Dos pelos do nariz às esmaecidas páginas datilografadas.
Das cutículas das unhas roídas às fotos esbranquiçadas.
Sinto uma enorme apegância às lembranças.
Delas me deletar? Que nada. Dói. Daí…
Na página 148, acordada no adormecido livrinho de capa preta (Longa Jornada Noite Adentro-Eugene O`Neill-Edição 1980), estanco e leio:
“Desde que nasceste
Não és mais do que um vôo no tempo.”
( Menotti del Picchia – O Vôo).
Detalhe interessante. 1980. Estrada de terra. Duas da madrugada. Ao lado da Cachoeira de Corumbá de Goiás. O Fiat Uno despenca. Acordo no lado oposto. Na direção. Onde está, inda dantes, minha então namorada. Morro por um minuto. Tempo do vôo do carro da estrada ao leito do rio. Caminhada até Corumbá. 10 km. Clavícula estourada. Dela. Em mim, nenhuma trinca. Lua cheia. Carona até Anápolis. Hospital. Mais nada. Quer dizer…
E qual o porquê desta prosa? Ah … a faxina que hoje faço em mim.
No entreato, reabro o livro, encontro a poesia datilografada, esmaecida, que dia seguinte ao fato, repasso para a até hoje enamorada, 288 luas cheias ultrapassdas:
“Que importa a rota?
Voa e canta.
Enquanto resistam as asas”.
Mas é claro que dou um tempo nesta faxina de mim mesmo. Do Eu.
Mesmo porque, na mesma página de onde envolto o poema do Vôo do Menotti del Picchia, no livro Longa Jornada Noite Adentro, do Eugene O`Neill, sobrevive, por mim sublinhada, é, faço isto nos livros, o trecho em que o persona Edmund cita sardônicamente uns versos de Dowson:
“De um sonho brumoso
Energe o nosso caminho por um pouco de tempo
– a seguir se fecha
Novamente num sonho…”
Moral do lero desta Faxina do Eu:
É melhor deixar os bons fantasmas em paz.
Inté e Axé.
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