(Rima entendível somente pelos iniciados nos pinhais).

4 – Tomate. Aqui, há discrepâncias. Aconselha-se cortá-lo em cubos, do mesmo tamanho dos do charque, e só colocá-lo ao quase final, antes do cheiro verde, tem que ser cebolinha e salsinha e mais nadinha, tá? A cebola e o alho já entraram na fase pós inicial, depois de fritados os cubos de charque ao azeite, ou seja, pego aquele bronze da chama eterna das fogueiras das paixões passageiras.

– Florzinha!  Me traga uma cerveja. Larga esta tua turma. Hoje é domingo. Você é todo meu.

Vou e volto porque Madame hoje está compenetrada no começo da leitura de um livro com 1.077 páginas, chamado HITLER, do Ian Kershaw, o mais completo de todos, primo capítulo se chama Fantasias e Fracassos, comento que não haverá profícuo diálogo aqui em casa por um bom tempo, não sem antes apresentar no copo especial, cristal fino, a cerveja Quilmes, litrão, vindo de Buenos Aires, para onde estamos indo na primavera. E a receita de Arroz à Carreteiro continua.

Image

5 – Apresentada a cerveja, entra a parte destinada ao polaco-bahiano, na forma da vodka, de boa qualidade, e o limão adrede, subido do açúcar e do gelo fica faltando apenas o agito, dá um tempo que já volto, aliás, hoje, no mercado, comprando o cheiro-verde, passei três minutos me enamorando de um vidrinho de azeite de dendê, que não tem nada a ver com a prosa aqui, mas faz parte do meu eu dos tempos de Berlinque, município de Cacha-Pregos, Ilha de Itaparica, onde fui cidadão nada exemplar.

6 – Último olhar para a foto dos ingredientes, acima, ou para a panela já preparada, com azeite, lusitano,, não baiano, e cubinhos, os terceiros desta receita, de beicon. Olhou? E daí? Percebeu outra interferfência baiana na receita de Arroz à Carreteira do polaco aqui? É o pequeno tipo cálice de porcelana holandesa, nela repousando pimenta dedo de moça, cortada em rodelas finas, mas nunca macerada, em leito de azeite, tem que ser virgem.

Image

– Florzinha!

Madame levanta os olhos do livro, atenta como sempre e aguarda.

– Posso chamar algumas pessoas queridas para compartilhar este sunny day com a gente?

– Nem pensar!!!

– Pô, Madame, desculpe, Florzinha. Por que?

E ela, firme e serena, forte e amena:

– PORQUE HOJE EU QUERO VOCÊ, POLACO, TODINHO PARA MIM.

 


I`m a czech coward.

Who looked on when they loaded the Jews (cripples and fags).

Hailed the Nazis.Wawed to the Comunists.

And then wanted the certainty of a tenfold.

Firmed by Who?

Image

Eu sou mesmo um tcheco covarde.

Eu fingi que não vi quando levaram embora os judeus (mais os aleijados e as bichas).

Eu aplaudi os Nazistas. Eu acenei para os Comunistas.

E depois, eu ainda trabalhei para ter os 100 por cento a meu favor.

Abaixo assinado. Por quem?

Image

           Na parede de chegada-saída do DOX – Centro de Arte Contemporânea, parte interna, o quadro mudo grita as seguintes palavras,  que confirmam os meus pressentimentos a respeito do povo tcheco, desde que cheguei aqui  em Praga,  e das minhas dificuldades para achar monumentos contra fascismo-nazismo-comunsmo e outras formas de totalitarismo que eles fingem esquecer.  

          Não é a toa que em cima do prédio do DOX, totalmente recuperado, numa área até há pouco degradada, movimenta-se um guindaste. Na ponta dele, um enorme crânio humano. Nome da obra do perturbador, para o povo tcheco, David Cerný: Fast Tuned Skull. 

Image

 

           Lá dentro, esperava encontrar outra obra dele. ENTROPIA. Contra a entrada da República Tcheca na Europa, Zona do Euro. Feita na época do Censo Popular. Foi censurada. Estava no DOX. E não está mais por que? Resposta do atendente:

          – Foi retirada cerca de um ano e meio e ninguém sabe para onde foi.

          Levada, né?

Image

 


Eu, coelha figura,

Amestrada nas carreiras  faceiras,

Nas rasteiras do sempre rotineiras,

Aplicadas na gente cá de Brasília é

No lombo do Eu,  coelha?

*

Eu, galinha figura,

Amante digerida nem divertida

Nos instantes insanos do sonho

Toco nessa  desnuda maestrina

Pelo obreiro aclamada de noite

Sugada do  meu suor extraído

Do lombo do Eu, galinha?

*

Eu, réptil figura,

Em meias rasteiras pós-graduada,

Entre as companheiras a mais vil,

Na cobrança, mais desmilinguida,

Aceite o último escarro  cuspido

No lombo do Eu, réptil?

*

Eu, vaca figura,

Doida rainha da boiada alternativa

Nessa esperança doída de vingança

Alimento aos poucos meus venenos

Tão plenos de minúsculas particulas,

Escorridas das  peles dessa escama,

Morena, um requiem a teu mugido

No lombo do Eu, vaca?

*

Por tanto, na figura da inimiga futura,

Pelo menos as vaca, galinha, e coelha,

Espeto por inteiro no fogo do inferno

Num só riso aclamado pelas formigas,

De boca cheia na encruzilhada da vida.

Image

Amém.