Not only is the Brandenburg Gate, stolen and taken by Napoleon to Paris, and, after it humiliated, the Bonaparte, bien sur, brought back, triumphantly, to Berlin, the promised Nazi capital of the Arabian Years’ Empire, where it would later serve, for a quarter of a century, as a gatekeeper in the middle of the infamous Wall, a punch in the face of the former all-glorious Roman-German Empire, successor of Constantinople, Catholic and Roman, at last, thrown back into Hell by Martin, the mighty Luther.
Não é só o Portão, de Brandenburg, roubado e levado pelo Napoleão para Paris, e, depois dele humilhado, o Bonaparte, bien sur, trazido de volta, triunfalmente, para Berlim, a prometida capital nazista do Império dos Mil e Um Anos, onde, mais tarde, serviria, por um quarto de século, de porteira no meio do infame Muro, um Murro na cara do ex-todo-glorioso Império Romano-Germano, sucessor de Constantinopla, Católico e Romano, enfim, jogado de volta ao Inferno pelo Martinho, o poderoso Lutero.
– Péra, lá, Polaco. Ficou doido, foi? Pára tudo.
Mówię już o zamkniętych już drzwiach Berlina. Przedtem otwarte. Można było wejść do budynku, zajrzeć do środka, przejść do sąsiada, potem przez kolejne drzwi, obejść dookoła, a następnie powędrować do innej części miasta.
Acontece que, agora, as portas, antes abertas, lindas, estão fechadas, ou seja, trancadas 24/24 horas por dia e noite, sem parar. Tudo através de cadeados, eletrônicos ou manuais ou mesmo com senhas mutáveis mutandi. Estou latindo. E daí? Eu posso. Portanto, por tanto ou por muito menos, começo de verdade a contar sobre
THE CLOSED DOORS OF BERLIN
AS PORTAS FECHADAS DE BERLIM
DIE VERSCHLOSSENEN TÜREN BERLINS
Cada porta de cada prédio tem sua história, o design, a origem da madeira trabalhada, a tintura, o desenho singular, enfim, o traçado transado. Afinal, cada porta é uma ponte, um ponto para o pronto acesso ao lar, ao bar, ao sei lá o que, inclusive ao Nada.
O mesmo acontece, neste caso para se exibir ao antagonista passante, com o parapeito da varanda. Antes, de ferro moldado, trabalhado, torcido, enviesado. Uma lágrima escorre pelo lado de dentro da janela com vidro triplamente reforçada. Ouço que isto se deve ao fato de proteger o morador para que ele, preso e isolado, não possa ser ouvido pelo mundo lá fora.
Na divisória dos prédios, no solo, antes aberto a qualquer ente, que nem acontece na minha Brasília, no Plano Piloto, aqui em Berlim era possível sentir as plantas no jardim, sentar. Agora, ele serve para as lixeiras específicas para cada resto do passado e, pior, estacionamento privado. Uma privada. Lástima.
– Polaco! E as portas? Esqueceu?
– Portos?
– Polaco doido!
– Doído, sim, Mano. Mas eu estava falando de que mesmo, Sô?
– Das Portas de Berlim!!!
– Pois se você tiver olhos, veja. Ouvidos, não, porque não falo mais nada.
This is my favorite tree in the capital of the Reich. She inhabits a corner of Gerhart Hauptmann Square. Nobel Prize in Literature in 1912.
Esta é a minha árvore preferida na capital do Reich. Ela habita um canto da Praça Gerhart Hauptmann. Prêmio Nobel de Literatura de 1912.
Das ist mein Lieblingsbaum in der Reichshauptstadt. Sie wohnt in einer Ecke des Gerhart-Hauptmann-Platzes. Nobelpreis für Literatur 1912.
I’ve been watching her for a long time from the balcony of the russian’s apartment on the Bundsallee.
Ich beobachte sie schon lange vom Balkon der Wohnung des Russen an der Bundsallee aus.
Eu a revejo há tempos, da sacada da varanda do apartamento do russo na Bundsallee.
Minha Berlim no Outono. Vem assim. Verão. Vejamos:
Ela é sempre a mesma, seja verão, ou tono, ou inferno, ou na casa da prima Vera.
Im Sommer ist es entweder Tono, oder die Hölle, oder bei Cousine Vera.(Frühling, Herbst, Winter).
She is the same In the summer, it’s either tono, or hell (Autumn or Winter) or at Cousin Vera’s house (Spring).
Well then. Let’s go for a walk in the woods, my cute little yellow-green riding hood? Give me your hands. Two. And listen to me smiling and singing, okay?
Pois então. Vamos passear na floresta, minha fofa Chapeuzinho Verde-Amarelo? Dê-me as mãos. A duas. E me escute sorrindo e cantando, tá?
Na dann. Lass uns im Wald spazieren gehen, mein süßes kleines gelb-grünes Reitkäppchen? Gebt mir Eure Hände. Zwei. Und hör mir zu, wie ich lächle und singe, okay?
Agora, just now, fora todas as bolhas. Só fiquem as folhas do Outono. Eu quero o ouro amarelo. Pós o verde e pré o preto Golden. Ops. Gold. Espalhado pelo chão. Aqui, em Berlim, está bem assim.
Temos 430 mil árvores que derramam numa semana 36 mil toneladas de folhas as mais diversas. Filhas de tílias, plátanos, castanheiras e carvalhos, estes, nas moedas de centavos de euro.
We have 430,000 trees that shed 36,000 tons of diverse leaves in a week. Daughters of lime trees, plane trees, chestnut trees and oak trees, the latter in euro cents.
They are leaves in the wind, in the open, in the cheeky survival of beauty, even if in consensus they become dung in the siege of next spring. Just like me. I try so hard that I end up dizzy. For the time being.
São folhas ao vento, ao relento, na sobrevida atrevida de bonita, mesmo que no consenso virem esterco no cerco da próxima Primavera. Que nem eu. Tento, tanto, que acabo tonto. Por enquanto.
Temos o Inverno inteiro para, ainda que descamados, simplesmente dormir. E depois acordar de novo. Verão. Veremos. Viu?
Wir haben den ganzen Winter Zeit, um einfach zu schlafen, auch wenn wir nackt sind. Und dann wieder aufwachen. Sommer. Siehe. Säge?
Acontece que um dia a gente acorda, desperta, ressuscita, certo? Por enquanto, adeus folha doce na mente e suave no pouso do repouso. Ouso acreditar que tudo se renova. Verão. Quer dizer. Vejo bem agora, aqui, no pré-verão passado, da varanda de outra casa, de olho no Kleitzpark fronteiro.
It happens that one day we wake up, wake up, resurrect, right? For now, goodbye sweet leaf in the mind and soft in the landing of home. I dare to believe that everything is renewed. Summer. That is. I see it right now, here, in the pre-summer past, from the balcony of another house, with an eye on the Kleitzpark opposite.
Enfrente o tempo, dizem-me as árvores mutantes. Tudo a seu tempo. Eu tento. Mais de uma vez eu caio, que nem as folhas. Depois, viramos uma beleza da Natureza toda florida, uma mais exibida do que a outra.
Bem assim, mire só. Ou acompanhado:
Just like that, aim for it. Alone. Or accompanied:
Einfach so, strebe es an. Allein. Oder in Begleitung
Agora, Chapeuzinho Verde-Amarelo-Preto-Vermelho, repete comigo este mantra real:
Berlim é uma cidade acordada. Bares funcionam 24 horas por dia. Clubes abertos direto de sexta a segunda. Sempre tem gente na rua. Parece o Rio, Brasil, de antes. Hora de trabalho, menos para os que vivem na praia, no Rio, ou num bar, em Berlim. E o principal: músicos em ação por todos os lados-tipos-ritmos. Insisto. Berlim soa um som, não importa o tom. Seja no bar, no clube ou até mesmo no parque, sempre tem um. Então, vaguemos juntos, de noite, pela nossa Berlim que nós -“Madame & Polaco”- conhecemos desde antes da queda do Muro.
Berlin is an awake city. Bars are open 24 hours a day. There are always people on the street. It looks like Rio, Brazil, from before. Working hours, except for those who live on the beach in Rio or in a bar in Berlin.
Antes, a homenagem remota, porque ainda nos tempos do Muro de Berlim, a lembrança do David Bowie na cidade, em 1976, onde criou o álbum “Heroes”, a partir da visão de duas pessoas se beijando amorosamente encostados no Muro. Junto dele, nos dois anos e meio, o Iggy Pop. Esse, criou a melhor música dele, “The Passenger”, inspirada nas viagens, agora sem as drogas, que os dois faziam, quase anônimos, nos metrôs e trens da então Berlim Ocidental. Pronto. De volta aos músicos destes dias de Guerra, 2023, neste “De Vagar à Noite em Berlim”:
Before, the remote tribute, because still in the times of the Berlin Wall, the memory of David Bowie in the city, in 1976, where he created the album “Heroes”, from the vision of two people kissing lovingly leaning against the Wall. Together with him, for two and a half years, Iggy Pop:
Antes que Berlim escureça, quando fica melhor do que no claro do dia, vale a pena duas citações de músicos de rua, na forma do fotografado, enquanto vivido, nas ruas do bairro de Schonenberg, onde o Bowie viveu e o Kennedy falou que era um Berliner, sem saber que isto é a salsicha local. Bom. Primeiro, na festa na rua Akazien. No palco, no rock pesado, devidamente fardada, a banda da Polícia. Na platéia, primeiro plano, os dois tipo Skinhead. Depois, o músico que toda todo sábado, na Winterfeldplatz, na feira semanal.
Justin McConville
E o papo pro ar no vagar de noite em Berlim? E os bares? E os músicos que com o tempo se tornaram amigos desta dupla “Madame & Polaco”? Levou tempo até a gente saber os nomes verdadeiros, dar aquele abraço, principalmente no primeiro reencontro depois da Pandemia, esta relatada no nosso livro “A Berlim do Pandemônio”. Para efeito de complemento, segue o site, sempre com as primeiras 30 páginas grátis, lógico que no linguajar “portuga-brasílico-tupiniquim”
People. And the chatter in the air at night in Berlin? What about bars? And what about the musicians who over time became friends with this duo “Madame&Polaco”? It took time for us to know the real names, to give that hug, especially in the first reunion after the Pandemic, which is reported in our book “The Berlin of Pandemonium”.
Ih. Cadê a pausa para a colocação do interrogativo? Vamos em frente. São muitas paradas, começando por um dos bares que ficam abertos 24 horas por dia, onde toda quinta-feira tem o encontro do pessoal do Blues & Rock, sempre até o último segundo da meia-noite. Estamos destacando, inclusive pelo direito à Reserviet, do nosso Bierhaus Urbaneck, na rua Urban com a Graefe:
There are many stops, starting with one of the bars that are open 24 hours a day, where every Thursday there is a meeting of the Blues & Rock people, always until the last second of midnight:
Pois aí está na foto nossa primeira amizade musical criada aqui em Berlim, depois de muitos encontros por inúmeros locais cantados pela banda dele, a Happy Dog Brown. Estamos falando do #TimKutschfreund a quem seguimos onde quer que ele se apresente, seja na Kultur, em Lichetenfeld, ou nos seguintes bares noturno-musicais que valem a pena aqui logo serem citados.
Outra parada muito especial é no velho Sandmann, perto do U Rathaus Neukolln, principalmente nas noitadas de blues de segunda-feira, uma novidade a cada vez, jamais premeditada pelo eterno Helmut, ele merece a foto ao cantar, todo mundo junto, a música Welcome, no encerramento obrigatório, por causa dos moradores vizinhos, sempre segundos antes do meio da noite.
Back to Wandering in the Berlin Night. We met another bar, this one on the side of Pankow, an audience still today of the working-class type of the late DDR – communist Germany. Com ele, passamos a conhecer muitos bons músicos que se apresentaram ao longo das últimas quatro décadas, sempre presente esta dupla “Madame&Polaco”. Estamos falando do “Speiches Rock & Blueskneipe”, na rua Raumer.Na foto, Carlos, from Moçambique-Berlim.
Carlos Delanane
Outro bar, este pelos lados de Steglitz, também aberto 24 horas por dia, com música ao vivo de vez em quando, é o Otto Schruppke, na rua Feurig, com gente bem diferente dos outros, mais locais. It’s the kind of the days of the Yankees who ruled this part of Berlin for more than 40 years. Our well-known musicians perform there from time to time.
Lógico que há muito mais bares com blues e rocks e jazz por esta Berlim sempre acordada. Tipo ainda por conhecer, como Yorchschloesschen, Terzo Mundo, Alt Stalker e tantos quantos. Os mais antigos, tipo Celtic Cottag, Acud, Soul Cat, Zosh e Zum Hecht. Outros meio escondidos, tipo o “Zum bohmischen Dor”, na rua Sander, onde é melhor chegar depois das dez da noite, principalmente nas noitadas musicais de quarta-feira. As fotos confirmam a presença do nosso amigo músico búlgaro, o Anto, ou Tonkata, ou sei lá o nome mesmo dele:
Anton Tonkata
Não podemos ainda esquecer do bar de música mais antigo, dos tempos dos americanos, na Bundesallee, desde os tempos dos norte-americanos, com música ao vivo todas as noites, sem cobrar ingresso, na maior. Quer dizer. Depois da Pandemia, acabou, fechou, finito. Ainda temos algumas fotos das antigas, agora que o Rickenbacker’s Music Inn virou um CD de lembranças:
Em compensação, temos descobertas novas, de outros tipos, mais locais, comportados, músicas de vez em quando, sem perder o espírito berlinense, tipo o “Rote Beete” (beterraba vermelha), na rua com uma decoração especial e cerveja checa de primeira no bem barato.
E os músicos que se tornaram amigos desta dupla “Madame & Polaco”? Before the first handshake – hug, in the Germanic style, takes even longer – Wir nannten sie beide, natürlich nur unter uns, mit Spitznamen wie Iuri, Ciganinho, Bráulio, Bonitona und so weiter. Na verdade, segue a lista, com a devida foto, dos mais próximos, hoje em dia, todos músicos amantes do blues, de forma amadora ou sonhadora do profissional do ramo, quem sabe uma noite dessas isto aconteça, tomada, vale o esforço deles e delas. São tantos e tantas. Entre eles e elas, Iuri, Angela, Carlos, Tom, Tim, Eva&Ed, Anto, Dimitri, Heinz, Andres, Lucas, Salah, Helmut, Leo, Kat, Julian, Kyria ..
Tob Chuey
Angela Cory
Ziska
Julian
Tom
Maria Eva & Ed Badelt
Kyra
Heinz Glass
Leo
Tim – Happy Dog Brown
Dimitry
Então, licença, tá. Continuemos, devagar, neste vagar pela noite de Berlim.
Tchau. Do widzenia. Bye. Auf Wiedersehen. Au revoir.
ATENÇÃO!
Todas as fotos são de minha autoria e podem ser usadas livremente.
All photos are for free use. If you want, put this:
To those who think of being resurrected at this faked Holly Week
À ceux qui pensent ressusciter en cette fausse Semaine Sainte
An diejenigen, die daran denken, auferstanden zu werden
Semana Santa uma Ova. Domingo de Ramos. Um bando de hippies liderados por Krysto, este montado num jumento, galhos de marijuana de tapete, entra ruidosamente em Jerusalém. Resultado. Quinta Dita Santa. Noite de farra no bosque. Krysto é negado pelos amigos, Pedro à frente, depois de dedurado por outro amigo, o Judas, que leva umas trinta moedas por fora. Sexta Dita Santa. Jota Krysto, depois de torturado de montão, é condenado à morte pelas mãos lavadas do invasor romano Pilatos e pela voz estridente do Zé Povinho em resposta ao rei judeu Herodes aos gritos histéricos de:
– CRUCIFICA ELE! MATA ELE! ESFOLA ELE!
O que importa, se é que alguma coisa ainda vale a pena, é que existe a Esperança – a última que morre, ah, então ela também morre, né? Que nem este papo milenar da Ressurreição do Jota Krysto e de tudo a seguir, includo a Vingança na Fogueira Medieval da Maldita Santa Inquisição. Por isso, nesta Semana Dita Santa, Ego, ex-noviço capuchinho, frei Hélio Ofmcap, sempre repito, às vezes até canso, a minha Eterna Prece Pascoalina. Ela pode, por suposto, ser lida, ouvida, repetida, copiada e usada à vontade. Até porque a Última a morrer – um dia morre, sim – é a ESPERANÇA:
Nem pensar, não sou burro. Acontece que Mãe Iara, da água doce, e Mãe Iemanjá, da água salgada, as duas me protegem desde sempre. Bebê ainda, polaquinho bonitinho, minha mãe Lola sai da igreja onde sou batizado e vai direto, com a amiga negra dela, para o olho d´água, onde sou novamente batizado, ao galho de arruda, e colocado sob a proteção da Mãe Iara. – E quem é ela, polaco?
Mãe Iara, gêmea de Mãe Iemanjá, eu tenho mais de uma Mãe, sortudo sou, pois ela, a Iara, é uma deusa índia conhecida por seduzir homens que se arriscam, na beira do rios, levando-os, bobos, para bem fundo.
– E daí, polaco?
– Daí, é lá com eles dois, né?
– Que mais?
– Quer?
– Quero.
Seguinte. Mãe Iara, a Mãe Iemanjá de água doce, é filha de um pajé e ela é conhecida como uma grande guerreira, tanto que os irmãos dela, índios machistas, decidem, por ciumeira, dar cabo dela. Resultado: ela mata todos eles. Está me seguindo? Com licença que vou cantar um cadinho:
– Dia dois … de fevereiro … dia de … Iara no rio …
– Polaco sacrílego!
– Sorry, mãe Iemanjá. O senhora saber que eu adorar o senhora Iemanjá, tão do pretinha, do bonitinha, mas eu ser da rio não ser da mar, salgado arranha meu pele de polaco.
-Tá! Você tem minuto para falar bem de mim se não te sereio aqui para meus seios, sei muito bem que você não resiste!!!
O nome Iemanjá tem origem yorubá onde “Yéyé Omó Ejá” quer dizer “mãe cujos filhos são peixes”.
– Muito bem, polaquinho, teu tempo em Cacha Prego, na Ilha de Itaparica, Bahia, não é em vão, ainda bem que os índios não te comem, que nem o bispo Sardinha, né, frei Hélio, pois saiba que eu te protejo, porque eu, Iemanjá, te quero só para mim, aqui no fundo do mar.
– Posso continuar, Mãe Iemanjá?
– Lógico, meu polaquinho mais doce do que o leite de coco.
Mãe Iemanjá é conhecida como a padroeira dos amores a quem recorrem os apaixonados, especialmente em casos de desafetos amorosos. Iemanjá é uma preta. Iara é uma índia. Ai que dúvida.
– Polaquinho!!!
– O que é, Madame?
– Falando com quem?
– Com minha segunda mãe, a tia Aline, aniversário dela é hoje, dia dois de fevereiro, ela, polaca dos Campos Gerais, casada com um Armênio paulista.
– Mande um beijo meu para ela.
– Quantas mães você tem, polaco?
– Quem está falando?
– Mãe Iara.
– Mãe Iemanjá.
– Mãe Luiza.
– Mãe Lola.
Oi, mães! Vocês por aqui, neste dia dois de fevereiro?
– Eduardinho!!!
– O que é, “mães”?
– Você quer vir para cá?
– Agora, não. Quem sabe um dia.
– Menino esperto este Eduardinho.
– Pensa que vai viver para sempre.
– Ele sempre teve medo de água do mar.
– De água doce também, quase morre num poço no Rio Verde.
MÃES!!!
– Quié, Eduardinho?
– Posso beber uma caipirinha, neste dia dois de fevereiro, em homenagem a vocês?
– Uma só,tá! Olha lá!!!
– Tá.
– Aposto que ele vai beber uma caipirinha para cada uma de nós.
Perto de casa, aqui mesmo na quadra, tem três mercados. Um, mais caro, muito usado no cartão corporativo nos tempos de Lula-Dilma. Outro, tão caro, mas com produtos bons. E, enfim, o mercado mais pobre, da turma das 400 – quem é de Brasília, sabe o que é isso. Bem no estilo carioca do subúrbio. Para mim, que já morei em Bonsucesso e na Tijuca, é o melhor dos três. É onde estamos agora.
Ao final das compras, na verdade quase nada, é mais pelo encontro, não tem mais sacola de plástico, cada qual com a sua bolsa debaixo do braço, na fila do caixa dos acima dos se senta – não, obrigado, senta você – chega o velho empregado que ajuda a embalar. Chega cantando, todo alegre. Cantando o que? Pois aqui começa a nossa prosa:
– Conheço esta música, meu amigo.
– É Cartola.
– Não.
Depois de várias jogadas, a fila da velhice, no mercado estilo subúrbio do Rio, afinal, os prédios de três andares, sem elevadores, nas 400, foram destinados aos empregados tipo ascensorista, faxineiro, contínuo e outros nobres obreiros que fizeram Brasília, mas sem direito a morar nos prédios das 100, 200 e 300 – todos com seis andares e oito elevadores, cada um.
– Bom, polaco, volte à prosa na fila dos velhos.
– Seguinte, gente. Ele está cantando uma música da Maria Bethânia.
Para que. Foi uma farra danada por parte dos velhos, senhoras e até duas senhoritas na fila porque são arrimo das avós presentes, alquebradas mas coerentes.
– Polaco sem vergonha. Conta outra.
– Posso falar?
– Um minuto!
– Nosso amigo aqui, auxiliar do mercado, gente fina, está cantando a música Loucura, do mestre gaúcho Lupicínio Rodrigues. A mesma música que eu estava ouvindo em casa, antes de escapar de Madame só para me encontrar com vocês aqui, e depois ali no botequim, pois então, a mesma música estava sendo cantada pela baiana Maria Bethânia.
Pronto. Recebo no ato o abraço da velhinha mais próxima, o sorriso da neta, e o reconhecimento do resto. A gerente, novinha, moreninha, a gracinha de nós velhos, só olhando, sorrindo, ela tem duas filhas pequenas, todos demos lembranças:
– Os tios não acham que está na hora de andar um pouco por aí?
– Sim, senhora!!!
No lado de fora, a conversa sobre Lupicínio Rodrigues continua, com a participação até do auxiliar do mercado, conhecido de todos, ajuda no carrinho até o apartamento das mais necessitadas e tudo. Pois todos trocamos informações, tais como:
1 – Discos completos só com músicas do mestre Lupicínio. Tem um da Adriana Calcanhoto, com 17 músicas. Outro com o Noite Ilustrada. Com Ayrton Montarroyos. Com o Roberto Menescal. A peça de teatro Vingança – o Musical, só com músicas do mestre dos pampas. Sem contar o disco Grandes Compositores – Lupicínio – Soft Orchestra.
– Chega, gente. Preciso ir.
– Ih. É mesmo.
– Tá com medo da Madame, Polaco? Volta …
– Ih. Esta música eu adoro na voz da Gal. Maior “Felicidade”, esta na voz do Caetano.
– Eu gosto da música do Lupicínio “Se acaso você chegasse”, na voz da Elza.
– Nervos de aço!
– Êpa, meu. Esta é do Paulinho da Viola.
– É o que você pensa, carioca vice de São Januário. Pois Nervos de Aço é do Lupicínio.
Foi assim. Até que cada velho, ou jovem senhora – somos educados – foi saindo, devagar, por suposto, mas todos cantando, cada qual a sua música predileta do grande Lupicínio.
Chego em casa, desta vez sem parar no boteco, mais do que atrasado, sabe como é…
– Estava onde, polaquinho?
– Agora não posso falar.
– Por causa de que?
– Alexia!!!
– Sim, meu polaco.
– Toque tudo do Lupicínio Rodrigues.
– “Se acaso você chegasse no meu chateaux
Encontrasse aquela mulher que você gostou.
Será que tinha coragem de trocar nossa amizade
Por ela, que já lhe abandonou?”
– Alexia!!!
– Quié?
– Muda!!!
E Madame:
– Acho bom!
Em Brasília, 08h54m desde 01/02/23. Ah. Este post vai para meu amigo de Alegrete, o gaúcho escritor e viajante, o Marçal Alves Leite. Com o adendo, velho gremista:
– A penúltima faixa do disco “Loucura”, da Adriana Calcanhoto, só com músicas do Lupi, pois então, a penúltima é justamente o Hino do Grêmio, escrito justo pelo Lupicínio Rodrigues.
Já está nas bancas de jornais (?) nosso novo livro. A Berlim do Pandemônio também pode ser lida no formato e-book (?) nas principais distribuidoras, em todo o mundo. Ou encomendado para impressão. Assim, economizamos papel. Outra coisa: as trinta primeiras páginas podem ser lidas, totalmente de graça. Basta clicar no link (?) abaixo, do Clube de Autores. Que mais? A Sinopse do livro, a original, adiantamos aqui:
Um grito no pé da orelha
Nosso diário íntimo nesta Berlim do Pandemônio foi escrito pela dupla de risco Polaco & Madame, por termos mais de 70 anos de Ida, aliás, bem vivida.
Ele mostra o que acontece com a gente nos meses de março, abril e maio do ano do Rato, 2020, enquanto confinados em Berlim.
Continua nos meses de setembro, outubro e novembro do ano do Tigre, 2022, na mesma Berlim, agora na condição de libertos.
O espaço do tempo (junho de 2020 a setembro de 2022) passado em Brasília, totalmente presos, preferimos deixar no modo silencioso. De fato, ainda continuamos na insegurança e inquietude em cima do infindo porvir cheio de pânico e incerto medo, certo?
Justo Berlim porque é nosso pouso rotineiro nos últimos tempos, na verdade desde antes da queda do famoso Muro que dividiu, por mais de meio século, esta capital do Ano Zero, assim chamada por causa da quantidade de vezes históricas em que caiu de quatro, completamos agora, com a volta, na procura dos bares e amizades, algumas desfeitas na insistência do Pandemônio.
O reencontro, depois de dois anos passados reclusos, em Brasília, dos amigos nos mesmos bares que ficaram fechados por quase 800 dias, em Berlim, isto não tem preço, e isto procuramos descrever exatamente como aconteceu, repassado no mesmo dia ao manuscrito, aqui para esta Berlim do Pandemônio.
Que esta nova leitura sirva de comparo de comportamento na batalha adotado pelos arianos, lá, e por nós, ladinos, cá. Eduardo Mamcasz & Cleide de Oliveira, somos sobreviventes em união instável desde 1980. Já passamos por mil e um riscos. Alguns exemplos:
1 – No começo do namoro, há mais de 40 anos, despencamos de carro na cachoeira do rio das Almas, interior de Goiás, numa madrugada de lua cheia. Sim.
2 – Quando explode a usina nuclear de Chernobyl, esta dupla de risco estava a poucos quilômetros da fumaça que se espalhava pela Europa Ocidental.
3 – No então lento trem, de longa distância, no interior da China, compartilhando os beliches no imenso vagão, éramos os únicos brancos, justo no dia em que o piloto do avião espião ianque derruba o avião chinês, e por isso o agente comunista nos confunde, exigindo uma forma de contar rápido, para os demais passageiros, que somos brasileiros. Aí, mudou.
4 – A pé, meia noite, na travessia da ponte fronteiriça entre a Guatemala – chegamos de ônibus – e o México, passamos pelos guardas ávidos por uns dólares, até pegarmos o lotação lotado para o centro da cidade indescritível.
5 – Passamos sete meses longe de Brasília, no vagar sem destino, Do Alasca a Jerusalém – rendeu uma série de livros – pena que o tempo voa rápido, sempre no sentido da volta.
6 – No rio Ganges, na Índia, na mesma canoa, vemos o guia beber a água com as mãos, enquanto um cadáver, amarrado nos bambus da derradeira jangada, sem condições de pagar a cremação, passa por entre nossos dedos incrédulos na mente.
7 – Lógico que contamos com momentos incríveis na lembrança, tal comer poeira, de carro, no interior do Alasca ou, na então Leningrado, Rússia, dezembro, andar a pé por cima da água do mar, por conta dos 20 graus Celsius negativos.
Então, siga o nosso relato, por vezes mórbido e cruento, desses Dias de Ira em que relatamos a nossa insegurança e inquietude do por vir.
No ano do Rato, 2020, fomos a Berlim em março e voltamos a Brasília em junho, fazendo tudo na hora errada, até porque voltamos do Piso, lá, ao Pico, aqui.
No ano do Tigre, 2022, voltamos para Berlim, na fase de liberação coletiva, depois de dois anos, parecidos com séculos, morrendo de medo de sermos dois entre os quase 700 mil mortos pela Covid no Brasil.
Boa leitura a todos os nós confinados, ditos libertos, que enfrentamos o mesmo vírus lazarento, morfético, filho da puta, dito no início nascido dos morcegos lá na China, e que na verdade matou, de verdade, milhões ao redor do mundo. Pior. Ainda continua matando, mas sem a mesma intensidade. É o que todos esperamos, mas sem uma certeza total.
Portanto, nós somos uns privilegiados e temos direito ao grito retido desde dezembro de 2019, hoje explodido:
– E S T A M O S V I V O S ! ! !
Pois agora, se quiser ler as primeiras trinta páginas do livro A Berlim do Pandemônio, de graça, ou encomendar o mesmo, modelo e-book, ou mesmo impresso, clique abaixo:
Pois então. Finados. Nome mais feio, sô. Passados. Enterrados. Retornados ao Pó Nosso de Cada Dia. Prefiro COMEMORAR à moda polaco-baiano-mexicano. DIA DE LOS MUERTOS. Bora festejar? O que? Ora. Hoje, eles estão melhor do que nós.
Resumo desta prosa polaco-baiano-mexicano. Dia de Comemorar os Mortos. Justifico. Há meio século que não tenha mais mãe. Foi. Há 30 anos, Pai. Foi. Irmão querido. Foi. Tias, avós, porrada de amigos e amigas. Foram. Ou estão por aí? Deixa eu dar uma olhada:
– Fala logo, polaco!!!
Pois falo. Prefiro a lembrança, neste Dia dos Mortos, jamais Finados, dos velórios de que “tive a honra de ter participado”, na condição de vivo.
Primeiro, lembro os velórios na Bahia, Nordeste, onde “bebíamos o morto”. Isto. Cachaça pura. De noite. Não demais para não dormir e acordar dentro do caixão. Uma vez até aconteceu. COM MIGO!!!
Segundo, os velórios familiares no Sul Maravilha, na comunidade polaca que, diziam os brazukas, “não tem bandera” ao que a gente respondia: “mas tem pau pra brasilêro”. E que mastro!
Ah. No velório de polaco, muita vodka, lógico, pode até dormir que o morto não reclama, o costume, lá pelo final da madrugada, era somente um e mais nada e pronto e escuta só:
– Está na hora, genta, do sorteio de quem vai ser o próximo a morrer. Ganha, quer dizer, perde, quem tirar o número maior deste chapéu da tia Zefa, que tá morta ali.
Terceiro, o melhor Dia de Los Muertos mesmo é o do México, com muita tequila (mais forte do que a cachaça nordestina e da vodka polaca). Muita música. Muita festa na rua. Muita comida. Nove meses depois, a Vida continua, né mesmo?
Então, gente, hoje, dois de novembro, todos cantando junto:
– Um Bom Dia dos Mortos. Para Você. Para mim não vai ser tão cedo. Quer dizer.
Em 2020, Ano do Rato, ficamos presos em Berlim, no pique da Corona-China. Voltamos para o Brasil num vôo de emergência. Agora, 2022, Ano do Tigre, estamos de volta. Berlim continua a mesma? Não. Tem mais gente dormindo na rua. Por isso o título: DO INFERNO AO INVERNO EM BERLIM. VERÃO. Então nos siga nesta continuação do nosso livro “Diário Pandemônico – Berlim Ano Zero.”
Pandemie-Tagebuch – Berlin Jahr Null.
Im Jahr 2020, dem Jahr der Ratte, waren wir in Berlin gefangen, im Hecht von Corona-China. Wir kehrten mit einem Notflug nach Brasilien zurück. Jetzt, 2022, Jahr des Tigers, sind wir zurück. Ist Berlin immer noch dasselbe? Nein. Es gibt mehr Menschen, die auf der Straße schlafen. Also der Titel: FROM HELL TO WINTER IN BERLIN. Dann folgen Sie uns in dieser Fortsetzung unseres Buches “Pandemie-Tagebuch – Berlin Jahr Null”.
From Hell (Inferno) to Winter (Inverno) in Berlim.
In 2020, Year of the Rat, we were trapped in Berlin, in the pike of Corona-China. We returned to Brazil on an emergency flight. Now, 2022, Year of the Tiger, we’re back. Is Berlin still the same? No. There are more people sleeping on the street. So the title: FROM HELL TO WINTER IN BERLIN. SUMMER. Then follow us in this continuation of our book “Pandemic Diary – Berlin Year Zero.”
Velho polaco baiano, estou agora de novo em Berlim (2022 – Ano do Tigre). Primeiro Mundo? Mais ou Menos. More or Not. (+ or -). Ôxe. Traduza-me, Gúgui. pro Alemão, tá? Volto acá depois de dois anos. Na última, saio abatido (2020 – Ano do Rato), depois de três meses preso no pico da então “Coronachina do Morcego”. No ora, cada reencontro é um abraço caloroso. Coisa rara no espírito germânico. Você? Vivo? Ya! Sim! Yes! Nossa! Uau! Outro abraço. Quem diria.
Mas tem as ausências, tipo a “Bonitona”, o “ Mãozinha”, ainda bem que ontem, no Sandman, encontro a “Russinha”, no antes bela na guitarra do rock e hoje cadente. Pergunto: E aí? E ela: sabe como é. E eu: Não pense no hoje. Espere o Amanhã. To morrow. Não morre. E completo: Posso te abraçar? Ela praticamente desmaia em meu abraço. Ao lado, o “Ciganinho”, dez anos em Berlim, vindo do interior, do lado ocidental, nos olha. Ele ressurge aos poucos. Prepara novo disco. Para quando? Ano que vem, 2023, no Verão. Agora, Inverno. E eu: Inferno. E ele: Posso usar isto no próximo disco que estamos preparando? Lógico. Dank. Imagina, meu. Mas usar o que meu caro Tim K?
DO INFERNO AO INVERNO EM BERLIM. VERÃO!
Gente. People. Cara. Mina. O que eu quero, mas não começo, na dúvida, a falar aqui, agora, não é nada disto, mas o que acontece na saída do Sandman, noitada de toda segunda, aliás, quando a gente ressuscita, na chegada, dois anos purgando o fechamento, filho do dono, no balcão, só falta largar tudo e vir nos abraçar.
– Vocês? Vivos?
– And you???
Quando o pai dele chega, o Helmut, fala no ouvido:
– Vai lá e abraça este casal brasileiro de volta.
– Vivo?
Ora. Revividos. Por pelo menos mais três meses. A prima cerva é por nossa conta. O preço subiu. Sabe como é. A Corona. Outro abraço. E a vida continua. Nós, na mesma mesa de antes. Mas o que eu quero mesmo falar aqui neste reblogado é o seguinte:
Estamos de saída, rua escura, perto do meio da noite, Neukolln, bairro tido turco, a caminho do metrô, linha não considerada segura, por conta dos usuários, nem todos migrados, verdade se diga. Após o tapume da obra, no quase escuro, escadaria abaixo, frio medido na garganta, encontro-me com na re-volta, ao contrário, pois no antes, acá em Berlim, sempre me entendi com as crianças. Agora, entendido estou com as velhas sobrevividas. Pois este é o fato. Volto pois ao início do dito deste Ano do Tigre (2022), nem tanto, ainda não redimido do Ano do Rato (2020). Pois recito o havido nesta meia-noite acá em Berlim dos sempre quase Mil e Um Anos:
Na descida da escada, no meio de jovens pseudo-hippies-nerds-punks-etc&tais, ladeio-me a uma senhora, velha, decaída, sim, mendiga da noite e da rua. Ela tenta cada degrau abaixo, apoiada no carrinho cheio de coisas catadas no lixo, viu, Berlim não é Primeiro Mundo. Lógico que eu estaco, encosto, olho nos olhos, ofereço ajuda para a descida da velha mendiga alemã, ela, lógico, não entende meu brasileiro nem eu o germânico dela. Quer dizer. Na hora, em dois gestos, tudo fica claro. A mendiga alemã (no gestual):
– Pode deixar, polaquinho. Eu consigo descer sozinha. Obrigada, tá.
E eu, polaco baiano:
– Tudo bem, mina. Pense no Amanhã. Não no Ontem, muito menos no Hoje. To Morrow.
Eu fui. Ela veio, bem no lentamente. Lá na frente, na espera do metrô, mais demorado no começo da madrugada gria, eu sentado ao lado da Ma Dame, a quem conto o Corrido, de repente passa pela gente a Querida Velha Mendiga Alemã. Ao lado dela, o carrinho com os achados no lixo, que também serve de muleta. Pois agora confesso a minha emoção nesta volta a Berlim, depois de dois anos daqui saído no Pique da Covid.
Concluo:
Ao passar por mim, agora sentado, a Velha Senhora Mendiga Alemã, aqui em Berlim, 2022, Ano do Tigre, pós Pandemia, ela elegantemente me faz um sinal, com a mão direita, livre da bengala, que entendo de imediato como de Amizade, Agradecimento, Reconhecimento, sei lá o que mais. Nobre, a velha senhora mendiga berlinense alemã se volta para mim e sussurra:
Cuide bem de Madame porque aqui é muito perigososo para gente de bem que nem você.
O turco, o indiano, a ucraína, o sírio, o africano e os representantes das 190 nacionalidades perambulante em Berlim, eles continuam indiferentes, bem germânicos. Postados ao longo da estação, eles não percebem. Ou fingem. Eu só sei de uma coisa. Nesta noite, ela, a velha senhora moradora de rua neste Inferno de Berlim, com certeza, vai dormir sonhando comigo. Espero que minha ação a aqueça de alguma forma. Porque está frio. No Corpo e na Alma.
Manhã desta sexta dita Santa. Uma ova. Pós uma noite em que o J.Cripto é, primeiro, negado pelos mais íntimos amigos, Pedro à frente, este, por três vezes, pelo menos. Isto, depois de ter sido dedurado pelo outro amigo, o Judas. Daí, preso e torturado a noite inteira, de quinta para esta sexta. Mais. Largado pelos amigos judeus. Lavado, às mãos, pelo invasor Pilatos. Crucificado pelo judeu Herodes, o dito rei. Entre dois ladrões. Assim determinado pela voz do Zé Povinho:
– Crucifica-O !!!
Para piorar meu ínfimo hoje astral, consigo terminar a leitura do livro da romena Herta Muller: FERA D’ALMA. Suábios que não conseguem emigrar de volta para a Alemanha por conta da ditadura comunista. E dos filhos dedurados por mães que dão para o agente sinistro que joga o cachorro para cima da presa violentada. Enfim, confesso, termino o livro, às lágrimas, na página 249, com este terrível dito-escrito-reelido:
“ Quando ficamos em silêncio nos tornamos desagradáveis; quando falamos nos tornamos imbecis. ”
Mas não posso me findar nesta Sexta da Paixão (qual?) sem algumas das outras fortes frases rabiscadas ao lápis por mim e por Madame. Por exemplo:
– Amar alguém com medo (página 41);
– Ela chorou porque acreditava no que ela pensava (página 51);
– A fera de sua alma, ela está se mudando para o nada (página 87);
– Ela não tinha nada além do seu segredo, ou seja, tudo (página 153);
– Eu não fecho minha boca porque dentro de mim ainda bate um coração (página 183);
Enfim, o fim, afinal:
– Seis semanas depois da partida da Romênia, Jorge está deitado no asfalto em Frankfurt, na sonhada Alemanha, cedo pela manhã. No quinto andar do abrigo provisório para refugiados, há uma janela aberta. No telegrama para a mãe o escrito: Morte Súbita.
(Tudo isto ao som do Elvis Presley só no gospell, tipo assim: There will be a peace on the valley someday for me. Yeh???).
Madame, mais ainda. Juntos, nós dois temos o maior orgulho disto. Depois de quatro dias com a GLOTE quase fechada, no caso a da Madame, vamos ao Posto UBS-SUS, aqui no quintal de casa, Asa Sul da Bras-Ilha. Bora testar, gente! Sem marcar nem pagar nada. In loco, ar livre, gramadão, três espaços distintos: 1- Vacina Covid; 2- Teste Covid; 3- Espaço do Pós. Exercícios físico-psíquicos.
À chegada, 07h48m deste Dia de Iemanjá, Salve-Salve, está tudo auto-organizado, sem a participação dos funcionários, estes no chegando, afinal, tudo recomeça a partir das 08:00. De um lado, a fila intitulada dos “aborrescentes”. Do lado ao lado, a turma autoclassicada dos “jovens”, a partir dos 60 anos de ida. Na chegada de uma dona nos 84, todos lhe damos o direito de passar à nossa frente, com a posse da cadeira e tudo. Cedida, neste caso, por uma bela “aborrescente”.
No logo após o nosso posto, este casal polônico-pernambucana, estaciona um “jovem” atleta cearense, ciclista de longo curso, nos 68 anos de ida, especialista em bike somente pela praia, diz que só falta fazer o trecho de Porto Alegre-RS até o Uruguai, muito do conversador, só não vou com a cara dele depois que Madame me assopra neste ouvido polaco, sinto-me rebaixado:
– Florzinha! Olha só o corpo dele.
Continuando, agora já no lado de dentro:
– Por que o senhor está aqui junto com a Madame se não foi chamado ainda?
– Por que ela é minha!
– Hein??? Já lá para fora e aguarde. Machista!
– Pode deixar. Ele é meu polaquinho. Tudo bem.
– Neste caso, por causa da Madame, faço uma ficha só. Primeiro, a senhora. Sentindo o que?
– Uma dor aqui na garganta, quase fechando tudo. Difícil engolir.
Pois vamos em frente, todos agora com as devidas senhas, um número bem maior para os “jovens” e o normal para os “aborrescentes”, motivo de piadas mútuas mas respeitosas. E começa a chamada: Senha número 1 especial. Na sequência: Senha número 1 normal. Prá quê. Os dois lados unidos, netas e avós personas, exigimos mudança na forma da chamada.
– E o senhor, deixa eu ver aqui na sua identidade. Que nome é este? Sentindo o que?
– Saudades.
– Hein??? Do que?
– Tem cinco dias que eu não posso dar beijo de língua na garganta de Madame.
Vamos em frente. Já estamos sentados, lado de dentro do quiosque, Madame na minha frente, nesta ida ao SUS para ver se somos um casal positivo ou negativo. Senta. Tira a máscara. Só no nariz. Boca fechada. Levanta a cabeça. Baixa um pouco.
– VAMOS???
– Fala baixo, mocinha, bela enfermeira, porque Ma Dame, aqui na frente, se ela escuta você me convidando, sei lá para onde, não tenho nada com isso.
Para que, gente. A enfermeira do SUS enfia o cotonete, molhado num tal de reagente, dá vontade de espirrar na cara dela, e na sequência enfia o mesmo no outro meu buraco, do nariz, lógico, mais fundo ainda, sussurro, não aguento, gemo um pouco mais alto, tanto que acordo Ma Dame à frente:
– Que foi, meu polaquinho. A moça aí está cuidando bem de você?
– Tá sim, Florzinha, ela é uma amor de menina.
– AINDA BEM!!!
Agora, todo mundo do lado de fora, aborrescentes e jovens, misturados, na conversa ainda animada, à mínima distância, no aguardo dos resultados, coisa de uns 20 a 30 minutos. Lógico que existe uma certa tensão, difícil tesão, ainda que possível diante da aborrescente quase loira, alta, bonita, que conta para as “jovens” sobre o pai que chegou nesta semana, do interior do Piauí, e trouxe, olha só, um jerimum amarelo, bem comprido, só porque sabe que eu adoro o purê de abóbora amarela. Ainda que agora, por causa desta dor aqui na garganta… Daí, ela é interrompido porque começa a chamada para entrega dos resultados dos exames:
– Fulana de tal.
– Fulano do qual.
Trata-se, neste caso, do sexagenário ciclista, aquele do corpo atlético observado pela Madame. Ao chegar à enfermeira, ela se demora em explicar algumas coisas, gestualmente, na hora todo mundo percebe, desolado, que o resultado do exame dele é positivo, tanto que logo após nós nos aproximamos dele, na distância de quase dois metros, e lhe damos força, e lamentamos porque ele havia contado, pouco antes, que se o exame desse negativo ele ia sair direto para a sessão de massagem. E lá se foi o sexagenário atleta ciclista, visivelmente amuado. Não é para menos.
Nas chamadas seguintes, entre a simples entrega do atestado negativo ou da parada para algumas palavras para alguém positivo, no caso, muito chato porque é no teste para ver se está mesmo com esta merda de Covid, acontece outro astral coletivo rebaixado quando justo na simpática mocinha do Piauí, do purê de gerimum amarelo a enfermeira começa a falar com ela. Na platéia, é nítida a sensação da vontade de dar uma força especial.
Vamos em frente, desculpe a demora mas a tensão aumenta, no sentido pessoal, deste casal, tesão nesta hora sei lá onde se foi. Pois então. Cleide de Oliveira!!! Ma Dame. Lá vai ela, ainda com a dor na garganta. Pega o papel e segue em frente. A enfermeira não fala nada. Me dá uma vontade, gente, de pular em cima dela, ali na frente de todo mundo, e dar aquele festivo beijo de língua que alcance lá no fundo da garganta quente. Mas me seguro. E nada de chamarem o meu nome. Seguem umas cinco na minnha frente. Opa. Agora ela me chama:
– Eduardo Mam… Mamc….Mam-cá…
– Sou eu. Pode falar. Estou preparado.
– Como se fala este nome esquisito?
– Mám-tcha-zen.
– Toma.
– Não vai falar nada?
– Não. Por que?
– Nada…
– Olha lá aquela mulher bonita te chamando.
Pois vou “corendo tudo”, como se fala em polaco, porque Zéfa “tá no meu espera”, ainda mais agora eu sou uma PESSOA NEGATIVA. Chego no “pé cá outro já lá”, boca aberta, braço estendido, de olho na língua dela, até que a mão forte de Madame me segura nos beiços e ordena:
– Agora, não. Não vê que tô fumando?
– Então, tá. Mas você está parecendo…
– Com que?
– UMA PESSOA BEM NEGATIVA.
– Vamos, polaquinho.
– Fui, né. “Corendo tudo. Pé cá outro bem lá.”
Mil graças, minha Iemanjá, porque hoje é dia Dois de Fevereiro. Só falta o mar nesta Ilha. Tem nada não. Está vendo como vale a pena ser uma Pessoa Negativa? Com todo respeito e força à tanta gente no Positivo. Vai passar.